BREVE HISTÓRIA DA C.M. NO MUNDO

Extraído do Livro "Breve História das CC. MM", de Antonio Maia, de 1961.

1 - DIQUE À CORRUPÇÃO E À HERESIA

As CC. MM. não apareceram de salto na História, nem foram logo desde o começo inteiramente o que hoje são. Tiveram naturalmente os seus precursores, sua gênese e sua evolução gradual no espaço e no tempo. Sabemos que na metade do século XVI não era demasiado lisonjeiro o estado da Igreja: urgia opor um dique à corrupção e à heresia, lançando aqui e ali no seio da sociedade cristã focos de piedade e de boas obras. Nasceram assim, frutos de zeloso apostolado, associações pias que visavam a reforma dos costumes e o culto à Virgem Santíssima, tão atacada pelo protestantismo.

2 - NOSSO "AVÔ" SANTO INÁCIO

Em 1563, foi fundada a primeira C. M. no mundo. Anteriormente, porém, já os padres da Companhia de Jesus possuíam associações parecidas, com as quais conservavam e dilatavam os frutos de suas pregações na Europa. Assevera-se mesmo que Santo Inácio de Loyola tinha uma associação de 12 homens que se reuniam semanalmente, davam esmolas aos pobres e obedeciam a certas Regras próprias. E, como é óbvio, os demais padres, seguindo o exemplo do fundador, organizavam associações semelhantes: eram para adultos, em geral, e tinham Regras especiais que os obrigava a obras de zelo, de caridade, bem como a assídua frequência aos sacramentos. Convém notar que, embora a devoção à Virgem Santíssima constituísse exigência especial em tais associações, não eram, porém, chamadas Marianas e tão pouco Congregações como o foi mais tarde a que se fundou no Colégio Romano. E anteriormente ainda a essas associações fundadas por Santo Inácio, existiam na Itália muitos outros sodalícios da Virgem Santíssima, geralmente denominados "Colégios da Virgem Maria" e se supõe, com muitas razões, que o Pe. Jean Leunis, fundador das CC. MM., teria pertencido a uma dessas associações em sua juventude, um pouco antes de ingressar na Companhia de Jesus. A maior prova, porém, de que Santo Inácio é nosso 'avô' no-la dá o Pe. Jerônimo Nadal, que no ano de 1549, assim lhe escrevia da Sicília: "Uns 60 cristãos fervorosos juntaram-se para formar uma especial Confraria, cujo fim será socorrer os presos e pobres envergonhados; pedem-me auxílio e orientação para se regularem e à sua obra. O número deles aumenta cada dia, e empregam todos os esforços em tornar-se aptos para trabalhar na maior glória de Deus e para edificação comum". E de fato fundou-se a associação no dia da Assunção da Virgem. Quem negará que estava aí delineado a primeiro esboço das CC. MM.?

3 - NOSSO FUNDADOR

No dia 3 de maio de 1556 apresentou-se a Santo Inácio — vindo a pé da Bélgica até Roma — um jovem flamengo, natural de Liége, chamado Jean Leunis, desejoso de ingressar na Companhia de Jesus para servir nas Índias. Embora pertencendo a uma família de recursos e sendo formado em Humanidades e Retórica, sua única bagagem era um "Pequeno Ofício" que trazia com muito cuidado numa escola de viagem juntamente com alguns alimentos. "Com sua velha camisa, seu chapéu de feltro enxovalhado e seu par de sapatos já comidos de uma banda", mais parecia um peregrino em demanda dos Lugares Santos. Tímido, ingênuo, com seu caráter um pouco esquisito, suas dificuldades nos estudos, suas enfermidades e, sobretudo, com as vicissitudes de uma formação religiosa movimentada, Jean Leunis parecia não apresentar nenhuma das grandes qualidades que fazem um verdadeiro líder ou fundador, a não ser, talvez, uma constância de ferro e uma certa exaltação de sonho, que é o apanágio dos maiores realistas.

4 - ACEITO NA ORDEM

Aceito na Ordem, pode logo depois dedicar-se à juventude na função de Mestre. Parte de seus ideais estava agora concretizada. Em 1563, é ordenado sacerdote, em 1583, fez a sua profissão solene. O tempo de Noviciado havia sido feito em Perúsia, Montepulciano, Saboia, Annécy, Paris e Roma. Uma tuberculose óssea, que o minara toda a vida, impediu-o de partir para as Índias fazendo com que sonhasse, como primícias de seu apostolado, com a fundação de alguma "companhia" ou "Congregação" em que pudesse realizar o fruto alcançado pelos primeiros companheiros de Santo Inácio. A 19 de novembro de 1584 faleceu em Roma. E menos de um mês depois Gregório XIII confirmava com o título de Primaria, a C. M. fundada pelo Pe. Leunis em 1563.

5 - A PRIMEIRA C. M. DO MUNDO

Jean Leunis esteve em Roma entre 1560 e 1564 lecionando ínfima Gramática no Colégio Romano. No ano de 1563, seguindo a tática mestra de Santo Inácio — a escolha e a cultura de uma elite influente e trabalhadora — o vemos reunindo os melhores dentre os melhores alunos externos das classes inferiores — "chamavam-se classes inferiores aquelas onde se estudava Gramática ou Humanidades, exceto Retórica" — explica o Pe. Sacchini, historiador da Companhia de Jesus. E continua o mesmo historiador: "Assim pois, os que desejavam juntar a piedade ao estudo das Letras começaram a reunir-se todos os dias numa das salas, após irem os demais, na qual enfeitavam um altar. Ali algumas vezes rezavam juntos ou algum fazia uma leitura piedosa para que ouvissem todos. Nos dias de domingo e festa, segundo o costume da Igreja, recitavam preces acompanhadas de cânticos. Destes pobres começos originaram-se as Congregações, dedicadas mais tarde ao culto da Santíssima Virgem, que, insignemente formadas com sábias normas, se espalharam por toda a terra, para o bem não só dos jovens, como também de outras pessoas."

6 - DENOMINAÇÃO E CARÁTER MARIANO

Que nome tinha este grupo de jovens? Ao início não se sabe. Crê-se que, devido ao uso do latim, muito difundido na época, terão dado ao grupo denominações tais como: Congregatio, Sodalitium ou Sodalitas, nomes estes mais tarde consagrados nos documentos papais. Desta forma, segundo o gosto, em algum lugares prevaleceu a denominação Sodalício e noutros Congregação. Após um ano - 1564 - já bem aumentado, o grupo passou a reunir-se na pequena Igreja da Anunciação, confiada ao Colégio Romano, e, desta forma, colocou-se oficialmente sob o patrocínio de Maria Santíssima. Ganhou por isso o nome de Congregação da Anunciada ou da Anunciação da Virgem Santíssima que até hoje conserva. Posteriormente foram acrescentados os padroeiros secundários S. Pedro e S. Paulo e, às vezes, é chamada também C. M. da "Scalleta".

