RETIRO INACIANO
PRINCÍPIO E FUNDAMENTO
ADIÇÕES PARA MELHOR SE FAZER OS EXERCÍCIOS
PRIMEIRA SEMANA
1 - CONSIDERAÇÃO E CONTEMPLAÇÃO DO PECADO
2 - MEDITAÇÃO DOS PECADOS
3 - MEDITAÇÃO DO INFERNO
SEGUNDA SEMANA
4 - PARÁBOLA DOS REIS
5 - PARÁBOLA DAS DUAS BANDEIRAS
6 - PARÁBOLA DOS TRÊS BINÁRIOS
7 - PRINCÍPIO E FUNDAMENTO DA HUMILDADE
8 - ESCOLHA DAS OPÇÕES
TERCEIRA SEMANA
9 - CONTEMPLAÇÃO DA PAIXÃO
QUARTA SEMANA
10 - CONTEMPLAÇÃO DA RESSURREIÇÃO
11 - CONTEMPLAÇÃO GLOBAL EM CHAVE DE AMOR
1. No dia anterior aos Exercícios, depois de deitado, antes de adormecer, pensar, por espaço de uma Ave-Maria, a que hora tenho de me levantar e para quê.
2. Quando despertar, não dando lugar a outros pensamentos, advertir logo no que vou contemplar, excitando-me a confusão de tantos pecados meus, propondo exemplos: como se um cavaleiro se achasse diante de seu rei e de toda a sua corte, envergonhado e confundido de muito ter ofendido aquele de quem antes recebeu muitos dons e muitas mercês. E assim mesmo, no segundo exercício: reconhecer-me um grande pecador e que vou, algemado, isto é, preso com cadeias, comparecer diante do sumo e eterno Juiz, lembrando para exemplo, como os encarcerados e algemados, e já merecedores de morte, comparecem ante seu juiz temporal. E, com estes pensamentos, vestir-me; ou com outros, conforme a matéria proposta no dia.
3. A um passo ou dois do lugar onde tenho de meditar ou contemplar, pôr-me de pé, por espaço de um Pai-Nosso, levantado o espírito ao alto, considerando como Deus nosso Senhor me olha, e fazer uma reverência ou uma genuflexão.
4. Entrar na contemplação, ora de joelhos, ora prostrado em terra, ora deitado de rosto para cima, ora sentado, ora de pé, andando sempre a buscar o que quero. Advertiremos em duas coisas:
1. se acho o que quero, de joelhos, não passarei adiante, e se prostrado, do mesmo modo, etc.
2. que no ponto em que achar o que quero, aí repousarei, sem ter ânsia de passar adiante, até que me satisfaça.
Obs.: Nunca se deitará ou se prostrará dentro da Igreja. Faça-se isto sempre em local privado e adequado.
5. Depois de acabado o exercício, observarei como me correram as coisas na contemplação ou meditação. E, se mal, examinarei a causa donde procede, e uma vez descoberta, arrepender-me-ei, para me emendar daí em diante. E, se bem, darei graças a Deus nosso Senhor e farei, outra vez, da mesma maneira.
6. Não querer pensar em coisas de prazer ou alegria, como de glória, ressurreição, etc; porque, para sentir pena, dor e lágrimas pelos nossos pecados, o impede qualquer consideração de gozo e alegria; mas ter antes em mente o querer sentir dor e pena, trazendo mais na memória a morte e o juízo. Esta adição só muda em sentimento de gozo e alegria a partir das meditações da Ressurreição.
7. Privar-me de conforto e claridade, a não ser para rezar, ler e comer. Esta adição só muda em claridade e conforto a partir das meditações da ressurreição.
8. Não rir nem dizer coisa que provoque o riso. Obs: Durante os retiros curtos não é permitido falar de modo algum, exceto em caso de urgência e para pedir direcionamento do diretor ou nas confissões.
9. Refrear a vista, exceto ao receber ou despedir a pessoa com quem precisa falar.
10. Sobre a penitência, a qual se divide em interna e externa.
• A interna é doer-se de seus pecados, com firme propósito de não cometer esses nem quaisquer outros.
• A externa, ou fruto da primeira é castigo dos pecados cometidos. E, pratica-se, principalmente, de três maneiras:
1. Sobre o comer, a saber: quando tiramos o supérfluo, não é penitência, mas temperança; penitência é quando tiramos do conveniente. E, quanto mais e mais, maior e melhor, contando que não se arruíne a pessoa, nem se siga enfermidade notável.
2. Sobre o modo de dormir. E também não é penitência tirar o supérfluo de coisas delicadas ou moles. Mas é penitência quando no modo de dormir se tira do conveniente; e quanto mais e mais, melhor, contanto que não se arruíne a pessoa, nem se siga enfermidade notável, nem muito menos se tire do sono conveniente, a não ser que, por ventura, tenha hábito vicioso de dormir demasiado, para chegar à justa medida.
3. Castigar a carne, a saber, dando-lhe dor sensível, a qual se dá, trazendo cilícios ou cordas ou barras de ferro sobre a carne, flagelando-se ou ferindo-se e outras formas de aspereza. Obs: Apenas em casos previamente autorizados pelo diretor espiritual. Não solicitar isto em vésperas de retiro.
ORAÇÃO PREPARATÓRIA: Pedir graça a Deus nosso Senhor para que todas as minhas intenções, ações e operações sejam puramente ordenadas para serviço e louvor de sua divina majestade.
1º PREÂMBULO: Composição, ver, com a imaginação e considerar estar a minha alma encarcerada neste corpo corruptível neste vale, como desterrado, entre brutos animais.
2º PREÂMBULO: Pedir a Deus nosso Senhor o que quero e desejo. O pedido deve ser conforme a matéria proposta, a saber, se a contemplação é de ressurreição, pedir gozo com Cristo gozoso; se for de Paixão, pedir pena, lágrimas e tormento com Cristo atormentado? Aqui será pedir vergonha e confusão de mim mesmo, vendo quantos foram condenados por um só pecado mortal, e quantas vezes eu mereceria ser condenado para sempre por tantos pecados meus.
O PECADO DOS ANJOS
1º PONTO. Pensar sobre o primeiro pecado, que foi o dos anjos, e logo, sobre o mesmo, o entendimento discorrendo, depois, a vontade, querendo recordar e entender tudo isto para mais me envergonhar e confundir; trazendo em comparação de um pecado dos anjos, tantos pecados meus; e como eles, por um pecado, foram para o inferno, sendo tantas as vezes que eu o mereci por tantos mais. Digo trazer à memória o pecado dos anjos: como sendo eles criados em graça, não querendo servir-se da sua liberdade para prestar reverência e obediência a seu Criador e Senhor, caindo em soberba, passaram da graça à perversidade e foram lançados do céu ao inferno; e assim, depois, discorrer mais em particular com o entendimento e, depois, mover mais os afetos com a vontade.
O PECADO DE ADÃO E EVA
2º PONTO. Exercitar as três potências sobre o pecado de Adão e Eva; trazendo à memória como, pelo tal pecado, fizeram tanto tempo penitência, e quanta corrupção veio ao gênero humano, indo tanta gente para o inferno. Digo trazer à memória o segundo pecado, o de nossos primeiros pais: como, depois que Adão foi criado no campo Damasceno e posto no paraíso terreal, e que Eva foi criada da sua costela, sendo-lhes proibido que comessem da árvore da ciência, eles comeram e por isso pecaram; e como, depois, vestidos de túnicas de peles e expulsos do paraíso, viveram, sem a justiça original que tinham perdido, toda a sua vida em muitos trabalhos e muita penitência; e, depois, discorrer com o entendimento mais em particular, usando também da vontade como está dito.
O PECADO QUE CONDENA
3º PONTO. Pensar sobre o terceiro pecado, o pecado particular de cada um que por um pecado mortal tenha ido para o inferno, e o de muitos outros, sem conta, que para lá foram por menos pecados do que eu. Digo fazer outro tanto sobre o terceiro pecado particular, trazendo à memória a gravidade e malícia do pecado contra o seu Criador e Senhor, discorrer com o entendimento como, em pecar e agir contra a bondade infinita, tal pessoa foi justamente condenada para sempre; e acabar com a vontade, como está dito.
COLÓQUIO. Imaginando a Cristo nosso Senhor diante de mim e pregado na cruz, fazer um colóquio: como de Criador veio a fazer-se homem, e de vida eterna a morte temporal, e assim a morrer por meus pecados. E, assim em colóquio, interrogar-me a mim mesmo: o que tenho feito por Cristo, o que faço por Cristo, o que devo fazer por Cristo; e vendo-o a Ele em tal estado e assim pendente na cruz, discorrer pelo que se me oferecer. Pai nosso
ORAÇÃO PREPARATÓRIA: Pedir graça a Deus nosso Senhor para que todas as minhas intenções, ações e operações sejam puramente ordenadas para serviço e louvor de sua divina majestade.
1º PREÂMBULO: Composição. Imaginar e considerar estar a minha alma encarcerada neste corpo corruptível e todo o composto neste vale, como desterrado, entre brutos animais. Digo todo o composto de alma e corpo.
2º PREÂMBULO: Pedir Deus o que quero: acrescida e intensa dor e lágrimas por meus pecados.
RELEMBRAR OS PECADOS
1º PONTO. É o processo dos pecados, a saber, trazer à memória todos os pecados da vida, considerando ano por ano, ou período por período; para o que aproveitam três coisas: – a primeira, considerar o lugar e a casa onde habitei; a segunda, a convivência que tive com outros; a terceira, o ofício em que vivi.
2º PONTO. Ponderar os pecados, considerando a fealdade e a malícia que cada pecado mortal cometido tem em si, mesmo que não fosse proibido.
3º PONTO. Considerar quem sou eu, diminuindo-me por exemplos:
Primeiro: quanto sou eu em comparação com todos os homens;
Segundo, que coisa são os homens, em comparação com todos os anjos e santos do paraíso;
Terceiro, considerar que coisa é tudo o criado, em comparação com Deus: pois eu só, que posso ser? Quarto, considerar toda a minha corrupção e fealdade corporal; Quinto: considerar-me como uma chaga e um abscesso, donde saíram tantos pecados, tantas maldades e peçonha tão repugnante.
4º PONTO. Considerar quem é Deus, contra quem pequei, segundo os seus atributos, comparando-os aos seus contrários em mim: a sua sapiência à minha ignorância, a sua onipotência à minha fraqueza, a sua justiça à minha iniquidade, a sua bondade à minha malícia.
5º PONTO. Exclamação admirativa, com acrescido afeto, discorrendo por todas as criaturas, como me têm deixado com vida e conservado nela; os anjos, que sendo a espada da justiça divina, como me têm suportado, guardado e rogado por mim; os santos, como têm estado a interceder e rogar por mim; e os céus, sol, lua, estrelas e elementos, frutos, aves, peixes e animais; e a terra, como não se abriu para me tragar, criando novos infernos para sempre penar neles.
COLÓQUIO. Sobre a misericórdia, buscando razões e dando graças a Deus nosso Senhor porque me deu vida até agora, propondo emenda, com a sua graça, para o futuro. Pai Nosso.
1º PREÂMBULO: Composição. Imaginar, o comprimento, largura e profundidade do inferno.
2º PREÂMBULO: Pedir o quero: interno sentimento da pena que padecem os condenados, para que, se me esquecer do amor eterno de Deus, o temor da lembrança destas penas me ajude a não cair em pecado.
FAZER OS SENTIDOS PERCEBEREM O INFERNO
1º PONTO. Imaginar as grandes chamas e as almas como que em corpos incandescentes.
2º PONTO. Ouvir prantos, ruídos de várias vozes, gritos, blasfêmias contra Cristo e contra todos os seus Santos.
3º PONTO. Sentir o cheiro de fumaça, enxofre, esgoto e coisas em putrefação.
4º PONTO. Sentir gosto de coisas muito amargas, lágrimas, tristeza e a consciência se remoendo
5º PONTO. Tocar o fogo e sentir como as almas queimam.
COLÓQUIO. A Cristo nosso Senhor, trazer à memória as almas que estão no inferno; umas porque não acreditaram na sua vinda; outras, acreditando, não agiram segundo os seus mandamentos.
Fazer três grupos: o primeiro antes da vinda de Cristo; o segundo, durante a sua vida; o terceiro, depois da sua vida neste mundo.
Depois disto, dar-lhe graças, porque não me deixou cair em nenhum destes grupos, pondo fim a minha vida. E, assim, como até agora tem tido sempre de mim tanta piedade e misericórdia. 1 Pai Nosso.
O Chamamento do Rei Temporal ajuda a contemplar a vida do Rei Eterno.
ORAÇÃO PREPARATÓRIA: Pedir graça a Deus nosso Senhor para que todas as minhas intenções, ações e operações sejam puramente ordenadas para serviço e louvor de sua divina majestade.
1º PREÂMBULO: É a composição, vendo o lugar. Será aqui ver, com a vista imaginativa, sinagogas, vilas e aldeias por onde Cristo nosso Senhor pregava.
2º PREÂMBULO: Pedir a graça que quero. Será aqui pedir graça a nosso Senhor para que não seja surdo ao seu chamamento, mas pronto e diligente em cumprir sua santíssima vontade.
1º PONTO: Imaginar um rei humano, eleito pela mão de Deus, a quem prestam reverência e obedecem todos os príncipes e todos os homens cristãos.
1º PONTO: Reparar como este rei fala a todos os seus, dizendo: Minha vontade é conquistar toda a terra de infiéis; portanto, quem quiser vir comigo, há de contentar-se em comer, beber e vestir-se como eu. Há de trabalhar comigo, durante o dia e vigiar, durante a noite, para que, assim, depois tenha parte comigo na vitória, como a teve nos trabalhos.
3º PONTO: Considerar o que devem responder os bons súditos a rei tão liberal e tão humano; e, se algum não aceitasse a petição de tal rei, quão desonroso e perverso cavaleiro seria tido por todo o mundo.
Segunda Parte
Consiste em aplicar o exemplo anterior do rei temporal a Cristo, conforme aos três pontos expostos.
1º PONTO: Se consideramos o apelo do rei temporal a seus súditos, quanto mais é coisa digna de consideração ver a Cristo, rei eterno, e diante dele toda a humanidade que por Ele é chamado: Minha vontade é conquistar todo o mundo e todos os inimigos, e assim entrar na glória de meu Pai; portanto, quem quiser vir comigo, há de trabalhar comigo, para que seguindo-me na pena, me siga também na glória.
2º PONTO: Considerar que todos os que tiverem juízo e razão se oferecerão ao trabalho.
3º PONTO: Os que mais se quiserem afeiçoar e assinalar em todo o serviço de seu rei eterno e senhor universal, não somente oferecerão suas pessoas ao trabalho, mas ainda, agindo contra a sua própria sensualidade e contra o seu amor carnal e mundano, farão oblações de maior estima e valor, dizendo:
Eterno Senhor de todas as coisas, eu faço a minha oblação, com vosso favor e ajuda, diante da vossa infinita bondade, e diante da vossa Mãe gloriosa e de todos os santos e santas da corte celestial, que eu quero e desejo e é minha determinação deliberada, contanto que seja vosso maior serviço e louvor, imitar-vos em passar todas as injúrias e todo o desprezo e toda a pobreza, assim material como espiritual, se Vossa Santíssima Majestade me quiser escolher e receber em tal vida e estado.
