A LISTA RISCADA À LUZ DO SEGUNDO GRAU DE HUMILDADE PARA O CONGREGADO

O segundo grau da humildade, conforme Santo Inácio, nos convida a uma mais perfeita humildade, aquela que ainda não é a totalmente perfeita, mas suficiente para nos provocar uma verdadeira reflexão sobre nossa pertença à Congregação Mariana. 

O apelo está no sentido de nos tornarmos indiferentes às coisas criadas. Isto é, não preferir a saúde à doença, a riqueza à pobreza, o ter ao não ter, a honra à desonra, a vida longa à vida breve, aceitando, porém, tudo o que for disposto como um verdadeiro desígnio de Deus para nossa própria santificação.

É difícil que coloquemos em prática a humildade imperfeita, aquela do primeiro grau que, apelando às nossas considerações mundanas, nos convida a, usando réguas humanas, considerarmos que não vale a pena perdermos nossa Salvação por causa de qualquer coisa que se nos ofereça ou que se ameace nos tirar. Convite a sermos impassíveis diante das tentações do demônio, como foi o próprio Nosso Senhor para dar o exemplo perante as ciladas armadas pelo maligno em suas tentações durante os quarenta dias no deserto. Se nos prometem conseguir coisas, castelos, riquezas, méritos diante dos homens, isto não deveria de forma alguma nos seduzir e nos corromper do caminho da Graça. De igual forma, nem que nos ameaçassem tirar qualquer coisa, a paz, as coisas, a própria vida, isso não nos demoveria de nossa meta.

Mas aqui falamos de uma ainda mais perfeita, que é a base de nossa meditação. Aquela que torna o humilde completamente indiferente às coisas. Tanto faz viver ou morrer, ser rico ou ser pobre, ter bens ou não, ter saúde ou não, ter honra ou não, desde que tudo o que me for posto sirva para minha própria salvação. Não falaremos do primeiro grau e nem do terceiro, que é totalmente perfeito, nos atenhamos a este segundo.

Lançaremos estas luzes sobre as coisas de sua vida como congregado para que você medite algo importantíssimo, algo que lhe fará decidir se deve ou não sê-lo. Não tem problema se depois de meditar com sinceridade você resolver não mais sê-lo, aliás, será o melhor a fazer. Procurar seu presidente, devolver-lhe a fita e o manual. Agradecer pelo tempo passado juntos.

Admirar a Congregação e ser congregado são coisas distintas. Aqui você encontrará esta via bifurcada que lhe obrigará a tomar uma decisão.

PREÂMBULO
Tome um papel e uma caneta e liste algumas coisas que você ama na Congregação. Coloque-as num papel sem ordem de importância. Vamos, vá escrevendo e vou lhe ajudando: a fita azul e a medalha? Se sim, escreva. Que mais? O manual devocionário, a bandeira, as reuniões, a fórmula de consagração, a lembrança do dia em que você se colocou de joelhos diante de Nossa Senhora e tornou-se congregado, o seu cargo na Congregação, as Missas de Comunhão geral. A saudação Salve Maria, o exame de consciência cotidiano, sua roupa de Missa, as conversas que teve, as instruções que recebeu. O que mais vier em mente, qualquer coisa, que você ame na Congregação. Liste tudo e lhe darei mais alguns minutos.

MEDITAÇÃO
Neste mesmo papel, olhe para cada uma destas coisas listadas de uma modo geral e depois volte para a primeira. Olhe bem para aquela palavra: "FITA AZUL". Bela coisa! Nos toca o afeto no fundo do coração. "Ó minha linda fita azul". Ah, mas aqui está verdadeiramente uma coisa. Se na humildade mais perfeita Deus nos convida a sermos indiferentes às coisas criadas, devo descobrir como se move minha alma se fizer o seguinte:

Cada uma destas palavras que representam coisas da Congregação que amo, meditarei, pensando na coisa em si e o que significa para mim.

Deste modo, ao ler "FITA AZUL", pensarei nela, nas vezes que a coloquei em meu pescoço, nos momentos bons em que vivi com ela, quantas orações fiz usando-a.

Tomando a mesma caneta com a qual escrevi a palavra, a riscarei totalmente, de modo que não possa mais lê-la. Ao fazer isto, provocarei em mim o sentimento como se tal coisa deixasse de existir na face da terra.

Feito? Doeu? Aposto que sim. Esta dor é o que nos falta para sermos humildes. A dor de separar-se das coisas criadas, de sermos indiferentes a elas. Exemplificamos com a fita antes porque é uma das maiores dores, já que a amamos tanto. Sem ela, você continuaria sendo congregado? Responda para si, não para mim. Tudo bem se você provocar tanto em si o sentimento de perda que lhe corra umas lágrimas dos olhos.

Faça a mesma coisa com todas as palavras de sua lista. Olhe a palavra, pense em seu significado afetivo e risque-a, pensando como se o risco fosse seu desaparecimento. Depois medite: sem isto, eu continuo sendo congregado mariano? Faça isso até o fim da lista.

CONCLUSÃO
Você chegou ao fim da lista? Parou pelo caminho porque não conseguiu ir adiante sem admitir com dor que não conseguiria? Aqui está sua resposta.

O Congregado não existe por causa das coisas, sua vocação se encontra acima delas, no alto, nas coisas sobrenaturais. Muitas vezes transferimos nossa meta para os entes criados e deixamos os fins mais elevados relegados a segundo plano. Daí vem tantas murmurações por causa das coisas porque as perdemos ou não as temos. Aí está a origem das perturbações. Deus não nos convidaria a uma humildade mais perfeita se isto não nos fosse bom. Considere, congregado, como todas as coisas que estão à sua disposição bem lhe servem à Salvação Eterna. Mas, se um dia, tudo lhe for tirado, não seja isso a esmorecer sua vocação pela busca de nosso sublime ideal celeste.

COLÓQUIO
Para com a Virgem Maria, a quem nos consagramos, para que interceda junto a seu Filho e nos permita ordenar em nós os nossos afetos perante as coisas criadas, nos tornando indiferentes a elas. Fazendo bom uso quando as temos e não nos lamentando quando não as temos, compreendendo que ter ou não ter, são igualmente desígnios de Deus para nossa Salvação Eterna.