7 - ESTABELECIMENTO DAS REGRAS

Já com um ano de existência e bem nutrido, o grupo se entregava à santificação própria e ao apostolado sob os auspícios da Virgem. Era, porém, preciso um Regulamento. Os primeiros Estatutos de 1564 foram dados certamente pelos primeiros membros fundadores. O Pe. Cláudio Acquaviva foi o primeiro dentre os Gerais da Companhia de Jesus a estabelecer, em l.° de novembro de 1587, as Regras da C. M., recebendo para isto autorização do Papa. O texto de aprovação é acompanhado de uma espécie de Ata com todas as circunstâncias da promulgação. Depois de relatar que estavam presentes todos os membros da Diretoria da C. M., assim como os membros da "Congregação de Menores", diz o Secretário: "Entrou em seguida o R. Pe. João Batista Carminata, o qual, depois de fazer uma prática a todos os irmãos, comunicou à Congregação, em nome do R. P. Geral da Companhia de Jesus, Pe. Cláudio Acquaviva, as novas Regras acima transcritas, que trazia consigo, elaboradas com a autorização do dito R.P. Geral. Estas Regras anulam todas as demais e deverão doravante ser observadas não só pelos irmãos da nossa Congregação — constituída há três anos Cabeça de todas as outras por Gregório XIII, de feliz memória —, mas também por qualquer outra C. M. que venha a ser agregada à nossa".

A Prima Primária conserva preciosamente nos seus arquivos um exemplar manuscrito das primeiras Regras oficiais e completas publicadas depois da solene aprovação pontifícia de Gregório XIII. Nosso primeiro legislador, nascido em 1543, entrou para a Companhia de Jesus em 1567, conhecendo, portanto, desde o Noviciado os frutos da C. M. do Colégio Romano e na qualidade de Geral (1581-1611), com conhecimento de causa redigiu estas primeiras Regras. Outro Geral, o Pe. Pedro Beckx renovou e adaptou alguns pontos em 1655. O Pe. Antonio Maria Anderley promulgou Regras acomodadas às CC. MM. existentes fora dos Colégios da Companhia de Jesus, em 1885. Por último o Pe. Francisco Wernz, em 1910, adaptou as Regras aos tempos presentes.

8 - VIVÊNCIA DAS REGRAS

As Regras oficiais declaram Padroeira das CC. MM. Nossa Senhora da Anunciação, recomendam especial devoção a Maria, estabelecem frequência assídua aos sacramentos, oração diária, união fraterna, caridade para com o próximo, diligência nas obras comuns da C. M.. Determinam que os congregados se reúnam nos domingos e dias de festa, pelo menos durante uma hora, ocupando-se em leitura piedosa, assistência à Santa Missa, seguindo-se um quarto de hora de meditação. "O fim proposto era o progresso na piedade e nos estudos. Cada semana confessavam-se e recebiam a Comunhão — o que representava um notável progresso religioso em relação aos costumes da época; — todos os dias havia Missa, rezava-se o Rosário ou alguma oração à Virgem Santíssima. À tarde, depois das aulas, reuniam-se e meditavam durante 15 minutos, seguindo-se uma revisão do que tinham feito e combinavam o que deveriam fazer no dia seguinte. Nos dias de festa, após cantarem as Vésperas, saíam alguns a visitar os doentes nos hospitais enquanto outros iam visitar os sepulcros dos santos nas várias igrejas de Roma onde estes existem como em nenhum outro lugar do mundo em tão grande quantidade; outros mais iam confortar os presos e ensinar a doutrina. Em suma, dedicavam-se todos, e com ardor, à prática de boas obras". Um sacerdote os orientava com breve preleção aos domingos e dentre o grupo se escolhia um Presidente. Os outros repartiam entre si vários encargos para o bom andamento da C. M., inclusive Academias para estimular os estudos. Eis como viviam as Regras os primeiros congregados marianos, advindo dessa vivência das Regras notável progresso material e, sobretudo, espiritual, provocando extraordinária expansão do movimento.

9 - AVANÇADA MARIANA

As CC. MM., em pouco tempo, começaram a multiplicar-se, pois a semente fora abençoada e caíra em terreno fértil. Onde existia uma juventude idealista e temente a Deus, ali nascia uma C. M. Mais tarde, já não eram só os estudantes. Vieram pessoas de todos os estados e classes sociais. Os colégios disputavam a primazia de possuir suas CC. MM., o que obrigou os Superiores a enviar o Pe. Leunis a Perúsia, Billon, Lião etc. e fazer o que havia feito em Roma. E assevera-nos o Pe. Emílio Villaret: "Paris tem sua C. M. desde 1567, Billon em 1569, quando o Pe. Francisco Coster — que, digamos de passagem, após a morte do Pe. Leunis foi o verdadeiro organizador das CC. MM. — fundou a da Universidade de Douai, em 1573, já tinham a sua 20 cidades importantes na Itália, França, Espanha, Portugal, Bélgica, Renânia, Baviera, Boêmia, Áustria, Polônia, Suíça, etc.". Novas CC. MM. surgiram no Colégio Germânico (1565), no de Palermo (1570), nos de Bolonha e Nápoles (1574), no Seminário Romano (1575; quatro, aprovadas por um Breve Pontifício), em Praga e Pont-à-Mousson (1575), Colônia (1576), Barcelona e Avinhão (1577), Milão (1580), Friburgo (1581), Saint-Omer e Lecce (1582), Évora (1583), Nola, Áquila, Barletta, Salerno, Cosenza, Calanzaro, Tréveris, Innsbruck, Wurzburgo, Liége. Bruxelas etc. A avançada mariana assemelhava-se às comportas de uma represa que, abertas em dado momento, deixaram livres as caudais impetuosas das águas.

10 - EREÇÃO CANÔNICA DA PRIMEIRA C. M.

A 5 de dezembro de 1584, Gregório XIII, com a Bula "Omnipotentis Dei", outorga à C. M. do Colégio Romano indulgências e privilégios e a constitui "Prima Congregatio seu Primarium Sodalitium", obrigando a que todas as demais existentes em colégios da Companhia de Jesus, quer de estudantes, quer de qualquer classe de pessoas, dependam dela. Delega finalmente sua autoridade ao Geral a fim de que possa agregar outras CC. MM. à Prima Primária, tornando-se participantes dos mesmos tesouros espirituais. Assim, a C. M. do Colégio Romano tomou-se Mater et Caput das CC. MM. de todo o mundo. Em Turim, 16 dias antes, falecia nosso fundador, o Pe. Leunis, que assim não viu esta cúpula gloriosa de sua obra.

11 - POR QUÊ PRIMA PRIMÁRIA?