ORAÇÃO PREPARATÓRIA: Pedir graça a Deus nosso Senhor para que todas as minhas intenções, ações e operações sejam puramente ordenadas para serviço e louvor de sua divina majestade.
1º PREÂMBULO: Cristo chama e quer a todos debaixo de sua bandeira, e Lúcifer, ao contrário, debaixo da sua.
2º PREÂMBULO: Composição, vendo o lugar. Será aqui ver um grande campo de toda aquela região de Jerusalém, onde o sumo general dos bons é Cristo nosso Senhor; outro campo na região de Babilônia, onde o general dos inimigos é Lúcifer.
2º PREÂMBULO: Pedir o que quero; e será aqui pedir conhecimento dos enganos do mau general, ajuda para me guardar deles e conhecimento da vida verdadeira que mostra o sumo e verdadeiro general, e graça para o imitar.
IMAGINAR O GENERAL INIMIGO
1º PONTO. Imaginar o general de todos os inimigos sentado em um grande trono de fogo e fumaça naquele grande campo de Babilônia, uma figura horrível e espantosa.
2º PONTO. Imaginar este general chamando e espalhando inúmeros dêmonios, uns numa cidade e a outros noutra, por todo o mundo, não deixando livres províncias, lugares, estados nem pessoa alguma.
3º PONTO. Imaginar como o general dos inimigos instrui os demônios, explicando como lançar suas redes e correntes: primeiro com a cobiça, oferecendo riquezas, para que recebam as honras mundanas; depois com a soberba. Os três: riquezas, honras mundanas e soberba, nesta ordem, induzirão a todos os outros vícios.
IMAGINAR O GENERAL BOM E VERDADEIRO, CRISTO
1º PONTO. Considerar como Cristo nosso Senhor se apresenta num grande campo daquela região de Jerusalém, em lugar humilde, formoso e gracioso.
2º PONTO. Considerar como o Senhor de todo o mundo escolhe tantas pessoas, apóstolos, discípulos, etc., e os envia por todo o mundo a espalhar a sua sagrada doutrina por todos os estados e condições de pessoas.
2º PONTO. Considerar o sermão que Cristo nosso Senhor faz a todos os seus servos e amigos, que envia a esta expedição, encomendando-lhes que queiram ajudar e trazer a todos, primeiro a suma pobreza espiritual, e, se sua divina majestade os quiser escolher, não menos à pobreza material; depois, ao desejo de opróbrios e desprezos, porque destas duas coisas se segue a humildade; Os três, pobreza contra riqueza; desprezo contra a honra mundana e humildade contra a soberba, nesta ordem, induzirão a todas as outras virtudes.
1º COLÓQUIO. A Nossa Senhora, para que me alcance graça de seu Filho e Senhor, para que eu seja recebido debaixo de sua bandeira, e se sua divina majestade quiser me escolher, possa experimentar a pobreza espiritual e não menos a pobreza material, passar opróbrios e injúrias, para mais nelas o imitar, contanto que as possa passar sem pecado e sem desagradar a Deus; 1 Ave Maria.
2º COLÓQUIO. Pedir o mesmo ao Filho, para que mo alcance do Pai; 1 Alma de Cristo.
3º COLÓQUIO. Pedir o mesmo ao Pai, para que ele mo conceda; 1 Pai nosso.
ORAÇÃO PREPARATÓRIA: Pedir graça a Deus nosso Senhor para que todas as minhas intenções, ações e operações sejam puramente ordenadas para serviço e louvor de sua divina majestade.
1º PREÂMBULO: É a história de três binários de homens: cada um deles adquiriu dez mil ducados, não pura ou devidamente por amor de Deus, e querem todos salvar-se e achar em paz a Deus nosso Senhor, tirando de si o peso e impedimento que têm, para isso, na afeição à coisa adquirida.
2º PREÂMBULO: Composição, vendo o lugar: será aqui ver-me a mim mesmo, como estou diante de Deus nosso Senhor e de todos os seus santos, para desejar e conhecer o que seja mais grato à sua divina bondade.
3º PREÂMBULO: Pedir o que quero. Aqui será pedir graça para escolher o que for mais para glória de sua divina majestade e salvação de minha alma.
1º BINÁRIO: Tirar o afeto que tem à coisa adquirida, para achar em paz a Deus nosso Senhor e saber-se salvar, e não põe os meios até à hora da morte.
2º BINÁRIO: Tirar o afeto, mas de tal modo o quer tirar que fique com a coisa adquirida, de maneira que venha Deus ali aonde ele quer, e não se determina a deixá-la para ir a Deus, ainda que este fosse o melhor estado para ele.
3º BINÁRIO: Tirar o afeto, mas de tal modo o quer tirar que também não tem afeição a ter a coisa adquirida ou não a ter, mas somente deseja querê-la ou não a querer, conforme Deus nosso Senhor lhe puser na vontade, e a si lhe parecer melhor para serviço e louvor de sua divina majestade; e, entretanto, quer fazer de conta que tudo deixa afetivamente, esforçando-se por não querer aquilo nem nenhuma outra coisa, se não o mover somente o serviço de Deus nosso Senhor; de maneira que o desejo de melhor poder servir a Deus nosso Senhor o mova a tomar a coisa ou a deixá-la.
1º COLÓQUIO. A Nossa Senhora, para que me alcance graça de seu Filho; 1 Ave Maria.
2º COLÓQUIO. Pedir o mesmo ao Filho, para que mo alcance do Pai; 1 Alma de Cristo.
3º COLÓQUIO. Pedir o mesmo ao Pai, para que ele mo conceda; 1 Pai nosso.
Nota. É de notar que, quando nós sentimos afeto ou repugnância contra a pobreza atual, quando não somos indiferentes a pobreza ou riqueza, muito aproveita, para extinguir o tal afeto desordenado, pedir nos colóquios (ainda que seja contra a carne) que o Senhor o escolha para a pobreza atual; e que ele assim o quer, pede e suplica, contanto que seja para serviço e louvor da sua divina bondade.
ORAÇÃO PREPARATÓRIA: Pedir graça a Deus nosso Senhor para que todas as minhas intenções, ações e operações sejam puramente ordenadas para serviço e louvor de sua divina majestade.
1ª A HUMILDADE NECESSÁRIA PARA A SALVAÇÃO
Aquela que me permite humilhar-me e me abater o quanto seja possível diante de tentações para infringir um mandamento, de modo que nem que me prometessem fazer-me ser possuidor de todas as coisas do mundo seria o suficiente para me fazer cair em pecado mortal.
2ª A HUMILDADE MAIS PERFEITA QUE A PRIMEIRA
Já não me apego às coisas e prefiro mais a riqueza do que a pobreza, nem a honra do que o desprezo, nem uma vida longa a uma vida curta, nem saúde do que doença, porque compreendo que o que Deus dispor para mim será útil para a salvação da minha alma. Desta forma, nem que me oferecessem tudo no mundo ou ameaçassem me tirar a vida, optaria conscientemente por cometer pecado, mesmo que venial.
3ª A HUMILDADE PERFEITA
Além das outras duas, para me assemelhar e imitar ainda mais a Cristo nosso Senhor, quero e prefiro antes ser pobre com Cristo do que rico para o mundo, desprezado com Cristo do que honrado elo mundo, ser tido por louco ou insensato por causa de Cristo do que sábio diante do mundo, pois assim mesmo Cristo foi tudo isso em primeiro lugar.
1º COLÓQUIO. A Nossa Senhora, para que me alcance graça de seu Filho e Senhor, para que eu seja escolhido para esta terceira e melhor humildade, e se sua divina majestade quiser me escolher, possa experimentar a pobreza, o desprezo, passar opróbrios e injúrias, para mais nelas o imitar, contanto que as possa passar sem pecado e sem desagradar a Deus; 1 Ave Maria.
2º COLÓQUIO. Pedir o mesmo ao Filho, para que mo alcance do Pai; 1 Alma de Cristo.
3º COLÓQUIO. Pedir o mesmo ao Pai, para que ele mo conceda; 1 Pai nosso.
PREÂMBULO: Em toda a boa escolha, quanto é da nossa parte, o olhar da nossa intenção deve ser simples, tendo somente em vista o fim para que sou criado, a saber, para louvor de Deus nosso Senhor e salvação da minha alma; e assim, qualquer coisa que eu eleger deve ser para que me ajude para o fim para que sou criado, não subordinando nem fazendo vir o fim ao meio, mas o meio ao fim. Assim, acontece que muitos elegem primeiro casar-se, o que é meio, e em segundo lugar, servir a Deus nosso Senhor no casamento, quando servir a Deus é fim. Assim também, há outros que, primeiro querem ter benefícios e, depois, servir a Deus neles. De maneira que estes não vão direitos a Deus, mas querem que Deus venha direito às suas afeições desordenadas e, por conseguinte, fazem do fim meio e do meio fim; de sorte que o que haviam de pôr primeiro, põem por último. Porque, primeiro, havemos de propor como objetivo querer servir a Deus, que é o fim e, em segundo lugar, tomar um benefício ou casar-me, se mais me convém, que é o meio para o fim. Assim, nenhuma coisa me deve mover a tomar os tais meios ou a privar-me deles, senão somente o serviço e louvor de Deus nosso Senhor e a salvação eterna de minha alma.
1º PONTO: É necessário que todas as coisas das quais queremos fazer escolha sejam indiferentes ou boas em si mesmas e que militem dentro da Santa Mãe Igreja hierárquica, e não sejam más nem contrárias a ela.
2º PONTO: Há umas coisas que caem sob o âmbito de escolha imutável, como o sacerdócio e o matrimônio; há outras que caem sob o âmbito de escolha mutável, como o tomar benefícios ou deixá-los, o tomar bens temporais ou renunciar-lhes.
3º PONTO: Na escolha imutável, uma vez feita a escolha, não há mais que escolher, porque não se pode dela desatar, como é o matrimônio e o sacerdócio. Se a escolha imutável não foi feita devida e ordenadamente, sem afeições desordenadas, arrependendo-se, procure fazer boa vida na sua escolha; essa escolha não parece que seja vocação divina, por ser desordenada e oblíqua. Com efeito, muitos nisto erram, fazendo da má escolha uma vocação divina; porque toda a vocação divina é sempre pura e límpida, sem mistura vinda da carne nem de outra afeição alguma desordenada.
4º PONTO: Se alguém fez, devida e ordenadamente, escolha de coisas que estão no âmbito de eleição mutável, e não condescendeu com a carne nem com o mundo, não há motivo para, de novo, fazer eleição, mas sim se aperfeiçoar naquela que fez, quanto puder.
Nota. Se foi feita alguma eleição mutável de forma desordenada, pode-se oportunamente refazê-la da forma devida.
1. Escolha de estado de vida ou estados de alma
Três tempos para fazer sã e boa escolha em cada um deles
1º TEMPO: Quando Deus move e atrai a vontade de tal modo que, sem duvidar nem poder duvidar, a alma devota segue o que lhe é mostrado. Assim fizeram, por exemplo, S. Paulo e S. Mateus, ao seguirem a Cristo.
2º TEMPO: Quando se recebe suficiente clareza e conhecimento por experiência de consolações e desolações e por experiência de discernimento de vários espíritos.
3º TEMPO: Tranquilo, considerando primeiro para que nasceu o homem, a saber, para louvar a Deus nosso Senhor e salvar a sua alma; e, desejando isto, escolhe, como meio, uma vida ou estado dos que a Igreja aprova, a fim de ser ajudado no serviço de seu Senhor e salvação de sua alma. Disse tempo tranqüilo, quando a alma não é agitada por vários espíritos e usa de suas potências naturais, livres e tranquilamente.
Se no primeiro ou segundo tempo não se faz escolha, seguem-se dois modos para a fazer neste Terceiro Tempo.
1º PONTO: Propor diante de mim a coisa sobre a qual quero fazer escolha, como, por exemplo, um ofício ou benefício a tomar ou deixar, ou qualquer outra coisa compreendida no âmbito de eleição mutável.
2º PONTO: É preciso ter como objetivo o fim para que sou criado, que é para louvar a Deus nosso Senhor e salvar a minha alma; e, além disso, achar-me indiferente, sem afeição alguma desordenada, de maneira que não esteja mais inclinado nem afeiçoado a tomar a coisa proposta do que a deixá-la, nem mais a deixá-la que a Tomá-la; mas que esteja no meio, como o fiel da balança, a fim de seguir aquilo que julgar ser para mais glória e louvor de Deus nosso Senhor e salvação de minha alma.
3º PONTO: Pedir a Deus nosso Senhor para que queira mover a minha vontade e pôr em minha alma o que devo fazer, quanto à coisa proposta, que mais seja para seu louvor e glória; discorrendo bem e fielmente, com o meu entendimento, e escolhendo conforme a sua santíssima vontade.
4º PONTO: Considerar raciocinando, quantas vantagens ou proveitos para mim se seguem, com ter o cargo ou benefício proposto, só para louvor de Deus nosso Senhor e salvação de minha alma; e, pelo contrário, considerar também os inconvenientes e perigos que há em tê-lo. Fazer o mesmo na segunda parte, a saber, ver as vantagens e proveitos em o não ter; e também, os inconvenientes e perigos em o não ter.
5º PONTO: Depois de assim ter discorrido e refletido, sobre todos os aspectos do assunto proposto, ver para onde a razão mais se inclina; e, assim, conforme a maior moção racional, e não conforme moção alguma da sensibilidade, se deve fazer a deliberação sobre o assunto proposto.
6º PONTO: Feita a eleição ou deliberação, deve a pessoa que a fez, ir, com muita diligência, à oração diante de Deus nosso Senhor, e oferecer-lhe essa eleição, para que sua divina majestade a queira receber e confirmar, se forem para seu maior serviço e louvor.
1ª REGRA: É que aquele amor que me move e me faz eleger tal coisa desça do alto, do amor de Deus; de forma que quem elege, sinta primeiro em si, que o amor maior ou menor que tem à coisa que elege é unicamente por seu Criador e Senhor.
2ª REGRA: Imaginar um homem a quem nunca tenha visto nem conhecido, e desejando-lhe eu toda a sua perfeição, considerar o que eu lhe diria que fizesse e escolhesse para maior glória de Deus nosso Senhor e maior perfeição de sua alma; e, fazendo eu da mesma maneira, guardarei a regra que para o outro proponho.
3ª REGRA: Considerar, como se estivesse em artigo de morte, a forma e a norma de proceder que então quereria ter tido, no modo de fazer a presente eleição; e, regulando-me por ela, em tudo, faça a minha determinação.
4ª REGRA: Atendendo e considerando como me acharei no dia do juízo, pensar como então quereria ter deliberado sobre o assunto presente; e, a regra que então quereria ter tido, tomá-la agora, para que então me ache com inteiro prazer e gozo.
Nota. Tomadas as regras sobreditas para minha salvação e quietude eterna, farei a minha eleição e oblação a Deus nosso Senhor, conforme ao sexto ponto do primeiro modo de fazer eleição [183].