O florescimento das CC. MM. continuou de forma admirável. A própria C. M. do Colégio Romano, vendo-se desde 1569 muito aumentada, teve que dividir-se em duas seções: uma de estudantes de Letras e Gramática e outra de ouvintes de Filosofia e Teologia. Nova divisão se impõe em 1590; nos anos subsequentes outras subdivisões se tomam imperiosas, embora a C. M. da Anunciação fosse apenas uma, isto é, a Primária. Assim sendo, as secções passaram a denominar-se "Prima Primaria" — "Secunda Primaria" — "Tertia Primaria" — "Quarta Primaria".
Depois a Primária voltou à unidade e, diz o Pe. Emílio Villaret: “Este prodigioso e universal crescimento tomava, com efeito, para desejar e mesmo necessário, não só seccionar Congregações numerosas em demasia, senão também, pela extrema diversidade dos membros que as compunham, constituir várias CC. MM. distintas. Ora, — continua o grande historiador mariano — essa multiplicidade num mesmo lugar estava em desacordo, ao que parece, com uma regra canônica de direito comum. A 5 de janeiro de 1587, o Papa Sisto V, para tirar toda dificuldade, com a Bula "Superna Dispositione" autorizava o Geral da Companhia de Jesus a erigir diversas CC. MM. num mesmo colégio e agregá-las à Prima Primária, estendendo o exercício deste poder às restantes casas da Ordem, qual fosse a sua natureza. A 29 de setembro do mesmo ano — 1587 — com a Bula "Romanum Decet" ampliava-o ainda de tal sorte que, no mesmo modo e com os mesmos privilégios, pudessem ser eretas CC. MM. em casas não pertencentes à Companhia de Jesus, mas entregue a seus cuidados."

12 - MAIS UM PASSO

Já após 75 anos de fundação da Prima Primária lhe estavam agregadas 1.459 sodalícios espalhados pela Europa, como por exemplo, Dijon, 5; Douai, 8; Aix en Provence, 12; Messina, 15; Nápoles, 18 e assim por diante, apesar do rigor da admissão. Havia CC. MM. de marinheiros, militares, pescadores, operários, magistrados, comerciantes, estudantes, burgueses, nobres, sacerdotes e até de mendigos. Estes, num grande e belo exemplo, descontavam uma quota parte do que recebiam da caridade dos ricos para socorrer os que eram ainda mais pobres do que eles.
E dizer que há CC. MM. atualmente onde alguns membros relutam em pagar a sua mensalidade!

13 - CC. MM. FEMININAS

Durante os dois primeiros séculos as CC. MM. eram quase que exclusivamente masculinas. Até 1750 encontramos de fato CC. MM. femininas na Sicília, no Peru, na Alemanha, etc. Eram, porém, exceções. "Muitas senhoras — assevera o historiador Sacchini — em mais de um lugar e em várias épocas, tentaram obter permissão para estabelecer CC. MM. femininas, mas isto não foi universalmente aprovado. O que se costumava fazer mais amiúde era admitir nas CC. MM. masculinas, por especial privilégio, uns poucos representantes femininos da mais alta nobreza: por exemplo, a Imperatriz d’Áustria, a Rainha de França. Mas é preciso frisar que essas raras CC. MM. femininas primavam por um fervor realmente exemplar". Lembramos, a título de amostra, a C. M. de Senhoras dirigidas pela afamado Pe. João Croiset, S. J., apóstolo insigne da devoção ao Sagrado Coração de Jesus. A concessão foi provocada pelo Pe. Vespasiano Trigona, Diretor da C. M. da Poenitentia, sob invocação de Santa Maria Madalena, ereta na igreja da Casa Professa Panormiteme, quando então o Papa Bento XIV autorizou o Geral da Companhia de Jesus a agregar à Prima Primária também as CC. MM. femininas, com o Breve "Quo tibi", de 8 de setembro de 1751.

14 - ELOGIO DAS CC. MM. FEMININAS

Frisamos no capítulo precedente que as CC. MM. femininas, mesmo antes de oficializadas, primavam pelo fervor apostólico e religioso. E, como era natural, este fervor foi crescendo, levando Pio XII, em 1951 a este elogio das CC. MM. femininas: "Razão gratíssima temos hoje para dirigir-vos, amadas filhas, uma palavra especial de animação. Comemorais este ano o segundo centenário do Breve 'Quo Tibi': com ele Nosso imortal Predecessor, Bento XIV, franqueou as portas da grande família da Prima Primária às senhoras e às CC. MM. femininas. Inovação providencial foi esta, com efeito, se a exclusividade servira durante dois séculos para dar maior solidez à vida e às atividades das CC. MM., a transformação da sociedade ia conferir à mulher uma função diferente, é verdade, mas comparável, em força e em amplitude, à dos homens. Com esta feliz extensão, nenhuma alteração se introduziu no caráter próprio que as CC. MM. tiveram desde a sua origem. As CC. MM. não abrandaram suas exigências para colocar-se ao alcance do elementos feminino; foi este, pelo contrário, que se elevou à altura das CC. MM., enriquecendo-as com suas preciosas energias."

15 - PRIMEIRAS PERSEGUIÇÕES

Todas as obras de Deus incomodam muito ao demônio! Transcorridos 150 anos de fundação do movimento mariano, eram notórias as obras de caridade o zelo dos congregados espalhados por grande parte da Europa, bem como no Oriente, especialmente no Japão. Surgiram então as calúnias, as críticas, as invejas, as perseguições, mormente na França. Por morte de Luís XIV, Rei de França, que muito favoreceu as CC. MM., os inimigos do movimento ganharam uma batalha, pois o Regente, a 19 de julho de 1716, decretou a interdição das CC. MM. de militares dirigidas pelos Jesuítas. E esta dissolução causou profunda tristeza ao velho Marechal Villars e a quantos viram neste fato momentânea vitória do diabo.

16 - AMPARO DA IGREJA

A Igreja, porém, não desampara esta força já com dois séculos de existência e vemos, então, Bento XIV, a 27 de setembro de 1748, enaltecer as CC. MM. com a célebre Bula "Gloriosae Dominae", mais conhecida como "Bula Áurea".
Mas em 1760, portanto, 12 anos mais tarde, outra vitória obtém os inimigos das CC. MM., em França: são supressas todas as CC. MM. Idêntica vitória conseguem mais tarde na Espanha, em Portugal e na Itália. Mais uma vez, porém, a Igreja, pela pena de Clemente XIII, renova solenemente todos os favores concedidos às CC. MM. pelas bulas e constituições de seus predecessores. E ganham então as CC. MM. a Bula "Apostolicam pascendi domini gregis", datada de 7 de janeiro de 1765. Como vemos, a cada vitória dos inimigos, a Igreja respondia com um estímulo para perseverarem na luta.

17 - SUPRESSÃO DA COMPANHIA DE JESUS

Golpe dos mais sérios, no entanto, estava reservado para o ano de 1773 (21 de julho), quando o Papa Clemente XIV, pelo Decreto "Dominus ac Redemptor", suprimiu a Companhia de Jesus, tirando-lhe todos os poderes, todos os seus ministérios, todas as suas obras e, portanto, toda a jurisdição do Geral da Ordem sobre as CC. MM., que então só funcionavam em seus colégios e casas, ao menos, sob a direção de seus religiosos quando em outras entidades. Se só o Geral da Companhia de Jesus recebera da Santa Sé a faculdade de erigir e agregar as CC. MM., na falta dele, tomava-se impossível o aparecimento de outras. De modo que foi o maior golpe sofrido pelas CC. MM.