2. Eleição de outras opções para a santidade de vida dentro do seu estado
Para emendar e reformar a própria vida e estado. É de advertir que, para os que estão constituídos em sacerdócio ou em matrimônio (quer abundem muito em bens temporais quer não), quando não há lugar ou muito pronta vontade para fazer escolha das coisas que caem sob escolha mutável, aproveita muito, ao invés de fazer escolha, dar forma e modo para emendar e reformar a própria vida e estado de cada um, a saber: ordenando o seu mundo, vida e estado, para glória e louvor de Deus nosso Senhor e salvação de sua alma. Para vir e chegar a este fim, deve considerar e ruminar muito, por meio dos exercícios e modos de eleger, conforme está declarado, sobre a casa e família que deve ter, como a deve reger e governar, como a deve ensinar, com a palavra e com o exemplo; do mesmo modo, de seus bens, quanto deve tomar para sua família e casa, e quanto para despender com os pobres e com outras obras pias , não querendo nem buscando nenhuma outra coisa senão, em tudo e por tudo, maior louvor e glória de Deus nosso Senhor. Porque pense cada um que tanto aproveitará em todas as coisas espirituais, quanto sair de seu próprio amor, querer e interesse.
A CEIA EM BETÂNIA
Mateus, capítulo 26 [Mt 26,6-Jo 12,1/ Mt 26,7/ Jo 12,4-Mt 26,8.10].
Primeiro. O Senhor ceia em casa de Simão, o leproso, juntamente com Lázaro.
Segundo. Maria derrama o perfume sobre a cabeça de Cristo.
Terceiro. Judas murmura, dizendo: "Para quê este desperdício de perfume"? Mas Jesus defende, outra vez, Madalena, dizendo: "Porque molestais esta mulher por ela Ter feito uma boa obra para comigo"?
ORAÇÃO PREPARATÓRIA: Pedir graça a Deus nosso Senhor para que todas as minhas intenções, ações e operações sejam puramente ordenadas para serviço e louvor de sua divina majestade.
1º PREÂMBULO: Recordar a história; que é aqui como Cristo nosso Senhor, desde Betânia, enviou dois discípulos a Jerusalém, a preparar a ceia e, depois, ele mesmo foi a ela com os outros discípulos; e como, depois de ter comido o cordeiro pascal e ter ceado, lhes lavou os pés e deu seu Sacratíssimo Corpo e Precioso Sangue a seus discípulos, e lhes fez um sermão, depois que Judas foi vender o seu Senhor.
2º PREÂMBULO: Composição, vendo o lugar; será aqui considerar o caminho desde Betânia a Jerusalém, se era largo, se estreito, se plano, etc. Assim mesmo o lugar da ceia, se era grande, se pequeno, se duma maneira ou se de outra.
Terceiro preâmbulo. Pedir o que quero; será aqui dor, sentimento e confusão, porque por meus pecados vai o Senhor à Paixão.
1º PONTO: Ver as pessoas da ceia; e, refletindo em mim mesmo, procurar tirar algum proveito delas.
2º PONTO: Ouvir o que falam; e, de igual modo, tirar algum proveito.
3º PONTO: Observar o que fazem; e tirar também algum proveito.
4º PONTO: Considerar o que Cristo nosso Senhor padece na humanidade ou quer padecer, segundo o passo que se contempla; e, aqui, começar com muita força e esforçar-me por me condoer, entristecer e chorar; e trabalhar assim nos outros pontos que se seguem.
5º PONTO: Considerar como a divindade se esconde, a saber, como poderia destruir os seus inimigos e não o faz, e como deixa padecer a sacratíssima humanidade tão cruelmente.
6º PONTO: Considerar como tudo isto padece por meus pecados, etc; e que devo eu fazer e padecer por ele.
COLÓQUIO: A Cristo nosso Senhor e, ao fim, com um Pai nosso.
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MISTÉRIOS PASSADOS DESDE A CEIA ATÉ AO HORTO INCLUSIVE
Mateus, capítulo 26 e Marcos, capítulo 14 [Mt 26,30.36; Mc 14, 26.32 / Mt 26,37.39b; Lc 22,44 / Mt 26,38; Mc 14,34; Lc 22,44].
Primeiro. O Senhor, acabada a ceia e cantando o hino, foi para o monte das Oliveiras com os seus discípulos, cheios de medo e, deixando os oito em Getsemani, disse: "Sentai-vos aqui, enquanto eu vou ali orar".
Segundo. Acompanhado de S. Pedro, S. Tiago e S. João, orou três vezes, ao Senhor, dizendo: "Pai, se pode fazer, passe de mim este cálice; contudo não se faça a minha vontade, mas a tua". E, estando em agonia, orava mais longamente.
Terceiro. Chegou a tanto temor que dizia: "Triste está a minha alma até à morte". E suou sangue tão copiosamente que diz S. Lucas: "Seu suor era como gotas de sangue que corriam em terra", o que já supõe seus vestidos estarem cheios de sangue.
ORAÇÃO PREPARATÓRIA: Pedir graça a Deus nosso Senhor para que todas as minhas intenções, ações e operações sejam puramente ordenadas para serviço e louvor de sua divina majestade.
1º PREÂMBULO: História; e será aqui como Cristo nosso Senhor desceu com os seus onze discípulos, desde o monte Sião, onde celebrou a ceia, para o vale de Josafat, deixando oito deles numa parte do vale, e os outros três noutra parte do horto; e, pondo-se em oração, sua um suor como gotas de sangue; e depois que, três vezes, fez oração ao Pai, e despertou os seus três discípulos, e depois que, à sua voz, caíram os inimigos, e Judas lhe deu a paz, e S. Pedro cortou a orelha a Malco, e Cristo a pôs em seu lugar, sendo preso como malfeitor, o levam pelo vale a baixo, e depois pela encosta acima para a casa de Anás.
2º PREÂMBULO: Ver o lugar; aqui será considerar o caminho, desde o monte Sião ao vale de Josafat, e assim mesmo o horto, se era largo, se comprido, se de uma maneira, se de outra.
3º PREÂMBULO: Pedir o que quero; o que é próprio pedir na Paixão: dor com Cristo doloroso, quebranto com Cristo quebrantado [48,3], lágrimas, pena interna de tanta pena que Cristo passou por mim.
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N.E.: A partir daqui vão se adaptando os dois preâmbulos e do 4º ao 6º ponto conforme a matéria proposta.
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SEGUNDO DIA
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MISTÉRIOS PASSADOS DESDE O HORTO ATÉ A CASA DE ANÁS, INCLUSIVE
Mateus, 26; Lucas 22; Marcos,15 [Mt 26,49.55; Mc 14,45.48-49; Jo 18,4-6 / Jo 18,10-11; Mt 26,52; Lc 22,51 / Mt 26,56; Mc 14,50; Jo 18,13.17.22].
Primeiro. O Senhor deixa-se beijar por Judas, e prender como um ladrão. Aos que o prendiam, disse: "Saístes para prender-me como a um ladrão, com paus e armas, quando, cada dia, eu estava convosco no templo, ensinando, e não prendestes". E, dizendo: "A quem buscais?", caíram em terra os inimigos.
Segundo. S. Pedro feriu um servo do Pontífice; mas o manso Senhor disse-lhe: "Mete a tua espada no seu lugar"; e sarou a ferida do servo.
Terceiro. Desamparado dos seus discípulos, foi levado a Anás, onde S. Pedro, que o tinha seguido de longe, o negou uma vez, e a Cristo deram uma bofetada, dizendo-lhe: "É assim que respondes ao Pontífice?".
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MISTÉRIOS PASSADOS DESDE A CASA DE ANÁS ATÉ À CASA DE CAIFÁS, INCLUSIVE
[Jo 18,24.26-27; Lc 22,61-62 / – / Lc 22,63-64; Mt 26,67,68; Mc 14,65; Lc 22,64-65].
Primeiro. Levam-no atado desde a casa de Anás à casa de Caifás, onde S. Pedro o negou duas vezes e, olhado pelo Senhor, saiu para fora e chorou amargamente.
Segundo. Esteve Jesus, toda aquela noite, atado.
Terceiro. Além disso, os que o tinham prendido burlavam dele, e batiam-lhe, e cobriam-lhe a cara, e davam-lhe bofetadas, e perguntavam-lhe: "Profetiza-nos quem é o que te bateu". E blasfemavam contra ele, dizendo coisas semelhantes.
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TERCEIRO DIA
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MISTÉRIOS PASSADOS DESDE A CASA DE CAIFÁS À DE PILATOS, INCLUSIVE
Mateus, 26; Lucas, 23; Marcos, 15 [Lc 23,1; Mt 27,2; Lc 23,2 / Jo 18,38b; Lc 23,4 / Jo 18,40].
Primeiro. Toda a multidão dos Judeus o leva a Pilatos e diante dele o acusa, dizendo: "Encontramos a este que deitava a perder o nosso povo e proibia pagar tributo a César".
Segundo. Depois de Pilatos o ter, uma e outra vez, examinado, Pilatos disse: "Eu não acho culpa nenhuma".
Terceiro. Foi-lhe preferido Barrabás, um ladrão: "Gritaram todos dizendo: Não soltes a este, mas a Barrabás".
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MISTÉRIOS PASSADOS DESDE A CASA DE PILATOS ATÉ A DE HERODES
[Lc 23,7 / 8-10 / 11].
Primeiro. Pilatos enviou Jesus, Galileu, a Herodes, tetrarca da Galiléia.
Segundo. Herodes, curioso, interrogou-o longamente; e ele nenhuma coisa lhe respondia, ainda que os escribas e os sacerdotes o acusavam constantemente.
Terceiro. Herodes, com a sua guarda, desprezou-o, vestindo-o com uma veste branca.
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QUARTO DIA
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MISTÉRIOS PASSADOS DESDE A CASA DE HERODES A PILATOS
Mateus, 26; Lucas, 23; Marcos, 15; João, 19 [Lc 23,11b-12 / Jo 19,1-3 / Jo 19,5-6a].
Primeiro. Herodes torna-o a enviar a Pilatos, pelo que se fizeram amigos, pois antes eram inimigos.
Segundo. Tomou Pilatos a Jesus e açoitou-o; e os soldados fizeram uma coroa de espinhos e puseram-na sobre a cabeça e vestiram-no de púrpura e aproximavam-se dele e diziam: "Deus te salve, rei dos Judeus"; e davam-lhe bofetadas.
Terceiro. Trouxe-o para fora à presença de todos: "Saiu pois Jesus fora, coroado de espinhos e vestido de púrpura. E disse-lhes Pilatos: "Eis aqui o homem". E, logo que o viram, os Pontífices davam gritos, dizendo: "Crucifica-o, crucifica-o".
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QUINTO DIA
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MISTÉRIOS PASSADOS DESDE A CASA DE PILATOS ATÉ A CRUZ, INCLUSIVE
João 19 [Jo 19,13-16 / Mt 27,32; Mc 15,21; Lc 22,26 / Lc 23,33b; Jo 19,18.19].
Primeiro. Pilatos, sentado como juiz, entregou-lhes Jesus, para que o crucificassem, depois de os Judeus o haverem negado por seu rei, dizendo "Não temos outro rei senão César".
Segundo. Levava a cruz às costas, e não a podendo levar, foi constrangido Simão Cireneu para que a levasse atrás de Jesus.
Terceiro. Crucificaram-no no meio de dois ladrões e puseram esta inscrição: "Jesus Nazareno, rei dos Judeus".
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MISTÉRIOS PASSADOS NA CRUZ
João, 19, 23-27 [Lc 23,34.43; Jo 19,26-27.28; Mc 15,34; Mt 27,46; Jo 19,30; Lc 23,46; Mt 27,51-52; Mc 15,38; Lc 23,45 / Mt 27,51-52 / Mt 27,3940-Mc 15,33-36; Jo 19,23-24-Mt 27,35; Jo 19,34].
Primeiro. Disse sete palavras na cruz: Rogou pelos que o crucificavam; perdoou ao ladrão; encomendou a S. João a sua Mãe, e à Mãe a S. João; disse com voz alta: "Tenho sede", e deram-lhe fel e vinagre; disse que estava desamparado; disse: "Tudo está consumado"; disse: "Pai em tuas encomendo o meu espírito".
Segundo. O sol ficou escurecido, as pedras quebradas, as sepulturas abertas, o véu do templo rasgado em duas partes de cima abaixo.
Terceiro. Blasfemavam contra ele, dizendo: "Tu que destróis o templo de Deus, baixa da cruz"; foram divididos os seus vestidos; ferido com a lança o seu lado, manou água e sangue.
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SEXTO DIA
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MISTÉRIOS PASSADOS DESDE A CRUZ ATÉ O SEPULCRO, INCLUSIVE
No mesmo capítulo [Jo 19,38-39 / Jo 19,40-42 / Mt 27,65-66].
Primeiro. Foi tirado da cruz por José e Nicodemos, em presença de sua Mãe dolorosa.
Segundo. Foi levado o corpo ao sepulcro e ungido e sepultado.
Terceiro. Foram postos guardas.
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SÉTIMO DIA
Contemplação de toda a Paixão; e, em lugar das duas Repetições e da Aplicação de Sentidos, considerar, todo aquele dia, o mais freqüentemente que puder, como o corpo sacratíssimo de Cristo nosso Senhor ficou desatado e apartado da alma, e onde e como ficou sepultado. Considere-se assim mesmo, a solidão de nossa Senhora, com tanta dor e aflição; depois, por outra parte, a dos discípulos.
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Nota. É de advertir, como antes, e em parte, está declarado, que nos colóquios devemos argumentar e pedir, segundo a matéria proposta, a saber, conforme me acho tentado ou consolado, e conforme desejo ter uma virtude ou outra, conforme quero dispor de mim a uma ou a outra parte, conforme quero sentir dor ou gozo da coisa que contemplo, finalmente pedindo aquilo que mais eficazmente desejo acerca de algumas coisas particulares; e, desta maneira, pode fazer um só colóquio a Cristo, nosso Senhor, ou, se a matéria ou a devoção o move, pode fazer três colóquios, um à Mãe, outro ao Filho, outro ao Pai, pela mesma forma que está dito na segunda semana, na meditação das Duas Bandeiras com a nota que se segue aos Binários.
INDICAÇÕES TÉCNICAS
A. Escalonamento da oração
204 Primeira nota. Nesta Segunda Contemplação, depois de feita a oração preparatória com os três preâmbulos já mencionados, ter-se-á a mesma forma de proceder, nos pontos e no colóquio, que se teve na Primeira Contemplação da Ceia; e à hora da Missa e à das Vésperas, se farão duas repetições sobre a primeira e segunda contemplação, e, depois, antes de jantar, se aplicarão os sentidos sobre as duas sobreditas contemplações; antepondo sempre a oração preparatória e os três preâmbulos, conforme a matéria exposta, da mesma forma que está dito e declarado na segunda semana [119, 159, cfr. 72].
205 Segunda nota. Segundo a idade, disposição e temperamento ajudem à pessoa que se exercita, fará, cada dia, os cinco exercícios ou menos.