18 - DOIS DEPOIMENTOS

"Quando as CC. MM. foram destruídas pela maior parte, juntamente com os Jesuítas, que as haviam fundado e com tanto acerto as dirigiam, em menos de 18 anos houve na capital (Paris) uma diminuição de metade do número das pessoas que cumpriam a desobriga pascal. Cerca do mesmo tempo, e pela mesma causa, viram-se cair aos poucos em desuso as práticas piedosas, a visita diária das igrejas, a oração em comum nas famílias, presságio por demais infalível do declínio da Fé". — Lamennais

"Vive ainda em todos os importantes centros comerciais, a lembrança de que nunca houve tanta ordem, tanta tranquilidade, nunca tanta probidade, nunca menos fraude e depravação como quando existiam essas CC. MM.". — Cardeal Bausett

19 - O GOLPE NÃO FOI MORTAL

O próprio Clemente XIV, menos de quatro meses após a supressão da Companhia de Jesus, salvou da derrocada total as CC. MM., pois com o Breve Commendatíssimam (14 de novembro de 1773) confiou a direção do Colégio Romano a uma Comissão de 3 Cardeais que se encarregariam também de conservar a Prima Primária. Sucede a Clemente XIV o Papa Pio VI que, solicitado pela Prima Primária, concede, em 2 de maio de 1775, os poderes necessários ao seu Cardeal Vigário e seus sucessores para assinar diplomas de agregação. Pouco mais tarde tais poderes foram estendidos ao Diretor da Prima Primária. Convém notar, também, que Catarina II, da Rússia, não deixara que se executasse em seu território o Breve de Clemente XIV que extinguira a Companhia de Jesus, e o Papa tolerou que os Jesuítas continuassem como tais nos domínios da Czarina. Em 21 de julho de 1804, Pio VII de novo concede a faculdade de agregar CC. MM. a uma como subsidiária da Prima Primária, à C. M. da Anunciação de Polocz. No mesmo documento, o Papa enriquece esta C. M., ou outra a ser ereta na cidade de Petersburgo, com os mesmos privilégios e indulgências da Prima Primária, extensivo a todas as CC. MM. agregadas, (cfr. "Os Papas e as CC .MM". — Conferência de D. Antonio de Castro Mayer — 1950)
Pio VII restabeleceu a Companhia de Jesus a 7 de agosto de 1814. A 7 de março de 1825 Leão XII conferiu ao Geral o poder de agregar à Prima Primária as CC. MM. eretas canonicamente fora das casas da Companhia e delas totalmente independentes, bastando a licença da autoridade diocesana.

20 - TRABALHO DURANTE A DURA PROVA

Graças ao zelo dos Prelados, dos padres regulares e seculares, especialmente nos colégios, as CC. MM. como que animadas pelas perseguições parece que redobraram seus trabalhos dando provas de real vitalidade. E aparecem novas edições das Regras: em 1775 em Ingoldstad (Alemanha); cm 1780 em Saint-Brieuc (França) e Bruxelas (Bélgica); em Polocz (Rússia); em 1795 em Bérgamo e Veneza (Itália). A capela da "Annunziata", no Colégio Romano, permanece intacta sob direção de Pietro Antonio Vittené, celebrando anualmente, em virtude de um privilégio, com Missa própria, a festa do Sagrado Coração. Na Baviera, o Príncipe Maximiano II, congregado, obtém de Clemente XIV a confirmação das 8 CC. MM. da Diocese de Freisingen. A de Munique, muito embora espoliada, em 1813, contava ainda com 1.230 membros, dos quais 575 eclesiásticos e 655 leigos. A C. M. de Stonyhurst (Inglaterra), fundada em 1617, teve que refugiar-se até 1673 em Saint-Omer, até 1773 nos Países Baixos, até 1794 em Liége, quando pode voltar à Inglaterra. Em toda esta verdadeira via crucis de mais de um século não sofreu a menor interrupção; pelo contrário, todas estas vicissitudes só vieram redobrar-lhe o fervor e atividades.

Em França, apesar da revolução, subsistiram 80 CC. MM. com intensa atividade, sobressaindo a dos operários de Bordeaux, ereta em 1689 pelos Jesuítas e cuidada pelos Capuchinhos de 1765 em diante. A 2 de fevereiro o famoso Pe. Chaminade dedica-se de corpo e alma à C. M. fazendo-a florescer magnificamente. Da C. M. de Bordeaux brotou a família religiosa denominada "Sociedade de Maria".

21 - ESBOÇO FEDERATIVO

Na mesma época em que o Pe. Chaminade começou a restaurar a C. M. de Bordeaux, em Paris, o Cônego Gourdier-Delpuits procedia à consagração de 6 rapazes estudantes de medicina e fundava a C. M. Sancta Maria Auxilium Christianorum. E em 1804 essas duas famílias marianas, a de Bordeaux e a de Paris, entraram em comunicações constantes não só de orações e méritos, mas de trabalhos também. Por um privilégio especial Pio VII, a 4 de julho de 1805, permitia-se que a C. M. de Paris agregasse as demais CC. MM. que começavam a multiplicar-se novamente em França a fim de tomá-las participantes — como ela — dos favores concedidos pela Igreja à Prima Primária. E um bom número de sodalícios apressaram-se em unir-se à sua irmã de Paris, nascendo um movimento precursor de nossas atuais Federações.

22 - MAIS OUTRO DURO GOLPE

O livre pensamento compreendeu que as CC. MM. eram um perigo e recomeçara a luta. Já anteriormente, como vimos, suas perseguições lhe tinham dado efêmera vitória. Mas viu-as erguer-se mais vigorosas e destemidas. Até mesmo entre os católicos — infelizmente — procuraram desacreditá-las. E os inimigos das CC. MM. gozaram momentâneo prazer ao verem supressa, em 1830, a C. M. de Paris. Apesar da dureza do golpe, os congregados não arrefeceram na santificação própria e no apostolado onímodo. Por iniciativa de um deles — o Sr. Bailly — nasceu da "Sociedade dos Bons Estudos", a "Conferência de S. Vicente de Paulo", cujo zelo e apostolado até hoje bem conhecemos em todo o mundo. Frederico Ozanan, seu fundador, era congregado mariano.

23 - "SANGUE DE MÁRTIRES É SEMENTE DE CRISTÃOS"

Só da C. M. de Paris nasceram, entre outras, a "Sociedade das Boas Obras" com suas 3 seções: dos hospitais, operários e presos; a "Associação de São José", que podemos dizer ter sido o primeiro esboço dos Círculos Operários; a "Sociedade dos Bons Estudos", a que já nos referimos, onde nasceu a Conferência Vicentina; a "Sociedade Católica dos Bons Livros", a "Biblioteca Católica"; a "Associação pela Defesa da Religião Católica", uma espécie da atual Legião da Decência nos EE. UU. (e que infelizmente não vingou no Brasil). E ainda a "Obra de S. Francisco Régis". A C. M. de Bordeaux nos legou a "Sociedade de Maria". E da C. M. do Colégio de Clermont veio o "Seminário das Missões Estrangeiras". E não foram apenas perseguições. Houve também o testemunho do sangue. Como outrora as da Inglaterra e do Japão, as CC. MM. de Espanha, do México e outros países tingiram de vermelho o chão pátrio com o sangue dos seus congregados.