B. Ambientação da oração
206 Terceira nota. Nesta terceira semana, se mudarão, em parte, a segunda e a sexta adição [74, 78; cf. 130].
A segunda adição será: logo ao despertar, pôr diante de mim aonde vou e a quê, resumindo, um pouco, a contemplação que quero fazer, conforme for o mistério [74]; esforçando-me, enquanto me levanto e visto, por me entristecer e me condoer de tanta dor e de tanto padecer de Cristo nosso Senhor.
A sexta adição se mudará, procurando não fomentar pensamentos alegres, ainda que bons e santos, como os de ressurreição e de glória, mas antes, induzir-me a mim mesmo a dor e a pena e abatimento, trazendo freqüentemente à memória os trabalhos, fadigas e dores que Cristo nosso Senhor passou, desde o momento em que nasceu até ao mistério da Paixão em que, ao presente, me encontro [78, 130].
Nota. É de notar que, quem se quiser alongar mais na Paixão, há de tomar, em cada contemplação, menos mistérios [cf. 162], a saber, na primeira contemplação, somente a Ceia; na segunda, o lava-pés; na terceira, o dom do Sacramento da Eucaristia; na quarta, o sermão que Cristo fez aos discípulos; e assim nas outras contemplações e mistérios. Assim mesmo, depois de acabada a Paixão, tome, um dia inteiro, metade de toda a Paixão; e, no segundo dia, a outra metade; e no terceiro dia, toda a Paixão. Pelo contrário, quem quiser abreviar mais a Paixão, tome, à meia-noite, a Ceia; de manhã, o horto; à hora da missa, a casa de Anás; à hora de vésperas, a casa de Caifás; na hora antes do jantar, a casa de Pilatos; de maneira que, não fazendo repetições nem a aplicação de sentidos, faça, cada dia, cinco exercícios distintos, e, em cada um dos exercícios, distinto mistério de Cristo nosso Senhor; e depois de acabada assim toda a Paixão, pode fazer, outro dia, toda a Paixão junta, num exercício ou em diversos, como mais lhe parecer que poderá aproveitar-se.
Sua primeira aparição [Vita Christi].
Primeiro. Apareceu à Virgem Maria; o que, ainda que se não diga na Escritura, se tem como dito, ao dizer que apareceu a tantos outros; porque a Escritura supõe que temos entendimento, como está escrito: "Também vós estais sem entendimento?".
ORAÇÃO PREPARATÓRIA: Pedir graça a Deus nosso Senhor para que todas as minhas intenções, ações e operações sejam puramente ordenadas para serviço e louvor de sua divina majestade.
1º PREÂMBULO: História, que é aqui como, depois que Cristo expirou na cruz, e o corpo ficou separado da alma e com ele sempre unida a divindade, a alma bem-aventurada desceu aos infernos, também unida com a divindade; de onde tirou as almas justas, e veio ao sepulcro, e, ressuscitado, apareceu a Sua bendita Mãe, em corpo e alma.
2º PREÂMBULO: Composição, vendo o lugar, que será aqui, ver a disposição do santo sepulcro e o lugar ou casa de nossa Senhora, observando as suas diversas partes, em particular; assim como o quarto, oratório, etc.
3º PREÂMBULO: Pedir o que quero; e será aqui pedir graça para me alegrar e gozar intensamente de tanta glória e gozo de Cristo nosso Senhor.
1º PONTO: Ver as pessoas da situação; e, refletindo em mim mesmo, procurar tirar algum proveito delas.
2º PONTO: Ouvir o que falam; e, de igual modo, tirar algum proveito.
3º PONTO: Observar o que fazem; e tirar também algum proveito.
4º PONTO: Considerar como a divindade, que parecia esconder-se na Paixão, aparece e se mostra agora, tão miraculosamente, na santíssima Ressurreição, pelos verdadeiros e santíssimos efeitos dela.
5º PONTO: Reparar no ofício de consolar que Cristo nosso Senhor traz e compará-lo com o modo como os amigos se costumam consolar uns aos outros.
COLÓQUIO: Segundo a matéria proposta; 1 Pai nosso.
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N.E.: A partir daqui vão se adaptando os dois preâmbulos e do 4º e o 5º ponto conforme a matéria proposta.
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SEGUNDA APARIÇÃO
Marcos, capítulo 16, 1-11 [Vita Christi ; Mc 16,1-3 / Mc 16,4.6b / Mc 16,9-Jo 20,1118].
Primeiro. Vão, muito de manhã, Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago e Salomé ao sepulcro, dizendo: "Quem nos levantará a pedra da porta do sepulcro?"
Segundo. Vêem a pedra levantada e o anjo que diz: "Buscais Jesus de Nazaré; já ressuscitou, não está aqui".
Terceiro. Apareceu a Maria que ficou perto do sepulcro, depois de idas as outras.
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TERCEIRA APARIÇÃO
São Mateus, último capítulo [Vita Christi; Mt 28,8 / Mt 28,9 / Mt 28,10].
Primeiro. Saem as Marias do sepulcro, com temor e grande gozo, querendo anunciar aos discípulos a ressurreição do Senhor.
Segundo. Cristo nosso Senhor apareceu-lhes, no caminho, dizendo-lhes: "Deus vos salve"; e elas aproximaram-se, prostraram-se a seus pés e adoraram-no.
Terceiro. Jesus disse-lhes: "Não temais, ide e dizei a meus irmãos que vão para a Galiléia, porque ali me verão".
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QUARTA APARIÇÃO
Lucas, último capítulo [Vita Christi; Lc 24,9-12.34; Jo 20,1-10].
Primeiro. Tendo ouvido das mulheres que Cristo estava ressuscitado, foi S. Pedro depressa ao sepulcro.
Segundo. Entrando no sepulcro, viu só os panos com que fora coberto o corpo de Cristo nosso Senhor, e mais nada.
Terceiro. Pensando S. Pedro nestas coisas, apareceu-lhe Cristo e por isso os apóstolos diziam: "Verdadeiramente o Senhor ressuscitou, e apareceu a Simão".
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QUINTA APARIÇÃO
No último capítulo de São Lucas [Vita Christi; Lc 24,13-24 / 25-26 / 29-33.35].
Primeiro. Aparece aos discípulos que iam para Emaús, falando de Cristo.
Segundo. Repreende-os, mostrando pelas Escrituras que Cristo tinha de morrer e ressuscitar: "Ó ignorantes e tardos de coração para crer tudo o que disseram os profetas! Não era necessário que Cristo padecesse e assim entrasse na sua glória"?
Terceiro. A pedido deles, detém-se ali, e esteve com eles, até que, ao dar-lhes a comunhão, desapareceu. E eles, regressando, disseram aos discípulos como o tinham conhecido na comunhão.
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SEXTA APARIÇÃO
João, capítulo 20 [Vita Christi; cf. Lc 24,33ss / Jo 20,19 / 22-23].
Primeiro. Os discípulos estavam reunidos "por medo dos Judeus", exceto Tomé.
Segundo. Apareceu-lhes Jesus, estando as portas fechadas; e, estando no meio deles, disse: "A paz esteja convosco".
Terceiro. Dá-lhes o Espírito Santo, dizendo-lhes: "Recebei o Espírito Santo; àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados".
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SÉTIMA APARIÇÃO
João, 20,24-29 [Vita Christi; Jo 20,24-25 / 26-27 / 28-29].
Primeiro. São Tomé, incrédulo, porque estava ausente na aparição precedente, disse: "Se não o vir não acreditarei".
Segundo. Aparece-lhes Jesus, daí a oito dias, estando as portas fechadas, e diz a S. Tomé: "Mete aqui o teu dedo e vê a verdade, e não queiras ser incrédulo, mas fiel".
Terceiro. S. Tomé acreditou, dizendo: "Meu Senhor e meu Deus". Disse-lhe Cristo: "Bem-aventurados os que não viram e creram".
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OITAVA APARIÇÃO
João, último capítulo [Vita Christi; Jo 21,1-6 / 7 / 9-10.12-13.15-17].
Primeiro. Jesus aparece a sete dos seus discípulos que estavam pescando, os quais, por toda a noite, não tinham apanhado nada, e lançando a rede, por ordem de Jesus, "não podiam tirá-la, pela grande quantidade de peixes".
Segundo. Por este milagre, S. João reconheceu Jesus, e disse a S. Pedro: "É o Senhor". Pedro deitou-se ao mar, e veio ter com Cristo.
Terceiro. Deu-lhes a comer parte de um peixe assado, e um favo de mel; e encomendou as ovelhas a S. Pedro, examinando-o, primeiro, três vezes, sobre a caridade, e disse-lhe: "apascenta as minhas ovelhas".
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NONA APARIÇÃO
Mateus, último capítulo [Vita Christi; Mt 28,16 / 17.18 / 19].
Primeiro. Os discípulos, por ordem do Senhor, vão ao monte Tabor.
Segundo. Cristo aparece-lhes e diz: "Foi-me dado todo o poder no céu e na terra".
Terceiro. Enviou-os por todo o mundo a pregar, dizendo: "Ide e ensinai todas as gentes, batizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo".
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DÉCIMA APARIÇÃO
Primeira epístola aos Coríntios, capítulo 15,6 [1Cor 15,6a].
"Depois foi visto por mais de quinhentos irmãos juntos".
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DÉCIMA PRIMEIRA APARIÇÃO
Primeira epístola aos Coríntios, capítulo 15,7 [1Cor 15,7a]
"Apareceu depois a São Tiago".
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DÉCIMA Segunda APARIÇÃO
[Vita Christi] Apareceu a José de Arimateia, como piamente se medita e se lê na vida dos Santos.
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DÉCIMA TERCEIRA APARIÇÃO
Primeira epístola aos Coríntios, capítulo 15,8 [1Cor 15,8/ Credo / 1Cor 15,7].
Apareceu a S. Paulo, depois da Ascensão: "Finalmente apareceu-me a mim como a um aborto". Apareceu também em alma aos Santos Padres do Limbo; e, depois de os ter de lá tirado, e tornado a tomar o seu corpo, apareceu, muitas vezes, aos discípulos e conversava com eles.
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ASCENSÃO DE CRISTO NOSSO SENHOR
Atos, 1,1-12 [Vita Christi; At 1,3-4-Lc 24,49 / Lc 24,50-Act 1,9 / At 1,10,11].
Primeiro. Depois de ter aparecido aos seus Apóstolos, durante quarenta dias, dando-lhes muitas provas e sinais e falando-lhes do Reino de Deus, mandou-lhes que em Jerusalém esperassem o Espírito Santo prometido.
Segundo. Levou-os ao monte das Oliveiras e, em presença deles, elevou-se, e uma nuvem fê-lo desaparecer aos seus olhos.
Terceiro. Estando eles a olhar para o céu, dizem-lhes os anjos: "Homens da Galiléia, porque estais a olhar para o céu? Este Jesus que, de vossos olhos é levado para o céu, virá do mesmo modo que o vistes ir ao céu".
INDICAÇÕES TÉCNICAS
1ª Nota. Nas contemplações seguintes proceda-se em todos os mistérios da Ressurreição até à Ascensão inclusive [299-312], da maneira que abaixo se segue [226, 34]; no restante, siga-se e tenha-se, em toda a semana da Ressurreição, a mesma forma e maneira de proceder que se observou em toda a semana da Paixão. De sorte que, por esta primeira contemplação da Ressurreição, se regule quanto aos preâmbulos, conforme a matéria proposta; e quanto aos cinco pontos, sejam os mesmos; e as adições, que estão abaixo, sejam as mesmas [229]. E assim, em tudo o que resta [227], pode regular-se pela maneira de fazer da semana da Paixão, por exemplo, nas repetições, aplicações dos cinco sentidos, encurtar ou alargar os mistérios, etc. [204,2; 205; 208-209].
2ª Nota. Geralmente, nesta quarta semana, é mais conveniente que nas outras três passadas, fazer quatro exercícios e não cinco. O primeiro, logo ao levantar, pela manhã; o segundo, à hora da Missa, ou antes, do almoço, em lugar da primeira repetição; o terceiro, à hora de Vésperas, em lugar da segunda repetição; o quarto antes do jantar, aplicando os cinco sentidos sobre os três exercícios do mesmo dia, notando e fazendo pausa nas partes mais importantes e onde haja sentido maiores moções e gostos espirituais.
3ª Nota. Ainda que em todas as contemplações se deram pontos em número determinado, por exemplo, três ou cinco, etc., a pessoa que contempla pode tomar mais ou menos pontos, como melhor achar. Para o que muito aproveita que, antes de entrar na contemplação, preveja e determine, em número certo, os pontos que há de tomar.
4ª Nota. Nesta quarta semana, em todas as dez adições, se mudarão a segunda, a sexta, a sétima e a décima. A segunda será, logo ao despertar, pôr diante de mim a contemplação que tenho de fazer, querendo-me sensibilizar e alegrar por tanto gozo e alegria de Cristo nosso Senhor [221]. A sexta, trazer à memória e pensar em coisas que causem prazer, alegria e gozo espiritual, como, por exemplo, a glória. A sétima, usar de claridade e de temperaturas agradáveis, como, no verão, de frescura, e no inverno, de sol ou de calor, na medida em que a alma pensa ou conjectura que isso a pode ajudar, para se alegrar em seu Criador e Redentor. A décima, em vez da penitência, observe a temperança e a justa medida em tudo, a não ser em preceitos de jejuns ou abstinências que a Igreja mande; porque estes sempre se hão de cumprir, se não houver justo impedimento.
Nota: primeiro convém atender a duas coisas. A primeira é que o amor se deve pôr mais nas obras que nas palavras.
2ª Nota: é que o amor consiste na comunicação recíproca, a saber, em dar e comunicar a pessoa que ama à pessoa amada o que tem ou do que tem ou pode; e, vice-versa, a pessoa que é amada à pessoa que ama; de maneira que, se um tem ciência, a dê ao que a não tem, e do mesmo modo quanto a honras ou riquezas; e assim em tudo reciprocamente, um ao outro.
ORAÇÃO PREPARATÓRIA: Pedir graça a Deus nosso Senhor para que todas as minhas intenções, ações e operações sejam puramente ordenadas para serviço e louvor de sua divina majestade.
1º PREÂMBULO: Composição, que é aqui ver como estou diante de Deus nosso Senhor, dos anjos, e dos santos a intercederem por mim.
2º PREÂMBULO: Pedir o que quero; será aqui pedir conhecimento interno de tanto bem recebido, para que eu, reconhecendo-o inteiramente, possa, em tudo, amar e servir a sua divina majestade.
1º PONTO: Trazer à memória os benefícios recebidos de criação, redenção e os dons particulares, ponderando, com muito afeto, quanto tem feito Deus nosso Senhor por mim e quanto me tem dado do que tem e, conseqüentemente, o mesmo Senhor deseja dar-se-me, em quanto pode, segundo seu desígnio divino. E, depois disto, refletir em mim mesmo, considerando, com muita razão e justiça, o que eu devo, de minha parte, oferecer e dar a sua divina majestade, a saber, todas as minhas coisas e a mim mesmo com elas, como quem oferece, com muito afeto: Tomai, Senhor, e recebei toda a minha liberdade, a minha memória, o meu entendimento e toda a minha vontade, tudo o que tenho e possuo; Vós mo destes; a Vós, Senhor, o restituo. Tudo é vosso, disponde de tudo, à vossa inteira vontade. Dai-me o vosso amor e graça que me bastam.