24 - UM POUCO DE ESTATÍSTICA

Alguns dados relativos às agregações, fornecidos pelo Secretário Central, nos dão pequena ideia do progresso das CC. MM. Estes foram publicados em nosso órgão mundial (Acies Ordinata) de janeiro-fevereiro de 1955 com a seguinte explicação: "Quando a revista começou a ser editada, manifestou-se logo o cuidado de apresentar o cômputo total das CC. MM. Infelizmente, o erro que se tinha insinuado nas fontes, passou para a revista e durou até 1928. Cessou então o cômputo, mas, uma vez quase corrigido o erro inicial, apareceu de novo em 1936.
Como o modo de fazer o cômputo geral, até aqui usado, esteja dependendo de mudança, julgamos oportuno estabelecer um sistema novo e mais estável: para o futuro, ao pé do gráfico anual das agregações, exibiremos o número do Arquivo Oficial do dia 31 de dezembro daquele ano. Para que a todos apareça claro o número dos anos precedentes, fazemos a tabela abaixo. A razão porque não começamos senão a partir de 1830, é porque o Arquivo da Prima Primária, que começamos a publicar ultimamente, se estende do início até 1830".

Nota: Na 2ª coluna, o montante do dia 31/12; Na 3ª coluna, o número de agregações; as agregações entre 1940 e 1945 não estão em cronologia, devido à dificuldade de comunicação causada pela guerra.


25 - AS CC. MM. NO ORIENTE E NA ÁFRICA

Com os Jesuítas missionários, as CC. MM. lançavam também raízes em Angola, no Oriente Português, na China, no Império do Sol Nascente e nas Ilhas Filipinas. Não se pode precisar exatamente o início do movimento mariano no Oriente e na África. O fato, porém, é que em 1576, portanto, 12 anos depois de fundada a Prima Primária, era batizado no Japão o segundo filho do Daimiô de Bungo, Otomo Yoshige. O jovem Chikaie, Sebastião, como se chamou após o batismo, foi logo no princípio de sua conversão um fervoroso apóstolo. Regressando a Usuki formou uma C. M. de 50 samurais, desaparecida em 1614 sob as perseguições. Em 1602 florescem as CC. MM. em Nagasaki; em 1604 em Arima; em 1605 em Miyako (Kyoto) proporcionando um grande número de vocações sacerdotais.

26 - PERSEGUIÇÃO E MARTÍRIO

Em 1610 verificam-se em Hirado os primeiros sinais da perseguição que teria lugar um pouco mais tarde. Em 1612, em Arie, dois irmãos — Miguel e Matias Itoo — morreram mártires por serem congregados. No ano seguinte há o martírio de 3 famílias, em Arima. Em 1622, em Omara temos outros congregados martirizados, entre eles o Presidente da C. M. João Chicatchi, que é decapitado. Em 1622 o Pe. Antonio Giannone traduziu as Regras para o japonês e estas foram revistas pelo Pe. Mateus de Couros, Provincial. Um exemplar destas Regras se conserva em Roma. O Pe. Giannone, em 1633 foi martirizado em Shimabara. Em Edo (Tóquio) em 1634, queimaram vivo o Pe. Sebastião Vieira que fundara uma C. M. em Fingo.

27 - MESMO ASSIM O ORIENTE MARIANIZA-SE

A primeira C. M. na China (Pequim) data do ano 1609 (18 de setembro) fundada por um neófito, antigo chefe de uma Confraria pagã. Ainda em 1609 fundou-se em Nanquim "uma Confraria de Nossa Senhora, à imitação da de Pequim quase da mesma ordem e modo, a qual foi causa de muita conversão e de muitas obras de caridade e de se frequentarem os sacramentos e outros exercícios de devoção". Nas Ilhas Filipinas, entre 1625 e 1663 diz-nos o Pe. Francisco Colin que o Pe. Pedro Chirino fora encarregado de fundar CC. MM. em Manila e nas cidades mais populosas do arquipélago, onde houvesse espanhóis. E fundaram-se diversas CC. MM. para estudantes, sacerdotes, nobres e gente do povo.

28 - AS CC. MM. NAS AMÉRICAS

No Brasil, o movimento mariano data de 1583, mas esse histórico constituirá a 2ª parte do nosso trabalho. No Chile, no Peru e na Colômbia havia CC. MM. de negros, de índios e de brancos, tanto mais que cada grupo racial, naquele tempo, dispunha a situação social própria. Em Santiago, nos princípios de 1600, havia CC. MM. para mulatos, estudantes e gente nobre. Esta última, sobretudo, visitava as prisões, ensinava a doutrina aos encarcerados, dando-lhes conselhos para se emendarem e confessarem. Na segunda metade de 1600, no México, nasceu a C. M. de S. Francisco Xavier. E em Chuquisaca, na Bolívia, as CC. MM. de indígenas visitavam hospitais e eram prestimosas auxiliares dos missionários em seus ministérios.

29 - NO CANADÁ 

No Canadá, desde 1615, os missionários Jesuítas dispenderam os maiores esforços para fundar CC. MM. entre os índios hurões. Somente em 1625 o conseguiram, pois alguns dados de 1650 nos atestam que, sendo expulsos pelos iroqueses, as CC. MM. estabeleceram-se em Quebec e os hurões se colocaram sob a proteção dos colonizadores. Antes de entrar para a C. M., eram submetidos a sólidas provas e rigorosa seleção. Em grau admirável praticavam as virtudes, especialmente as que mais difíceis aos homens, pareciam mais incompatíveis com a natureza dos hurões: a castidade, a mansidão, e a vingança cristã que consiste em perdoar as ofensas. Um missionário visitando um campo de concentração dos hurões, prisioneiros de seus implacáveis inimigos, os iroqueses, a respeito deles escrevia em 1656: "Vi a flor da C. M. dos hurões, prisioneiros entre os infiéis; sua devoção seria tida por extraordinária até mesmo nos claustros". Comovedora em extremo foi a vida do congregado mariano índio Miguel Ayatumi, falecido em odor de santidade, aos 17 anos, em 1609.

30 - AS CC. MM. NOS EE. UU.

As CC. MM. nos EE. UU., pelo menos em suas atividades mais conhecidas, datam do primeiro quartel deste século. Os congregados e congregadas marianas em 1946 somavam em todos os Estados do grande país: 1.200.000! Em 1925 o famoso Jesuíta norte-americano, Pe. Daniel A. Lord, assumiu a direção da revista "The Queens Work", reduzindo de 3 dólares para 25 cents o preço da assinatura anual. Adquiriu num dos pontos mais centrais de St. Louis (Missouri) um prédio de 6 andares com 110 salas, instalando aí o Secretariado Central do movimento. As despesas de compra e adaptação ficaram em 250.000 dólares naquela época. Em 1931 transfere-se o Secretariado para a casa de West Pine Boulevard, doada por uma generosa benfeitora. No início trabalhavam no Secretariado 15 pessoas; atualmente trabalham para mais de 100! Ao Pe. Daniel Lord, homem audaz e considerado por muitos revolucionário, devido ao seu espírito moderno e incessante atividade, é que as CC. MM. norte-americanas devem seu impulso, colocando os "States" como o país líder do movimento, pelo menos na parte feminina. Ele e seus congregados inundaram de folhetos e livros todos os EE. UU. desde a Califórnia à Flórida. Como dissemos, destaca-se nos EE. UU. a atividade do elemento feminino, fazendo com que, em 1948, à frente de todas as nações do mundo, e bem isolada da segunda colocada na classificação geral, a América do Norte surgia com suas 328 agregações.

31 - SECRETARIADO CENTRAL DAS CC. MM.

A propagação do movimento pelo mundo todo, a conservação do genuíno espírito das CC. MM., a organização o mais possível uniforme, o grande e penoso trabalho das agregações à Prima Primária e outros fatores preponderantes obrigaram a criação de um organismo que tivesse afeto a si tais encargos. Foi então que, em 1924, o Pe. Waldomiro Ledóchowski, Geral da Companhia de Jesus, fundou o Secretariado Central das CC. MM. (que situava-se no Borgo S. Spirito, 5 — Roma). As normas promulgadas para sua instituição, resumidamente, estabelecem o seguinte: "O Secretariado, ainda que não esteja revestido de nenhuma jurisdição para com cada uma das CC. MM., contudo, deve ser como a fonte e origem de uma nova vida e de vigor, vínculo comum de unidade e de mútua aproximação, pelo qual se infunda uma nova seiva nos grupos talvez lânguidos, nos que estão em vigor, além dos ramos já floridos, se enxertem novas vergônteas, carregadas dos mais abundantes frutos."

32 - MEIOS E FIM

Portanto, a função do Secretariado Central será:
a) confirmar, intensificar, ajudar as CC. MM. que começaram bem;
b) providenciar a criação de novos grupos;
c) ser um centro de informação e de consultas a que as CC. MM. possam recorrer, para solução de dificuldades ou dúvidas acerca do modo de governar e agir;
d) ser um vínculo de união e de ajuda mútua, pelo qual os Diretores, e mediante esses, as várias CC. MM. estreitamente se unam;
e) oferecer aos Diretores matéria de reta formação;
f) sugerir variadas e aptíssimas indústrias para intensificar e propagar as CC. MM.;
g) difundir uma informação mais profunda de cada uma das CC. MM. e estimular todas a uma nobre emulação pelas notícias das coisas que nos diversos lugares se realizam, divulgadas recíproca e rapidamente.
Para conseguir melhor esses fins, o Secretariado usará:
1. ° — além da correspondência epistolar;
2. ° — publicações, quer periódicas
3. ° — quer outros gêneros, pelas quais se mostre o genuíno espírito das CC. MM.

Para os diversos cargos do Secretariado Central, se requerem padres que entendam bem de CC. MM., que as amem, conheçam o que a elas pertence, prática e teoricamente, sejam dotados de prudência e moderação, ciência e piedade, alegria e também forças corporais, a fim de que possam suportar os trabalhos necessários.

O Diretor do Secretariado é sempre nomeado pelo Geral da Companhia de Jesus (e por vontade de Pio XII que aprovou os Estatutos — cfr. art. 11), dito cargo é unido ao de Vice-Diretor da Federação Mundial das CC. MM., organismo do qual falaremos adiante. O Secretariado Central edita a revista "Acies Ordinata", sobre a qual daremos a seguir alguns dados muito breves:

33 - A REVISTA "ACIES ORDINATA"

É esse o órgão mundial do movimento. Foi fundado em 1925 pelo Pe. Emílio Villaret, esse denodado apóstolo das CC. MM.. Com as dificuldades inerentes a todas as revistas internacionais, 'Acies Ordinata' vem prestando, contudo, bom serviço à causa mariana. Começou sendo editada em duas línguas e em fascículos separados: latim e inglês. Mais tarde passou a ser somente em latim. Durante os quatro anos que precederam a II Guerra Mundial foi editada em seis línguas, separadamente, inclusive português. Depois da guerra passou novamente a ser publicada só em latim. Atualmente é trilíngue, pois como uma das conclusões do II Congresso Mundial das CC. MM. realizado em Newark (EE. UU.), a título de experiência a temos em edição única em inglês, francês e espanhol. Está sendo muito bem recebida tal experiência. Destina-se aos Diretores de CC. MM., Federações e Confederações Nacionais (Promotores), o que não impede seja assinada por congregados, especialmente Dirigentes. É impressa em Roma com ótima apresentação gráfica e publica cinco fascículo por ano (março, maio, julho, outubro e dezembro). O preço anual da assinatura é o equivalente a US$ 1,60.

34 - "DIA MUNDIAL DOS CONGREGADOS"

Desde 1938 celebra-se o "Dia Mundial dos Congregados Marianos" por sugestão do Secretariado Central. No I Congresso Mundial das CC. MM. (setembro de 1954 — Ano Mariano), estabeleceu-se: "O Congresso convida todas as CC. MM. do mundo inteiro a celebrar o mais exatamente possível a data do "Dia Mundial dos Congregados", no segundo domingo do mês de maio". (Concl. 9) É mais um fator de união, de solidariedade, de força e amor à causa da Igreja, através de Maria Santíssima. E sublinhava o Secretariado os fins desta expressiva festa da família mariana:
a) auxílio fraterno;
b) entusiasmo consciente;
c) novo alento para os trabalhos futuros.

Em "Para Ser Dirigente" tivemos oportunidade de transcrever a belíssima explanação que o Secretariado fez em 1939 desses três fins.

35 - DOIS CONGRESSOS MUNDIAIS E QUATRO ENCONTROS DE CC. MM.

A história das CC. MM., até a presente data, registra dois Congressos Mundiais que imensos benefícios trouxeram ao movimento. O primeiro realizou-se em Roma, de 8 a 10 de setembro de 1954 (Ano Mariano) com a participação de 62 nações; e o segundo, em Newark (New Jersey) na América do Norte, de 19 a 24 de agosto de 1959, tendo comparecido 38 países (explica-se o decréscimo de presença pelas dificuldades da época, mormente a alta do dólar). Se mais nada houvessem trazido estes dois Congressos, bastaria a aproximação e conhecimento mútuo de tantos Promotores, Diretores e congregados, tomando mais unida a nossa família mariana. Mas não ficaram restritas a estes setores as vantagens destes magnos conclaves. O primeiro ofereceu um campo amplo para troca de experiências com as discussões dos pontos centrais:
Seleção — União com a Hierarquia — Cooperação com as demais associações apostólicas. 