2º PONTO: Considerar como Deus habita nas criaturas: nos elementos dando-lhes o ser, nas plantas o vegetar, nos animais o sentir, nos homens o entender; e, assim, em mim dando-me ser, vida, sentidos e fazendo-me entender. E também como faz de mim seu templo, sendo eu criado à semelhança e imagem de sua divina majestade. Refletir igualmente em mim mesmo, pelo modo que está dito no primeiro ponto, ou por outro que julgar melhor. Da mesma maneira se fará sobre cada ponto que segue.
3º PONTO: Considerar como Deus trabalha e opera por mim em todas as coisas criadas sobre a face da terra, isto é, procede à semelhança de quem trabalhasse. Por exemplo, nos céus, nos elementos, nas plantas, nos frutos, nos animais, etc., dando-lhes ser, conservação, vegetação e sensação, etc. Depois, refletir em mim mesmo.
4º PONTO: Atender como todos os bens e dons descem do alto, por exemplo, como o meu limitado poder vem do sumo e infinito poder do alto, e bem assim, a justiça, a bondade, a piedade, a misericórdia, etc., tal como do sol descem os raios, da fonte as águas, etc. Depois, acabar, refletindo em mim mesmo, como está dito. Terminar com um colóquio e um Pai nosso.
ADIÇÕES PARA MELHOR SE FAZER OS EXERCÍCIOS
PRIMEIRA SEMANA
1 - CONSIDERAÇÃO E CONTEMPLAÇÃO DO PECADO
2 - MEDITAÇÃO DOS PECADOS
3 - MEDITAÇÃO DO INFERNO
SEGUNDA SEMANA
4 - PARÁBOLA DOS REIS
5 - PARÁBOLA DAS DUAS BANDEIRAS
6 - PARÁBOLA DOS TRÊS BINÁRIOS
7 - PRINCÍPIO E FUNDAMENTO DA HUMILDADE
8 - ESCOLHA DAS OPÇÕES
TERCEIRA SEMANA
9 - CONTEMPLAÇÃO DA PAIXÃO
QUARTA SEMANA
10 - CONTEMPLAÇÃO DA RESSURREIÇÃO
11 - CONTEMPLAÇÃO GLOBAL EM CHAVE DE AMOR
PRINCÍPIO E FUNDAMENTO DE TODOS OS EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS
O homem é criado para louvar, prestar reverência e servir a Deus nosso Senhor e, mediante isto, salvar a sua alma; e as outras coisas sobre a face da terra são criadas para o homem, para que o ajudem a conseguir o fim para que é criado. Donde se segue que o homem tanto há de usar delas quanto o ajudam para o seu fim, e tanto deve deixar-se delas, quanto disso o impedem.
Pelo que, é necessário fazer-nos indiferentes a todas as coisas criadas, em tudo o que é concedido à liberdade do nosso livre arbítrio, e não lhe está proibido; de tal maneira que, da nossa parte, não queiramos mais saúde que doença, riqueza que pobreza, honra que desonra, vida longa que vida curta, e conseqüentemente em tudo o mais; mas somente desejemos e escolhamos o que mais nos conduz para o fim para que somos criados.
Pelo que, é necessário fazer-nos indiferentes a todas as coisas criadas, em tudo o que é concedido à liberdade do nosso livre arbítrio, e não lhe está proibido; de tal maneira que, da nossa parte, não queiramos mais saúde que doença, riqueza que pobreza, honra que desonra, vida longa que vida curta, e conseqüentemente em tudo o mais; mas somente desejemos e escolhamos o que mais nos conduz para o fim para que somos criados.
ADIÇÕES PARA MELHOR SE FAZER OS EXERCÍCIOS
E para melhor achar o que deseja1. No dia anterior aos Exercícios, depois de deitado, antes de adormecer, pensar, por espaço de uma Ave-Maria, a que hora tenho de me levantar e para quê.
2. Quando despertar, não dando lugar a outros pensamentos, advertir logo no que vou contemplar, excitando-me a confusão de tantos pecados meus, propondo exemplos: como se um cavaleiro se achasse diante de seu rei e de toda a sua corte, envergonhado e confundido de muito ter ofendido aquele de quem antes recebeu muitos dons e muitas mercês. E assim mesmo, no segundo exercício: reconhecer-me um grande pecador e que vou, algemado, isto é, preso com cadeias, comparecer diante do sumo e eterno Juiz, lembrando para exemplo, como os encarcerados e algemados, e já merecedores de morte, comparecem ante seu juiz temporal. E, com estes pensamentos, vestir-me; ou com outros, conforme a matéria proposta no dia.
3. A um passo ou dois do lugar onde tenho de meditar ou contemplar, pôr-me de pé, por espaço de um Pai-Nosso, levantado o espírito ao alto, considerando como Deus nosso Senhor me olha, e fazer uma reverência ou uma genuflexão.
4. Entrar na contemplação, ora de joelhos, ora prostrado em terra, ora deitado de rosto para cima, ora sentado, ora de pé, andando sempre a buscar o que quero. Advertiremos em duas coisas:
1. se acho o que quero, de joelhos, não passarei adiante, e se prostrado, do mesmo modo, etc.
2. que no ponto em que achar o que quero, aí repousarei, sem ter ânsia de passar adiante, até que me satisfaça.
Obs.: Nunca se deitará ou se prostrará dentro da Igreja. Faça-se isto sempre em local privado e adequado.
5. Depois de acabado o exercício, observarei como me correram as coisas na contemplação ou meditação. E, se mal, examinarei a causa donde procede, e uma vez descoberta, arrepender-me-ei, para me emendar daí em diante. E, se bem, darei graças a Deus nosso Senhor e farei, outra vez, da mesma maneira.
6. Não querer pensar em coisas de prazer ou alegria, como de glória, ressurreição, etc; porque, para sentir pena, dor e lágrimas pelos nossos pecados, o impede qualquer consideração de gozo e alegria; mas ter antes em mente o querer sentir dor e pena, trazendo mais na memória a morte e o juízo. Esta adição só muda em sentimento de gozo e alegria a partir das meditações da Ressurreição.
7. Privar-me de conforto e claridade, a não ser para rezar, ler e comer. Esta adição só muda em claridade e conforto a partir das meditações da ressurreição.
8. Não rir nem dizer coisa que provoque o riso. Obs: Durante os retiros curtos não é permitido falar de modo algum, exceto em caso de urgência e para pedir direcionamento do diretor ou nas confissões.
9. Refrear a vista, exceto ao receber ou despedir a pessoa com quem precisa falar.
10. Sobre a penitência, a qual se divide em interna e externa.
• A interna é doer-se de seus pecados, com firme propósito de não cometer esses nem quaisquer outros.
• A externa, ou fruto da primeira é castigo dos pecados cometidos. E, pratica-se, principalmente, de três maneiras:
1. Sobre o comer, a saber: quando tiramos o supérfluo, não é penitência, mas temperança; penitência é quando tiramos do conveniente. E, quanto mais e mais, maior e melhor, contando que não se arruíne a pessoa, nem se siga enfermidade notável.
2. Sobre o modo de dormir. E também não é penitência tirar o supérfluo de coisas delicadas ou moles. Mas é penitência quando no modo de dormir se tira do conveniente; e quanto mais e mais, melhor, contanto que não se arruíne a pessoa, nem se siga enfermidade notável, nem muito menos se tire do sono conveniente, a não ser que, por ventura, tenha hábito vicioso de dormir demasiado, para chegar à justa medida.
3. Castigar a carne, a saber, dando-lhe dor sensível, a qual se dá, trazendo cilícios ou cordas ou barras de ferro sobre a carne, flagelando-se ou ferindo-se e outras formas de aspereza. Obs: Apenas em casos previamente autorizados pelo diretor espiritual. Não solicitar isto em vésperas de retiro.
1 - CONSIDERAÇÃO E CONTEMPLAÇÃO DO PECADO
O primeiro exercício é meditação com as três potências sobre o primeiro, segundo e terceiro pecado. Compreende, depois de uma oração preparatória e dois preâmbulos, três pontos principais e um colóquio.ORAÇÃO PREPARATÓRIA: Pedir graça a Deus nosso Senhor para que todas as minhas intenções, ações e operações sejam puramente ordenadas para serviço e louvor de sua divina majestade.
1º PREÂMBULO: Composição, ver, com a imaginação e considerar estar a minha alma encarcerada neste corpo corruptível neste vale, como desterrado, entre brutos animais.
2º PREÂMBULO: Pedir a Deus nosso Senhor o que quero e desejo. O pedido deve ser conforme a matéria proposta, a saber, se a contemplação é de ressurreição, pedir gozo com Cristo gozoso; se for de Paixão, pedir pena, lágrimas e tormento com Cristo atormentado? Aqui será pedir vergonha e confusão de mim mesmo, vendo quantos foram condenados por um só pecado mortal, e quantas vezes eu mereceria ser condenado para sempre por tantos pecados meus.
O PECADO DOS ANJOS
1º PONTO. Pensar sobre o primeiro pecado, que foi o dos anjos, e logo, sobre o mesmo, o entendimento discorrendo, depois, a vontade, querendo recordar e entender tudo isto para mais me envergonhar e confundir; trazendo em comparação de um pecado dos anjos, tantos pecados meus; e como eles, por um pecado, foram para o inferno, sendo tantas as vezes que eu o mereci por tantos mais. Digo trazer à memória o pecado dos anjos: como sendo eles criados em graça, não querendo servir-se da sua liberdade para prestar reverência e obediência a seu Criador e Senhor, caindo em soberba, passaram da graça à perversidade e foram lançados do céu ao inferno; e assim, depois, discorrer mais em particular com o entendimento e, depois, mover mais os afetos com a vontade.
O PECADO DE ADÃO E EVA
2º PONTO. Exercitar as três potências sobre o pecado de Adão e Eva; trazendo à memória como, pelo tal pecado, fizeram tanto tempo penitência, e quanta corrupção veio ao gênero humano, indo tanta gente para o inferno. Digo trazer à memória o segundo pecado, o de nossos primeiros pais: como, depois que Adão foi criado no campo Damasceno e posto no paraíso terreal, e que Eva foi criada da sua costela, sendo-lhes proibido que comessem da árvore da ciência, eles comeram e por isso pecaram; e como, depois, vestidos de túnicas de peles e expulsos do paraíso, viveram, sem a justiça original que tinham perdido, toda a sua vida em muitos trabalhos e muita penitência; e, depois, discorrer com o entendimento mais em particular, usando também da vontade como está dito.
O PECADO QUE CONDENA
3º PONTO. Pensar sobre o terceiro pecado, o pecado particular de cada um que por um pecado mortal tenha ido para o inferno, e o de muitos outros, sem conta, que para lá foram por menos pecados do que eu. Digo fazer outro tanto sobre o terceiro pecado particular, trazendo à memória a gravidade e malícia do pecado contra o seu Criador e Senhor, discorrer com o entendimento como, em pecar e agir contra a bondade infinita, tal pessoa foi justamente condenada para sempre; e acabar com a vontade, como está dito.
COLÓQUIO. Imaginando a Cristo nosso Senhor diante de mim e pregado na cruz, fazer um colóquio: como de Criador veio a fazer-se homem, e de vida eterna a morte temporal, e assim a morrer por meus pecados. E, assim em colóquio, interrogar-me a mim mesmo: o que tenho feito por Cristo, o que faço por Cristo, o que devo fazer por Cristo; e vendo-o a Ele em tal estado e assim pendente na cruz, discorrer pelo que se me oferecer. Pai nosso
2 - MEDITAÇÃO DOS PECADOS
Este exercício compreende, depois da oração preparatória e dos dois preâmbulos, cinco pontos e um colóquio.ORAÇÃO PREPARATÓRIA: Pedir graça a Deus nosso Senhor para que todas as minhas intenções, ações e operações sejam puramente ordenadas para serviço e louvor de sua divina majestade.
1º PREÂMBULO: Composição. Imaginar e considerar estar a minha alma encarcerada neste corpo corruptível e todo o composto neste vale, como desterrado, entre brutos animais. Digo todo o composto de alma e corpo.
2º PREÂMBULO: Pedir Deus o que quero: acrescida e intensa dor e lágrimas por meus pecados.
RELEMBRAR OS PECADOS
1º PONTO. É o processo dos pecados, a saber, trazer à memória todos os pecados da vida, considerando ano por ano, ou período por período; para o que aproveitam três coisas: – a primeira, considerar o lugar e a casa onde habitei; a segunda, a convivência que tive com outros; a terceira, o ofício em que vivi.
2º PONTO. Ponderar os pecados, considerando a fealdade e a malícia que cada pecado mortal cometido tem em si, mesmo que não fosse proibido.
3º PONTO. Considerar quem sou eu, diminuindo-me por exemplos:
Primeiro: quanto sou eu em comparação com todos os homens;
Segundo, que coisa são os homens, em comparação com todos os anjos e santos do paraíso;
Terceiro, considerar que coisa é tudo o criado, em comparação com Deus: pois eu só, que posso ser? Quarto, considerar toda a minha corrupção e fealdade corporal; Quinto: considerar-me como uma chaga e um abscesso, donde saíram tantos pecados, tantas maldades e peçonha tão repugnante.
4º PONTO. Considerar quem é Deus, contra quem pequei, segundo os seus atributos, comparando-os aos seus contrários em mim: a sua sapiência à minha ignorância, a sua onipotência à minha fraqueza, a sua justiça à minha iniquidade, a sua bondade à minha malícia.
5º PONTO. Exclamação admirativa, com acrescido afeto, discorrendo por todas as criaturas, como me têm deixado com vida e conservado nela; os anjos, que sendo a espada da justiça divina, como me têm suportado, guardado e rogado por mim; os santos, como têm estado a interceder e rogar por mim; e os céus, sol, lua, estrelas e elementos, frutos, aves, peixes e animais; e a terra, como não se abriu para me tragar, criando novos infernos para sempre penar neles.
COLÓQUIO. Sobre a misericórdia, buscando razões e dando graças a Deus nosso Senhor porque me deu vida até agora, propondo emenda, com a sua graça, para o futuro. Pai Nosso.
3 - MEDITAÇÃO DO INFERNO
ORAÇÃO PREPARATÓRIA: Pedir graça a Deus nosso Senhor para que todas as minhas intenções, ações e operações sejam puramente ordenadas para serviço e louvor de sua divina majestade.2º PREÂMBULO: Pedir o quero: interno sentimento da pena que padecem os condenados, para que, se me esquecer do amor eterno de Deus, o temor da lembrança destas penas me ajude a não cair em pecado.
FAZER OS SENTIDOS PERCEBEREM O INFERNO
1º PONTO. Imaginar as grandes chamas e as almas como que em corpos incandescentes.
2º PONTO. Ouvir prantos, ruídos de várias vozes, gritos, blasfêmias contra Cristo e contra todos os seus Santos.
3º PONTO. Sentir o cheiro de fumaça, enxofre, esgoto e coisas em putrefação.
4º PONTO. Sentir gosto de coisas muito amargas, lágrimas, tristeza e a consciência se remoendo
5º PONTO. Tocar o fogo e sentir como as almas queimam.