E do primeiro ainda surgiu a Federação Mundial das CC. MM., de que falaremos no capítulo seguinte. Do segundo tivemos conclusões práticas de suma importância; dedicar-se o máximo de atenção aos problemas locais, dando prioridade à discriminação racial, escassez de alimentação e a falta de moradia adequada, cuidados sanitários e educação; resolveu dedicar o "Dia Mundial" em 1960 à oração pelo Concílio Ecumênico; continuar colaborando com a Conferência das Organizações Católicas Internacionais e manter contato regular com a Comissão Permanente para o Apostolado Leigo; promover assembleias especiais para sacerdotes, estudantes e profissionais com vistas ao futuro congresso em Bombaim (Índia) em 1964. Como não poderia deixar de ser, o Congresso reafirmou a devoção filial ao Santo Padre e urgiu a mais completa observância e divulgação da "Bis Saeculari", como excelente meio de formação.

Sem serem oficialmente contados, quatro Encontros ou Assembleias Internacionais já foram realizados:
Roma, (1951) por ocasião do I Congresso Mundial do Apostolado Leigo
Barcelona (1952) quando da realização do 35.° Congresso Eucarístico Internacional
Rio de Janeiro (1955) ao ensejo do 36.° Congresso Eucarístico Internacional
Munique (1960) ao realizar o 37.° Congresso Eucarístico Internacional
Também têm sido muito úteis estes Encontros ou Assembleias. Do primeiro, por exemplo, nasceu a ideia da Federação Mundial das CC. MM..

36 - FEDERAÇÃO MUNDIAL DAS CC. MM.

Escreve o Pe. Luís Paulussen, atual Diretor do Secretariado Central das CC. MM.: "Quem conhece nos seus traços essenciais a história das CC. MM. admite que, com a Constituição Apostólica "Bis Saeculari" (1948), começou para elas um novo período, do qual marcará época o ano de 1954, em que se reuniu pela primeira vez a Federação Mundial das CC. MM.". O escopo único da Federação Mundial, fundada a 9 de setembro de 1954, é uma maior união de todas as CC. MM. na Igreja e com a Hierarquia Eclesiástica, e uma maior colaboração com todas as forças militantes da Igreja. Ela assegura às CC. MM. uma Representação, como Movimento Mundial, uma Voz realmente Oficial e verdadeiramente Universal. As CC. MM. de todo o mundo estão nela representadas segundo uma fórmula das Regras Comuns (cfr. R. 69). A Federação Mundial acarreta uma outra consequência de excepcional importância: é a primeira vez que os leigos se tomam representantes oficiais das CC. MM. no Plano Mundial porque "a Federação Mundial em 1956 foi admitida como organismo-membro da Assembléia das Organizações Internacionais Católicas; isto permitirá, e até exigirá, das CC. MM., um movimento realmente internacional, estabelecendo relações também com outras obras". Graças, portanto, a esse novo elemento, elas mostram com maior evidencia seu caráter de Ação Católica. A Federação Mundial não é, pois, algo de essencialmente novo, mas é uma União Nova do que já existia antes. Após uma união meramente espiritual com a Prima Primária, e união administrativa com o Secretariado Central, tem-se agora uma união oficialmente representativa de todas as CC. MM. do mundo. No opúsculo da "Coleção Estrela do Mar" intitulado "As CC. MM. na Vida Atual da Igreja" está inserido um belíssimo estudo sobre a Federação Mundial que muito aconselhamos aos Dirigentes ler e estudar.

37 - "BIS SAECULARI", NOSSA CARTA MAGNA

Encerraremos com ligeiros comentários sobre a "Bis Saeculari", a nossa Carta Magna, usando conceitos estampados em "L'Osservatore Romano", de 8 de dezembro de 1948. Essa explanação nos orientará para uma plena colaboração com a Ação Católica. É que as CC. MM., embora sempre fossem de fato, ainda não constava autenticamente de modo insofismável que eram de direito Ação Católica. Pio XII, o grande Pontífice Mariano, proclamou serem as CC. MM. "pleno iure" Ação Católica sob os auspícios de Maria Santíssima, e são sempre atuais seus métodos e suas leis. E escolheu Pio XII a data de 27 de setembro de 1948, quando ocorria o segundo século da Bula Áurea ( Gloriosae Dominae), de Bento XIV. "A Constituição Apostólica "Bis Saeculari" sobre as CC. MM. suscitou em todo o mundo uma onda de entusiasmo e alegria, mas também de surpresa especialmente em certos ambientes. Chegam-nos de todas as partes cartas com sentimentos de alegria e admiração, algumas cheias de dúvidas. Antes de tudo: que valor tem a Constituição Apostólica "Bis Saeculari"? É uma simples carta de louvor e encômios, ou alguma coisa mais? A Constituição Apostólica não é uma simples carta; com efeito, ela não é dirigida a alguma pessoa em particular, mas é um ato da vontade do Sumo Pontífice, manifestado diretamente a toda a Igreja, e que tem valor de "Lei". É o Papa que por iniciativa sua estabelece normas ou faz declarações que devem ser observadas por todos".

38 - RECONHECIMENTO EXPLÍCITO AUTORITATIVO E SOLENE

"Quase em todas as Bulas ou Documentos pontifícios sobre as CC. MM., podemos distinguir duas partes: a primeira, que louva e confirma solenemente os privilégios e graças já concedidas por outros Papas, e a segunda, que acrescenta novas concessões ou privilégios. A Constituição Apostólica "Bis Saeculari" foi escrita para pôr em evidência aquele que é e sempre foi o verdadeiro e genuíno espírito das CC. MM., mas ao mesmo tempo nos leva até às últimas consequências desse espírito, e chega a proclamar explícita e autoritariamente: "As CC. MM. que seguem suas normas e tradições, e que caminham nas pegadas de seus maiores, são associações que pertencem à mesma categoria das outras associações de caráter apostólico, e que tem em si todas as notas características da Ação Católica e por isso mesmo devem ser consideradas como tais". Substancialmente, portanto, não há nada de novo na Constituição Apostólica "Bis Saeculari", mas um reconhecimento explícito, autoritativo e solene daquilo que já era de fato, a saber: "que as CC. MM. são adaptadas aos nossos tempos e, portanto, atuais, e que, com todo o direito se podem chamar e se devem considerar Ação Católica, empreendida sob os auspícios e a inspiração da Bem-aventurada Virgem Maria".

39 - NÃO É NOVIDADE

"Em toda a Constituição Apostólica, Pio XII tende a provar isso; mas ao mesmo tempo quer demonstrar que não é uma novidade o que ele solenemente proclama, porque já desde as origens as CC. MM. tinham este espírito e estas características. Para prová-lo o Santo Padre não se contenta em fazer referências repetidas ao que disseram "no curso de quase quatro séculos" todos os Papas que falaram das CC. MM., mas insiste com muita frequência na sua história, nas suas santas tradições, nos exemplos e no modo de agir dos congregados de todos os tempos. E depois de ter provado que as CC. MM.:
1) foram instituídas e dirigidas pela Igreja;
2) dependem da Hierarquia Eclesiástica;
3) são associações de apostolado, e especialmente social;
4) e ao mesmo tempo são associações que proporcionam a seus membros uma formação completa e sólida, levada até à santidade;
5) e tudo isto não apenas no passado, mas também, e muito mais, no presente, termina dizendo: "Não hesitamos asseverar que o modelo de católico que a C. M. desde as suas origens, se esforçou por plasmar, jamais correspondeu tanto às necessidades e às contingências de cada tempo, quanto hoje; e que jamais, talvez tempo algum o exigiu tão insistentemente quanto o nosso quando temos necessidade de homens solidamente formados na vida cristã".