COLÓQUIO. A Cristo nosso Senhor, trazer à memória as almas que estão no inferno; umas porque não acreditaram na sua vinda; outras, acreditando, não agiram segundo os seus mandamentos.
Fazer três grupos: o primeiro antes da vinda de Cristo; o segundo, durante a sua vida; o terceiro, depois da sua vida neste mundo.
Depois disto, dar-lhe graças, porque não me deixou cair em nenhum destes grupos, pondo fim a minha vida. E, assim, como até agora tem tido sempre de mim tanta piedade e misericórdia. 1 Pai Nosso.
SEGUNDA SEMANA
INTRODUÇÃO AO SEGUIMENTO DE CRISTO
4 - PARÁBOLA DOS REIS
ORAÇÃO PREPARATÓRIA: Pedir graça a Deus nosso Senhor para que todas as minhas intenções, ações e operações sejam puramente ordenadas para serviço e louvor de sua divina majestade.
1º PREÂMBULO: É a composição, vendo o lugar. Será aqui ver, com a vista imaginativa, sinagogas, vilas e aldeias por onde Cristo nosso Senhor pregava.
2º PREÂMBULO: Pedir a graça que quero. Será aqui pedir graça a nosso Senhor para que não seja surdo ao seu chamamento, mas pronto e diligente em cumprir sua santíssima vontade.
1º PONTO: Imaginar um rei humano, eleito pela mão de Deus, a quem prestam reverência e obedecem todos os príncipes e todos os homens cristãos.
1º PONTO: Reparar como este rei fala a todos os seus, dizendo: Minha vontade é conquistar toda a terra de infiéis; portanto, quem quiser vir comigo, há de contentar-se em comer, beber e vestir-se como eu. Há de trabalhar comigo, durante o dia e vigiar, durante a noite, para que, assim, depois tenha parte comigo na vitória, como a teve nos trabalhos.
3º PONTO: Considerar o que devem responder os bons súditos a rei tão liberal e tão humano; e, se algum não aceitasse a petição de tal rei, quão desonroso e perverso cavaleiro seria tido por todo o mundo.
Segunda Parte
Consiste em aplicar o exemplo anterior do rei temporal a Cristo, conforme aos três pontos expostos.
1º PONTO: Se consideramos o apelo do rei temporal a seus súditos, quanto mais é coisa digna de consideração ver a Cristo, rei eterno, e diante dele toda a humanidade que por Ele é chamado: Minha vontade é conquistar todo o mundo e todos os inimigos, e assim entrar na glória de meu Pai; portanto, quem quiser vir comigo, há de trabalhar comigo, para que seguindo-me na pena, me siga também na glória.
2º PONTO: Considerar que todos os que tiverem juízo e razão se oferecerão ao trabalho.
3º PONTO: Os que mais se quiserem afeiçoar e assinalar em todo o serviço de seu rei eterno e senhor universal, não somente oferecerão suas pessoas ao trabalho, mas ainda, agindo contra a sua própria sensualidade e contra o seu amor carnal e mundano, farão oblações de maior estima e valor, dizendo:
Eterno Senhor de todas as coisas, eu faço a minha oblação, com vosso favor e ajuda, diante da vossa infinita bondade, e diante da vossa Mãe gloriosa e de todos os santos e santas da corte celestial, que eu quero e desejo e é minha determinação deliberada, contanto que seja vosso maior serviço e louvor, imitar-vos em passar todas as injúrias e todo o desprezo e toda a pobreza, assim material como espiritual, se Vossa Santíssima Majestade me quiser escolher e receber em tal vida e estado.
5 - AS DUAS BANDEIRAS
Há duas bandeiras: uma, a de Cristo, sumo capitão e Senhor nosso, outra, a de Lúcifer, mortal inimigo da nossa natureza humana.ORAÇÃO PREPARATÓRIA: Pedir graça a Deus nosso Senhor para que todas as minhas intenções, ações e operações sejam puramente ordenadas para serviço e louvor de sua divina majestade.
2º PREÂMBULO: Composição, vendo o lugar. Será aqui ver um grande campo de toda aquela região de Jerusalém, onde o sumo general dos bons é Cristo nosso Senhor; outro campo na região de Babilônia, onde o general dos inimigos é Lúcifer.
2º PREÂMBULO: Pedir o que quero; e será aqui pedir conhecimento dos enganos do mau general, ajuda para me guardar deles e conhecimento da vida verdadeira que mostra o sumo e verdadeiro general, e graça para o imitar.
IMAGINAR O GENERAL INIMIGO
1º PONTO. Imaginar o general de todos os inimigos sentado em um grande trono de fogo e fumaça naquele grande campo de Babilônia, uma figura horrível e espantosa.
2º PONTO. Imaginar este general chamando e espalhando inúmeros dêmonios, uns numa cidade e a outros noutra, por todo o mundo, não deixando livres províncias, lugares, estados nem pessoa alguma.
3º PONTO. Imaginar como o general dos inimigos instrui os demônios, explicando como lançar suas redes e correntes: primeiro com a cobiça, oferecendo riquezas, para que recebam as honras mundanas; depois com a soberba. Os três: riquezas, honras mundanas e soberba, nesta ordem, induzirão a todos os outros vícios.
IMAGINAR O GENERAL BOM E VERDADEIRO, CRISTO
1º PONTO. Considerar como Cristo nosso Senhor se apresenta num grande campo daquela região de Jerusalém, em lugar humilde, formoso e gracioso.
2º PONTO. Considerar como o Senhor de todo o mundo escolhe tantas pessoas, apóstolos, discípulos, etc., e os envia por todo o mundo a espalhar a sua sagrada doutrina por todos os estados e condições de pessoas.
2º PONTO. Considerar o sermão que Cristo nosso Senhor faz a todos os seus servos e amigos, que envia a esta expedição, encomendando-lhes que queiram ajudar e trazer a todos, primeiro a suma pobreza espiritual, e, se sua divina majestade os quiser escolher, não menos à pobreza material; depois, ao desejo de opróbrios e desprezos, porque destas duas coisas se segue a humildade; Os três, pobreza contra riqueza; desprezo contra a honra mundana e humildade contra a soberba, nesta ordem, induzirão a todas as outras virtudes.
1º COLÓQUIO. A Nossa Senhora, para que me alcance graça de seu Filho e Senhor, para que eu seja recebido debaixo de sua bandeira, e se sua divina majestade quiser me escolher, possa experimentar a pobreza espiritual e não menos a pobreza material, passar opróbrios e injúrias, para mais nelas o imitar, contanto que as possa passar sem pecado e sem desagradar a Deus; 1 Ave Maria.
2º COLÓQUIO. Pedir o mesmo ao Filho, para que mo alcance do Pai; 1 Alma de Cristo.
3º COLÓQUIO. Pedir o mesmo ao Pai, para que ele mo conceda; 1 Pai nosso.
6 - TRÊS BINÁRIOS DE HOMENS
Meditação da parábola de três binários de homens, para abraçar o melhor.ORAÇÃO PREPARATÓRIA: Pedir graça a Deus nosso Senhor para que todas as minhas intenções, ações e operações sejam puramente ordenadas para serviço e louvor de sua divina majestade.
1º PREÂMBULO: É a história de três binários de homens: cada um deles adquiriu dez mil ducados, não pura ou devidamente por amor de Deus, e querem todos salvar-se e achar em paz a Deus nosso Senhor, tirando de si o peso e impedimento que têm, para isso, na afeição à coisa adquirida.
2º PREÂMBULO: Composição, vendo o lugar: será aqui ver-me a mim mesmo, como estou diante de Deus nosso Senhor e de todos os seus santos, para desejar e conhecer o que seja mais grato à sua divina bondade.
3º PREÂMBULO: Pedir o que quero. Aqui será pedir graça para escolher o que for mais para glória de sua divina majestade e salvação de minha alma.
1º BINÁRIO: Tirar o afeto que tem à coisa adquirida, para achar em paz a Deus nosso Senhor e saber-se salvar, e não põe os meios até à hora da morte.
2º BINÁRIO: Tirar o afeto, mas de tal modo o quer tirar que fique com a coisa adquirida, de maneira que venha Deus ali aonde ele quer, e não se determina a deixá-la para ir a Deus, ainda que este fosse o melhor estado para ele.
3º BINÁRIO: Tirar o afeto, mas de tal modo o quer tirar que também não tem afeição a ter a coisa adquirida ou não a ter, mas somente deseja querê-la ou não a querer, conforme Deus nosso Senhor lhe puser na vontade, e a si lhe parecer melhor para serviço e louvor de sua divina majestade; e, entretanto, quer fazer de conta que tudo deixa afetivamente, esforçando-se por não querer aquilo nem nenhuma outra coisa, se não o mover somente o serviço de Deus nosso Senhor; de maneira que o desejo de melhor poder servir a Deus nosso Senhor o mova a tomar a coisa ou a deixá-la.
1º COLÓQUIO. A Nossa Senhora, para que me alcance graça de seu Filho; 1 Ave Maria.
2º COLÓQUIO. Pedir o mesmo ao Filho, para que mo alcance do Pai; 1 Alma de Cristo.
3º COLÓQUIO. Pedir o mesmo ao Pai, para que ele mo conceda; 1 Pai nosso.
Nota. É de notar que, quando nós sentimos afeto ou repugnância contra a pobreza atual, quando não somos indiferentes a pobreza ou riqueza, muito aproveita, para extinguir o tal afeto desordenado, pedir nos colóquios (ainda que seja contra a carne) que o Senhor o escolha para a pobreza atual; e que ele assim o quer, pede e suplica, contanto que seja para serviço e louvor da sua divina bondade.
7 - PRINCÍPIO E FUNDAMENTO DA HUMILDADE
Para se afeiçoar à verdadeira doutrina de Cristo nosso Senhor, aproveita muito meditar Três maneiras de Humildade, considerando sobre elas, aos poucos, durante todo o dia, e também fazendo os colóquiosORAÇÃO PREPARATÓRIA: Pedir graça a Deus nosso Senhor para que todas as minhas intenções, ações e operações sejam puramente ordenadas para serviço e louvor de sua divina majestade.
1ª A HUMILDADE NECESSÁRIA PARA A SALVAÇÃO
Aquela que me permite humilhar-me e me abater o quanto seja possível diante de tentações para infringir um mandamento, de modo que nem que me prometessem fazer-me ser possuidor de todas as coisas do mundo seria o suficiente para me fazer cair em pecado mortal.
2ª A HUMILDADE MAIS PERFEITA QUE A PRIMEIRA
Já não me apego às coisas e prefiro mais a riqueza do que a pobreza, nem a honra do que o desprezo, nem uma vida longa a uma vida curta, nem saúde do que doença, porque compreendo que o que Deus dispor para mim será útil para a salvação da minha alma. Desta forma, nem que me oferecessem tudo no mundo ou ameaçassem me tirar a vida, optaria conscientemente por cometer pecado, mesmo que venial.
3ª A HUMILDADE PERFEITA
Além das outras duas, para me assemelhar e imitar ainda mais a Cristo nosso Senhor, quero e prefiro antes ser pobre com Cristo do que rico para o mundo, desprezado com Cristo do que honrado elo mundo, ser tido por louco ou insensato por causa de Cristo do que sábio diante do mundo, pois assim mesmo Cristo foi tudo isso em primeiro lugar.
1º COLÓQUIO. A Nossa Senhora, para que me alcance graça de seu Filho e Senhor, para que eu seja escolhido para esta terceira e melhor humildade, e se sua divina majestade quiser me escolher, possa experimentar a pobreza, o desprezo, passar opróbrios e injúrias, para mais nelas o imitar, contanto que as possa passar sem pecado e sem desagradar a Deus; 1 Ave Maria.
2º COLÓQUIO. Pedir o mesmo ao Filho, para que mo alcance do Pai; 1 Alma de Cristo.
3º COLÓQUIO. Pedir o mesmo ao Pai, para que ele mo conceda; 1 Pai nosso.
8 - ESCOLHA DAS OPÇÕES
Preâmbulo para tomar conhecimento de que coisas se deve fazer eleição e compreende quatro pontos e uma nota.PREÂMBULO: Em toda a boa escolha, quanto é da nossa parte, o olhar da nossa intenção deve ser simples, tendo somente em vista o fim para que sou criado, a saber, para louvor de Deus nosso Senhor e salvação da minha alma; e assim, qualquer coisa que eu eleger deve ser para que me ajude para o fim para que sou criado, não subordinando nem fazendo vir o fim ao meio, mas o meio ao fim. Assim, acontece que muitos elegem primeiro casar-se, o que é meio, e em segundo lugar, servir a Deus nosso Senhor no casamento, quando servir a Deus é fim. Assim também, há outros que, primeiro querem ter benefícios e, depois, servir a Deus neles. De maneira que estes não vão direitos a Deus, mas querem que Deus venha direito às suas afeições desordenadas e, por conseguinte, fazem do fim meio e do meio fim; de sorte que o que haviam de pôr primeiro, põem por último. Porque, primeiro, havemos de propor como objetivo querer servir a Deus, que é o fim e, em segundo lugar, tomar um benefício ou casar-me, se mais me convém, que é o meio para o fim. Assim, nenhuma coisa me deve mover a tomar os tais meios ou a privar-me deles, senão somente o serviço e louvor de Deus nosso Senhor e a salvação eterna de minha alma.
1º PONTO: É necessário que todas as coisas das quais queremos fazer escolha sejam indiferentes ou boas em si mesmas e que militem dentro da Santa Mãe Igreja hierárquica, e não sejam más nem contrárias a ela.
2º PONTO: Há umas coisas que caem sob o âmbito de escolha imutável, como o sacerdócio e o matrimônio; há outras que caem sob o âmbito de escolha mutável, como o tomar benefícios ou deixá-los, o tomar bens temporais ou renunciar-lhes.
3º PONTO: Na escolha imutável, uma vez feita a escolha, não há mais que escolher, porque não se pode dela desatar, como é o matrimônio e o sacerdócio. Se a escolha imutável não foi feita devida e ordenadamente, sem afeições desordenadas, arrependendo-se, procure fazer boa vida na sua escolha; essa escolha não parece que seja vocação divina, por ser desordenada e oblíqua. Com efeito, muitos nisto erram, fazendo da má escolha uma vocação divina; porque toda a vocação divina é sempre pura e límpida, sem mistura vinda da carne nem de outra afeição alguma desordenada.
4º PONTO: Se alguém fez, devida e ordenadamente, escolha de coisas que estão no âmbito de eleição mutável, e não condescendeu com a carne nem com o mundo, não há motivo para, de novo, fazer eleição, mas sim se aperfeiçoar naquela que fez, quanto puder.
Nota. Se foi feita alguma eleição mutável de forma desordenada, pode-se oportunamente refazê-la da forma devida.
1. Escolha de estado de vida ou estados de alma
Três tempos para fazer sã e boa escolha em cada um deles
1º TEMPO: Quando Deus move e atrai a vontade de tal modo que, sem duvidar nem poder duvidar, a alma devota segue o que lhe é mostrado. Assim fizeram, por exemplo, S. Paulo e S. Mateus, ao seguirem a Cristo.
2º TEMPO: Quando se recebe suficiente clareza e conhecimento por experiência de consolações e desolações e por experiência de discernimento de vários espíritos.