40 - NOSSA ATITUDE

Estes conceitos de D. João da Motta e Albuquerque, emitidos quando ainda Reitor do Seminário Arquidiocesano de São José, do Rio de Janeiro, no "Dia Mundial" de 1949, nos prepararão para vermos qual a nossa atitude diante deste grandioso legado de Pio XII. "A Constituição Apostólica sobre as CC. MM. é desses documentos pontifícios que não passam despercebidos na História da Igreja, destinados a uma repercussão profunda e duradoura, porque harmonizando-se perfeitamente com dois grandes monumentos do magistério de Pio XII — a Encíclica sobre o Corpo Místico e sobre a Liturgia — aponta, sanciona e aplaude, na História das CC. MM. e na exuberância do seu presente, a prática e o fruto da verdadeira ascese cristã. Permanecerá como ponto de referência nos trabalhos da teologia espiritual, uma vez que o Papa manifesta o pensamento e o sentir da Igreja. A ninguém será lícito subestimar o valor jurídico, organizativo e prático da "Bis Saeculari" e a todos não deixará de impressionar a sua importância, empolgando os elogios que contém. Para o teólogo, as canonizações, as encíclicas, os documentos vários do governo das almas emanados da Cátedra de Pedro, não apenas são significativos marcos para a História, mas possuem valor doutrinário inestimável porque, ainda quando não definem dogmas, firmam doutrinas certas e seguras, da qual a ninguém se permite afastar sem graves riscos para a fé e salvação". Portanto, nossa atitude diante desta Constituição só pode ser de gratidão, obediência e confiança.

1. ° — Gratidão não somente por parte das CC. MM., às quais concede um favor excepcional, mas também por parte da Ação Católica e da Igreja Universal, porque o documento pontifício projeta tão grande luz sobre duas instituições igualmente queridas da Igreja.

2. ° — Obediência pronta e inteira a estas declarações e normas, que são uma manifestação, a mais expressa da vontade do Soberano Pontífice, vontade que temos o dever de tomar conhecida e que devemos ajudar a por em prática.

3. ° — Confiança nas CC. MM., cuja perfeita atualidade a mais alta autoridade da Igreja tudo faz para demonstrar. E para uma leitura atenta, um estudo carinhoso e, sobretudo para a realização na vida prática recomendamos viva e entusiasticamente o texto comentado pelo Pe. Valério Alberton, S. J. que segue de perto o "Commentarium in Constitutionem Apostolicam Bis Saeculari", do Pe. Emvin Busuttil, S. J. (desse Commentarium sabe-se que foi lido e, extraoficialmente, aprovado pelo mesmo Pio XII) e "La Constituition Apostolique Bis Sacculari" do Pe. Ludger Brien, S. J..

Pio XII foi o 16.° congregado mariano que teve assento na Cátedra de Pedro e viveu verdadeiramente sua consagração à Virgem por mais de 60 anos. "Durante o Nosso Pontificado não perdemos nenhuma ocasião de exprimir a nossa viva satisfação pelo constante progresso de movimento das CC. MM. em muitas nações e pelo encorajador apoio dado a elas pelos Nossos Veneráveis Irmãos do Episcopado e do clero". "Todos os que conhecem o Nosso pensamento sobre o apostolado hodierno sabem muito bem quanto estão em Nosso coração as CC. MM. e o seu constante incremento espiritual". Em sua derradeira fala às CC. MM. (discurso de 26-4-58 às congregadas marianas) disse: "Constituís uma dessas Associações sobre as quais poderia parecer que já não há quase mais nada a dizer, pois são muitas vezes que temos falado e escrito sobre vós; e são muitos também os louvores e as advertências que vos temos dirigido em várias ocasiões...". E, de fato, para mais da metade de todos os documentos dos 17 Papas sobre as CC. MM. pertencem a Pio XII, o Papa de Maria, o Papa congregado Mariano. Foi um dos maiores reformadores da Igreja. Veio ao encontro do mundo moderno, no terreno científico e social, sem transigências de espécie alguma e sem renunciar à tradição, uma das grandes forças da Igreja: Reconduziu a liturgia à fonte do Cristianismo, estabelecendo a Missa e a Comunhão à tarde e reformando o cerimonial da Semana Santa; grande devoto da Virgem Santíssima, engastou em sua coroa de glória nova pérola refulgente, proclamando o Dogma da Assunção; foi o Pontífice da Paz, da Liturgia, dos Estudos Bíblicos, das Missões, da Ação Católica, da Virgem Santíssima. Mas nós marianos, temos um motivo todo especial de prestar nossas saudosas homenagens a Pio XII porque foi ele, inquestionavelmente, o grande Pontífice das CC. MM., o Papa congregado mariano e está lá no céu, junto da Rainha, continuando a pedir pelo movimento que tanto amou. (condensado de um artigo do Pe. Valérlo Alberton. S. J.)

CONCLUSÃO

Pelo que ficou resumidamente exposto, verificamos que a importância histórica das CC. MM. se manifesta de três maneiras:

1. ° — Pela reintegração da fé católica nos séculos XV e XVIII, a qual, de maneira nenhuma havia podido fazer tanto fruto só pelos sacerdotes, mas tivera também a contribuição de muitos leigos em diversas situações sociais. Estes leigos sem dúvida alguma, em grande parte, formaram-se nas CC. MM. e nelas foram haurir o amor à religião e o zelo pela defesa da Igreja.
Nota: Respeitante aos tempos modernos podemos afirmar, sem medo de erro: as CC. MM., em grande parte, foram o fundamento e o princípio da organização do apostolado leigo, ou mais propriamente, da Ação Católica.

2. ° — Pela educação da juventude dos séculos XVI a XVIII, defendendo-a do laicismo reinante e dos perigos de doutrinas deletérias que procuravam solapar os ensinamentos de Cristo. E o meio principalíssimo, a escola que usou de métodos estupendos foi a C. M. Das CC. MM. saíram fundadores da Ordens a Congregações Religiosas que foram iniciadoras de grandes obras da apostolado católico. Nasceram, assim, 2 Ordens e 10 Congregações religiosas da homens a 3 Ordens e 17 Congregações religiosas femininas. A Igreja colocou já em seus altares 42 santos, dos quais 12 mártires, 23 confessores e 7 virgens; 43 beatos mártires, dos quais 11 confessores e 2 virgens.

3.° — Pela renovação da vida religiosa e sacerdotal, que em grande parte deve atribuir-se às CC. MM., pois muitíssimos em verdade, e excelentes sacerdotes e Bispos saíram das fileiras das CC. MM.

Nota: Dos 525 primeiros congregados que teve a Prima Primária, 115 entraram no clero secular; 8 foram feitos Bispos e 7 Cardeais; 41 ingressaram na Companhia de Jesus e 20 em outras Ordens Religiosas. Foram, pois ao todo 176 vocações eclesiásticas sobre 525 congregados!