3º TEMPO: Tranquilo, considerando primeiro para que nasceu o homem, a saber, para louvar a Deus nosso Senhor e salvar a sua alma; e, desejando isto, escolhe, como meio, uma vida ou estado dos que a Igreja aprova, a fim de ser ajudado no serviço de seu Senhor e salvação de sua alma. Disse tempo tranqüilo, quando a alma não é agitada por vários espíritos e usa de suas potências naturais, livres e tranquilamente.
Se no primeiro ou segundo tempo não se faz escolha, seguem-se dois modos para a fazer neste Terceiro Tempo.
O Primeiro modo
Compreende seis pontos:1º PONTO: Propor diante de mim a coisa sobre a qual quero fazer escolha, como, por exemplo, um ofício ou benefício a tomar ou deixar, ou qualquer outra coisa compreendida no âmbito de eleição mutável.
2º PONTO: É preciso ter como objetivo o fim para que sou criado, que é para louvar a Deus nosso Senhor e salvar a minha alma; e, além disso, achar-me indiferente, sem afeição alguma desordenada, de maneira que não esteja mais inclinado nem afeiçoado a tomar a coisa proposta do que a deixá-la, nem mais a deixá-la que a Tomá-la; mas que esteja no meio, como o fiel da balança, a fim de seguir aquilo que julgar ser para mais glória e louvor de Deus nosso Senhor e salvação de minha alma.
3º PONTO: Pedir a Deus nosso Senhor para que queira mover a minha vontade e pôr em minha alma o que devo fazer, quanto à coisa proposta, que mais seja para seu louvor e glória; discorrendo bem e fielmente, com o meu entendimento, e escolhendo conforme a sua santíssima vontade.
4º PONTO: Considerar raciocinando, quantas vantagens ou proveitos para mim se seguem, com ter o cargo ou benefício proposto, só para louvor de Deus nosso Senhor e salvação de minha alma; e, pelo contrário, considerar também os inconvenientes e perigos que há em tê-lo. Fazer o mesmo na segunda parte, a saber, ver as vantagens e proveitos em o não ter; e também, os inconvenientes e perigos em o não ter.
5º PONTO: Depois de assim ter discorrido e refletido, sobre todos os aspectos do assunto proposto, ver para onde a razão mais se inclina; e, assim, conforme a maior moção racional, e não conforme moção alguma da sensibilidade, se deve fazer a deliberação sobre o assunto proposto.
6º PONTO: Feita a eleição ou deliberação, deve a pessoa que a fez, ir, com muita diligência, à oração diante de Deus nosso Senhor, e oferecer-lhe essa eleição, para que sua divina majestade a queira receber e confirmar, se forem para seu maior serviço e louvor.
Segundo modo
Compreende quatro regras e uma nota:1ª REGRA: É que aquele amor que me move e me faz eleger tal coisa desça do alto, do amor de Deus; de forma que quem elege, sinta primeiro em si, que o amor maior ou menor que tem à coisa que elege é unicamente por seu Criador e Senhor.
2ª REGRA: Imaginar um homem a quem nunca tenha visto nem conhecido, e desejando-lhe eu toda a sua perfeição, considerar o que eu lhe diria que fizesse e escolhesse para maior glória de Deus nosso Senhor e maior perfeição de sua alma; e, fazendo eu da mesma maneira, guardarei a regra que para o outro proponho.
3ª REGRA: Considerar, como se estivesse em artigo de morte, a forma e a norma de proceder que então quereria ter tido, no modo de fazer a presente eleição; e, regulando-me por ela, em tudo, faça a minha determinação.
4ª REGRA: Atendendo e considerando como me acharei no dia do juízo, pensar como então quereria ter deliberado sobre o assunto presente; e, a regra que então quereria ter tido, tomá-la agora, para que então me ache com inteiro prazer e gozo.
Nota. Tomadas as regras sobreditas para minha salvação e quietude eterna, farei a minha eleição e oblação a Deus nosso Senhor, conforme ao sexto ponto do primeiro modo de fazer eleição [183].
2. Eleição de outras opções para a santidade de vida dentro do seu estado
Para emendar e reformar a própria vida e estado. É de advertir que, para os que estão constituídos em sacerdócio ou em matrimônio (quer abundem muito em bens temporais quer não), quando não há lugar ou muito pronta vontade para fazer escolha das coisas que caem sob escolha mutável, aproveita muito, ao invés de fazer escolha, dar forma e modo para emendar e reformar a própria vida e estado de cada um, a saber: ordenando o seu mundo, vida e estado, para glória e louvor de Deus nosso Senhor e salvação de sua alma. Para vir e chegar a este fim, deve considerar e ruminar muito, por meio dos exercícios e modos de eleger, conforme está declarado, sobre a casa e família que deve ter, como a deve reger e governar, como a deve ensinar, com a palavra e com o exemplo; do mesmo modo, de seus bens, quanto deve tomar para sua família e casa, e quanto para despender com os pobres e com outras obras pias , não querendo nem buscando nenhuma outra coisa senão, em tudo e por tudo, maior louvor e glória de Deus nosso Senhor. Porque pense cada um que tanto aproveitará em todas as coisas espirituais, quanto sair de seu próprio amor, querer e interesse.
TERCEIRA SEMANA
9 - CONTEMPLAÇÃO DA PAIXÃO
Compreende a oração preparatória, três preâmbulos, seis pontos e um colóquio Oração preparatória, a habitualA CEIA EM BETÂNIA
Mateus, capítulo 26 [Mt 26,6-Jo 12,1/ Mt 26,7/ Jo 12,4-Mt 26,8.10].
Primeiro. O Senhor ceia em casa de Simão, o leproso, juntamente com Lázaro.
Segundo. Maria derrama o perfume sobre a cabeça de Cristo.
Terceiro. Judas murmura, dizendo: "Para quê este desperdício de perfume"? Mas Jesus defende, outra vez, Madalena, dizendo: "Porque molestais esta mulher por ela Ter feito uma boa obra para comigo"?
ORAÇÃO PREPARATÓRIA: Pedir graça a Deus nosso Senhor para que todas as minhas intenções, ações e operações sejam puramente ordenadas para serviço e louvor de sua divina majestade.
1º PREÂMBULO: Recordar a história; que é aqui como Cristo nosso Senhor, desde Betânia, enviou dois discípulos a Jerusalém, a preparar a ceia e, depois, ele mesmo foi a ela com os outros discípulos; e como, depois de ter comido o cordeiro pascal e ter ceado, lhes lavou os pés e deu seu Sacratíssimo Corpo e Precioso Sangue a seus discípulos, e lhes fez um sermão, depois que Judas foi vender o seu Senhor.
2º PREÂMBULO: Composição, vendo o lugar; será aqui considerar o caminho desde Betânia a Jerusalém, se era largo, se estreito, se plano, etc. Assim mesmo o lugar da ceia, se era grande, se pequeno, se duma maneira ou se de outra.
Terceiro preâmbulo. Pedir o que quero; será aqui dor, sentimento e confusão, porque por meus pecados vai o Senhor à Paixão.
1º PONTO: Ver as pessoas da ceia; e, refletindo em mim mesmo, procurar tirar algum proveito delas.
2º PONTO: Ouvir o que falam; e, de igual modo, tirar algum proveito.
3º PONTO: Observar o que fazem; e tirar também algum proveito.
4º PONTO: Considerar o que Cristo nosso Senhor padece na humanidade ou quer padecer, segundo o passo que se contempla; e, aqui, começar com muita força e esforçar-me por me condoer, entristecer e chorar; e trabalhar assim nos outros pontos que se seguem.
5º PONTO: Considerar como a divindade se esconde, a saber, como poderia destruir os seus inimigos e não o faz, e como deixa padecer a sacratíssima humanidade tão cruelmente.
6º PONTO: Considerar como tudo isto padece por meus pecados, etc; e que devo eu fazer e padecer por ele.
COLÓQUIO: A Cristo nosso Senhor e, ao fim, com um Pai nosso.
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MISTÉRIOS PASSADOS DESDE A CEIA ATÉ AO HORTO INCLUSIVE
Mateus, capítulo 26 e Marcos, capítulo 14 [Mt 26,30.36; Mc 14, 26.32 / Mt 26,37.39b; Lc 22,44 / Mt 26,38; Mc 14,34; Lc 22,44].
Primeiro. O Senhor, acabada a ceia e cantando o hino, foi para o monte das Oliveiras com os seus discípulos, cheios de medo e, deixando os oito em Getsemani, disse: "Sentai-vos aqui, enquanto eu vou ali orar".
Segundo. Acompanhado de S. Pedro, S. Tiago e S. João, orou três vezes, ao Senhor, dizendo: "Pai, se pode fazer, passe de mim este cálice; contudo não se faça a minha vontade, mas a tua". E, estando em agonia, orava mais longamente.
Terceiro. Chegou a tanto temor que dizia: "Triste está a minha alma até à morte". E suou sangue tão copiosamente que diz S. Lucas: "Seu suor era como gotas de sangue que corriam em terra", o que já supõe seus vestidos estarem cheios de sangue.
ORAÇÃO PREPARATÓRIA: Pedir graça a Deus nosso Senhor para que todas as minhas intenções, ações e operações sejam puramente ordenadas para serviço e louvor de sua divina majestade.
1º PREÂMBULO: História; e será aqui como Cristo nosso Senhor desceu com os seus onze discípulos, desde o monte Sião, onde celebrou a ceia, para o vale de Josafat, deixando oito deles numa parte do vale, e os outros três noutra parte do horto; e, pondo-se em oração, sua um suor como gotas de sangue; e depois que, três vezes, fez oração ao Pai, e despertou os seus três discípulos, e depois que, à sua voz, caíram os inimigos, e Judas lhe deu a paz, e S. Pedro cortou a orelha a Malco, e Cristo a pôs em seu lugar, sendo preso como malfeitor, o levam pelo vale a baixo, e depois pela encosta acima para a casa de Anás.
2º PREÂMBULO: Ver o lugar; aqui será considerar o caminho, desde o monte Sião ao vale de Josafat, e assim mesmo o horto, se era largo, se comprido, se de uma maneira, se de outra.
3º PREÂMBULO: Pedir o que quero; o que é próprio pedir na Paixão: dor com Cristo doloroso, quebranto com Cristo quebrantado [48,3], lágrimas, pena interna de tanta pena que Cristo passou por mim.
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N.E.: A partir daqui vão se adaptando os dois preâmbulos e do 4º ao 6º ponto conforme a matéria proposta.
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SEGUNDO DIA
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MISTÉRIOS PASSADOS DESDE O HORTO ATÉ A CASA DE ANÁS, INCLUSIVE
Mateus, 26; Lucas 22; Marcos,15 [Mt 26,49.55; Mc 14,45.48-49; Jo 18,4-6 / Jo 18,10-11; Mt 26,52; Lc 22,51 / Mt 26,56; Mc 14,50; Jo 18,13.17.22].
Primeiro. O Senhor deixa-se beijar por Judas, e prender como um ladrão. Aos que o prendiam, disse: "Saístes para prender-me como a um ladrão, com paus e armas, quando, cada dia, eu estava convosco no templo, ensinando, e não prendestes". E, dizendo: "A quem buscais?", caíram em terra os inimigos.
Segundo. S. Pedro feriu um servo do Pontífice; mas o manso Senhor disse-lhe: "Mete a tua espada no seu lugar"; e sarou a ferida do servo.
Terceiro. Desamparado dos seus discípulos, foi levado a Anás, onde S. Pedro, que o tinha seguido de longe, o negou uma vez, e a Cristo deram uma bofetada, dizendo-lhe: "É assim que respondes ao Pontífice?".
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MISTÉRIOS PASSADOS DESDE A CASA DE ANÁS ATÉ À CASA DE CAIFÁS, INCLUSIVE
[Jo 18,24.26-27; Lc 22,61-62 / – / Lc 22,63-64; Mt 26,67,68; Mc 14,65; Lc 22,64-65].
Primeiro. Levam-no atado desde a casa de Anás à casa de Caifás, onde S. Pedro o negou duas vezes e, olhado pelo Senhor, saiu para fora e chorou amargamente.
Segundo. Esteve Jesus, toda aquela noite, atado.
Terceiro. Além disso, os que o tinham prendido burlavam dele, e batiam-lhe, e cobriam-lhe a cara, e davam-lhe bofetadas, e perguntavam-lhe: "Profetiza-nos quem é o que te bateu". E blasfemavam contra ele, dizendo coisas semelhantes.
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TERCEIRO DIA
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MISTÉRIOS PASSADOS DESDE A CASA DE CAIFÁS À DE PILATOS, INCLUSIVE
Mateus, 26; Lucas, 23; Marcos, 15 [Lc 23,1; Mt 27,2; Lc 23,2 / Jo 18,38b; Lc 23,4 / Jo 18,40].
Primeiro. Toda a multidão dos Judeus o leva a Pilatos e diante dele o acusa, dizendo: "Encontramos a este que deitava a perder o nosso povo e proibia pagar tributo a César".
Segundo. Depois de Pilatos o ter, uma e outra vez, examinado, Pilatos disse: "Eu não acho culpa nenhuma".
Terceiro. Foi-lhe preferido Barrabás, um ladrão: "Gritaram todos dizendo: Não soltes a este, mas a Barrabás".
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MISTÉRIOS PASSADOS DESDE A CASA DE PILATOS ATÉ A DE HERODES
[Lc 23,7 / 8-10 / 11].
Primeiro. Pilatos enviou Jesus, Galileu, a Herodes, tetrarca da Galiléia.
Segundo. Herodes, curioso, interrogou-o longamente; e ele nenhuma coisa lhe respondia, ainda que os escribas e os sacerdotes o acusavam constantemente.
Terceiro. Herodes, com a sua guarda, desprezou-o, vestindo-o com uma veste branca.
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QUARTO DIA
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MISTÉRIOS PASSADOS DESDE A CASA DE HERODES A PILATOS
Mateus, 26; Lucas, 23; Marcos, 15; João, 19 [Lc 23,11b-12 / Jo 19,1-3 / Jo 19,5-6a].
Primeiro. Herodes torna-o a enviar a Pilatos, pelo que se fizeram amigos, pois antes eram inimigos.
Segundo. Tomou Pilatos a Jesus e açoitou-o; e os soldados fizeram uma coroa de espinhos e puseram-na sobre a cabeça e vestiram-no de púrpura e aproximavam-se dele e diziam: "Deus te salve, rei dos Judeus"; e davam-lhe bofetadas.
Terceiro. Trouxe-o para fora à presença de todos: "Saiu pois Jesus fora, coroado de espinhos e vestido de púrpura. E disse-lhes Pilatos: "Eis aqui o homem". E, logo que o viram, os Pontífices davam gritos, dizendo: "Crucifica-o, crucifica-o".
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QUINTO DIA
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MISTÉRIOS PASSADOS DESDE A CASA DE PILATOS ATÉ A CRUZ, INCLUSIVE
João 19 [Jo 19,13-16 / Mt 27,32; Mc 15,21; Lc 22,26 / Lc 23,33b; Jo 19,18.19].
Primeiro. Pilatos, sentado como juiz, entregou-lhes Jesus, para que o crucificassem, depois de os Judeus o haverem negado por seu rei, dizendo "Não temos outro rei senão César".
Segundo. Levava a cruz às costas, e não a podendo levar, foi constrangido Simão Cireneu para que a levasse atrás de Jesus.
Terceiro. Crucificaram-no no meio de dois ladrões e puseram esta inscrição: "Jesus Nazareno, rei dos Judeus".
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MISTÉRIOS PASSADOS NA CRUZ
João, 19, 23-27 [Lc 23,34.43; Jo 19,26-27.28; Mc 15,34; Mt 27,46; Jo 19,30; Lc 23,46; Mt 27,51-52; Mc 15,38; Lc 23,45 / Mt 27,51-52 / Mt 27,3940-Mc 15,33-36; Jo 19,23-24-Mt 27,35; Jo 19,34].
Primeiro. Disse sete palavras na cruz: Rogou pelos que o crucificavam; perdoou ao ladrão; encomendou a S. João a sua Mãe, e à Mãe a S. João; disse com voz alta: "Tenho sede", e deram-lhe fel e vinagre; disse que estava desamparado; disse: "Tudo está consumado"; disse: "Pai em tuas encomendo o meu espírito".
Segundo. O sol ficou escurecido, as pedras quebradas, as sepulturas abertas, o véu do templo rasgado em duas partes de cima abaixo.
Terceiro. Blasfemavam contra ele, dizendo: "Tu que destróis o templo de Deus, baixa da cruz"; foram divididos os seus vestidos; ferido com a lança o seu lado, manou água e sangue.
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SEXTO DIA
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MISTÉRIOS PASSADOS DESDE A CRUZ ATÉ O SEPULCRO, INCLUSIVE
No mesmo capítulo [Jo 19,38-39 / Jo 19,40-42 / Mt 27,65-66].
Primeiro. Foi tirado da cruz por José e Nicodemos, em presença de sua Mãe dolorosa.
Segundo. Foi levado o corpo ao sepulcro e ungido e sepultado.
Terceiro. Foram postos guardas.
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SÉTIMO DIA
Contemplação de toda a Paixão; e, em lugar das duas Repetições e da Aplicação de Sentidos, considerar, todo aquele dia, o mais freqüentemente que puder, como o corpo sacratíssimo de Cristo nosso Senhor ficou desatado e apartado da alma, e onde e como ficou sepultado. Considere-se assim mesmo, a solidão de nossa Senhora, com tanta dor e aflição; depois, por outra parte, a dos discípulos.
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Nota. É de advertir, como antes, e em parte, está declarado, que nos colóquios devemos argumentar e pedir, segundo a matéria proposta, a saber, conforme me acho tentado ou consolado, e conforme desejo ter uma virtude ou outra, conforme quero dispor de mim a uma ou a outra parte, conforme quero sentir dor ou gozo da coisa que contemplo, finalmente pedindo aquilo que mais eficazmente desejo acerca de algumas coisas particulares; e, desta maneira, pode fazer um só colóquio a Cristo, nosso Senhor, ou, se a matéria ou a devoção o move, pode fazer três colóquios, um à Mãe, outro ao Filho, outro ao Pai, pela mesma forma que está dito na segunda semana, na meditação das Duas Bandeiras com a nota que se segue aos Binários.
INDICAÇÕES TÉCNICAS
A. Escalonamento da oração
204 Primeira nota. Nesta Segunda Contemplação, depois de feita a oração preparatória com os três preâmbulos já mencionados, ter-se-á a mesma forma de proceder, nos pontos e no colóquio, que se teve na Primeira Contemplação da Ceia; e à hora da Missa e à das Vésperas, se farão duas repetições sobre a primeira e segunda contemplação, e, depois, antes de jantar, se aplicarão os sentidos sobre as duas sobreditas contemplações; antepondo sempre a oração preparatória e os três preâmbulos, conforme a matéria exposta, da mesma forma que está dito e declarado na segunda semana [119, 159, cfr. 72].
205 Segunda nota. Segundo a idade, disposição e temperamento ajudem à pessoa que se exercita, fará, cada dia, os cinco exercícios ou menos.
B. Ambientação da oração
206 Terceira nota. Nesta terceira semana, se mudarão, em parte, a segunda e a sexta adição [74, 78; cf. 130].
A segunda adição será: logo ao despertar, pôr diante de mim aonde vou e a quê, resumindo, um pouco, a contemplação que quero fazer, conforme for o mistério [74]; esforçando-me, enquanto me levanto e visto, por me entristecer e me condoer de tanta dor e de tanto padecer de Cristo nosso Senhor.
A sexta adição se mudará, procurando não fomentar pensamentos alegres, ainda que bons e santos, como os de ressurreição e de glória, mas antes, induzir-me a mim mesmo a dor e a pena e abatimento, trazendo freqüentemente à memória os trabalhos, fadigas e dores que Cristo nosso Senhor passou, desde o momento em que nasceu até ao mistério da Paixão em que, ao presente, me encontro [78, 130].
Nota. É de notar que, quem se quiser alongar mais na Paixão, há de tomar, em cada contemplação, menos mistérios [cf. 162], a saber, na primeira contemplação, somente a Ceia; na segunda, o lava-pés; na terceira, o dom do Sacramento da Eucaristia; na quarta, o sermão que Cristo fez aos discípulos; e assim nas outras contemplações e mistérios. Assim mesmo, depois de acabada a Paixão, tome, um dia inteiro, metade de toda a Paixão; e, no segundo dia, a outra metade; e no terceiro dia, toda a Paixão. Pelo contrário, quem quiser abreviar mais a Paixão, tome, à meia-noite, a Ceia; de manhã, o horto; à hora da missa, a casa de Anás; à hora de vésperas, a casa de Caifás; na hora antes do jantar, a casa de Pilatos; de maneira que, não fazendo repetições nem a aplicação de sentidos, faça, cada dia, cinco exercícios distintos, e, em cada um dos exercícios, distinto mistério de Cristo nosso Senhor; e depois de acabada assim toda a Paixão, pode fazer, outro dia, toda a Paixão junta, num exercício ou em diversos, como mais lhe parecer que poderá aproveitar-se.
QUARTA SEMANA
10 - CONTEMPLAÇÃO DA RESSURREIÇÃO
A RESSURREIÇÃO DE CRISTO NOSSO SENHORSua primeira aparição [Vita Christi].
Primeiro. Apareceu à Virgem Maria; o que, ainda que se não diga na Escritura, se tem como dito, ao dizer que apareceu a tantos outros; porque a Escritura supõe que temos entendimento, como está escrito: "Também vós estais sem entendimento?".
ORAÇÃO PREPARATÓRIA: Pedir graça a Deus nosso Senhor para que todas as minhas intenções, ações e operações sejam puramente ordenadas para serviço e louvor de sua divina majestade.
1º PREÂMBULO: História, que é aqui como, depois que Cristo expirou na cruz, e o corpo ficou separado da alma e com ele sempre unida a divindade, a alma bem-aventurada desceu aos infernos, também unida com a divindade; de onde tirou as almas justas, e veio ao sepulcro, e, ressuscitado, apareceu a Sua bendita Mãe, em corpo e alma.
2º PREÂMBULO: Composição, vendo o lugar, que será aqui, ver a disposição do santo sepulcro e o lugar ou casa de nossa Senhora, observando as suas diversas partes, em particular; assim como o quarto, oratório, etc.
3º PREÂMBULO: Pedir o que quero; e será aqui pedir graça para me alegrar e gozar intensamente de tanta glória e gozo de Cristo nosso Senhor.
1º PONTO: Ver as pessoas da situação; e, refletindo em mim mesmo, procurar tirar algum proveito delas.
2º PONTO: Ouvir o que falam; e, de igual modo, tirar algum proveito.
3º PONTO: Observar o que fazem; e tirar também algum proveito.
4º PONTO: Considerar como a divindade, que parecia esconder-se na Paixão, aparece e se mostra agora, tão miraculosamente, na santíssima Ressurreição, pelos verdadeiros e santíssimos efeitos dela.
5º PONTO: Reparar no ofício de consolar que Cristo nosso Senhor traz e compará-lo com o modo como os amigos se costumam consolar uns aos outros.
COLÓQUIO: Segundo a matéria proposta; 1 Pai nosso.
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N.E.: A partir daqui vão se adaptando os dois preâmbulos e do 4º e o 5º ponto conforme a matéria proposta.
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SEGUNDA APARIÇÃO
Marcos, capítulo 16, 1-11 [Vita Christi ; Mc 16,1-3 / Mc 16,4.6b / Mc 16,9-Jo 20,1118].
Primeiro. Vão, muito de manhã, Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago e Salomé ao sepulcro, dizendo: "Quem nos levantará a pedra da porta do sepulcro?"
Segundo. Vêem a pedra levantada e o anjo que diz: "Buscais Jesus de Nazaré; já ressuscitou, não está aqui".
Terceiro. Apareceu a Maria que ficou perto do sepulcro, depois de idas as outras.
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TERCEIRA APARIÇÃO
São Mateus, último capítulo [Vita Christi; Mt 28,8 / Mt 28,9 / Mt 28,10].
Primeiro. Saem as Marias do sepulcro, com temor e grande gozo, querendo anunciar aos discípulos a ressurreição do Senhor.
Segundo. Cristo nosso Senhor apareceu-lhes, no caminho, dizendo-lhes: "Deus vos salve"; e elas aproximaram-se, prostraram-se a seus pés e adoraram-no.
Terceiro. Jesus disse-lhes: "Não temais, ide e dizei a meus irmãos que vão para a Galiléia, porque ali me verão".
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QUARTA APARIÇÃO
Lucas, último capítulo [Vita Christi; Lc 24,9-12.34; Jo 20,1-10].
Primeiro. Tendo ouvido das mulheres que Cristo estava ressuscitado, foi S. Pedro depressa ao sepulcro.
Segundo. Entrando no sepulcro, viu só os panos com que fora coberto o corpo de Cristo nosso Senhor, e mais nada.
Terceiro. Pensando S. Pedro nestas coisas, apareceu-lhe Cristo e por isso os apóstolos diziam: "Verdadeiramente o Senhor ressuscitou, e apareceu a Simão".
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QUINTA APARIÇÃO
No último capítulo de São Lucas [Vita Christi; Lc 24,13-24 / 25-26 / 29-33.35].
Primeiro. Aparece aos discípulos que iam para Emaús, falando de Cristo.
Segundo. Repreende-os, mostrando pelas Escrituras que Cristo tinha de morrer e ressuscitar: "Ó ignorantes e tardos de coração para crer tudo o que disseram os profetas! Não era necessário que Cristo padecesse e assim entrasse na sua glória"?
Terceiro. A pedido deles, detém-se ali, e esteve com eles, até que, ao dar-lhes a comunhão, desapareceu. E eles, regressando, disseram aos discípulos como o tinham conhecido na comunhão.
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SEXTA APARIÇÃO
João, capítulo 20 [Vita Christi; cf. Lc 24,33ss / Jo 20,19 / 22-23].
Primeiro. Os discípulos estavam reunidos "por medo dos Judeus", exceto Tomé.
Segundo. Apareceu-lhes Jesus, estando as portas fechadas; e, estando no meio deles, disse: "A paz esteja convosco".
Terceiro. Dá-lhes o Espírito Santo, dizendo-lhes: "Recebei o Espírito Santo; àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados".
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SÉTIMA APARIÇÃO
João, 20,24-29 [Vita Christi; Jo 20,24-25 / 26-27 / 28-29].
Primeiro. São Tomé, incrédulo, porque estava ausente na aparição precedente, disse: "Se não o vir não acreditarei".
Segundo. Aparece-lhes Jesus, daí a oito dias, estando as portas fechadas, e diz a S. Tomé: "Mete aqui o teu dedo e vê a verdade, e não queiras ser incrédulo, mas fiel".
Terceiro. S. Tomé acreditou, dizendo: "Meu Senhor e meu Deus". Disse-lhe Cristo: "Bem-aventurados os que não viram e creram".
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OITAVA APARIÇÃO
João, último capítulo [Vita Christi; Jo 21,1-6 / 7 / 9-10.12-13.15-17].
Primeiro. Jesus aparece a sete dos seus discípulos que estavam pescando, os quais, por toda a noite, não tinham apanhado nada, e lançando a rede, por ordem de Jesus, "não podiam tirá-la, pela grande quantidade de peixes".
Segundo. Por este milagre, S. João reconheceu Jesus, e disse a S. Pedro: "É o Senhor". Pedro deitou-se ao mar, e veio ter com Cristo.
Terceiro. Deu-lhes a comer parte de um peixe assado, e um favo de mel; e encomendou as ovelhas a S. Pedro, examinando-o, primeiro, três vezes, sobre a caridade, e disse-lhe: "apascenta as minhas ovelhas".
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NONA APARIÇÃO
Mateus, último capítulo [Vita Christi; Mt 28,16 / 17.18 / 19].
Primeiro. Os discípulos, por ordem do Senhor, vão ao monte Tabor.
Segundo. Cristo aparece-lhes e diz: "Foi-me dado todo o poder no céu e na terra".
Terceiro. Enviou-os por todo o mundo a pregar, dizendo: "Ide e ensinai todas as gentes, batizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo".
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DÉCIMA APARIÇÃO
Primeira epístola aos Coríntios, capítulo 15,6 [1Cor 15,6a].
"Depois foi visto por mais de quinhentos irmãos juntos".
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DÉCIMA PRIMEIRA APARIÇÃO
Primeira epístola aos Coríntios, capítulo 15,7 [1Cor 15,7a]
"Apareceu depois a São Tiago".
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DÉCIMA Segunda APARIÇÃO
[Vita Christi] Apareceu a José de Arimateia, como piamente se medita e se lê na vida dos Santos.
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DÉCIMA TERCEIRA APARIÇÃO
Primeira epístola aos Coríntios, capítulo 15,8 [1Cor 15,8/ Credo / 1Cor 15,7].
Apareceu a S. Paulo, depois da Ascensão: "Finalmente apareceu-me a mim como a um aborto". Apareceu também em alma aos Santos Padres do Limbo; e, depois de os ter de lá tirado, e tornado a tomar o seu corpo, apareceu, muitas vezes, aos discípulos e conversava com eles.
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ASCENSÃO DE CRISTO NOSSO SENHOR
Atos, 1,1-12 [Vita Christi; At 1,3-4-Lc 24,49 / Lc 24,50-Act 1,9 / At 1,10,11].
Primeiro. Depois de ter aparecido aos seus Apóstolos, durante quarenta dias, dando-lhes muitas provas e sinais e falando-lhes do Reino de Deus, mandou-lhes que em Jerusalém esperassem o Espírito Santo prometido.
Segundo. Levou-os ao monte das Oliveiras e, em presença deles, elevou-se, e uma nuvem fê-lo desaparecer aos seus olhos.
Terceiro. Estando eles a olhar para o céu, dizem-lhes os anjos: "Homens da Galiléia, porque estais a olhar para o céu? Este Jesus que, de vossos olhos é levado para o céu, virá do mesmo modo que o vistes ir ao céu".
INDICAÇÕES TÉCNICAS
1ª Nota. Nas contemplações seguintes proceda-se em todos os mistérios da Ressurreição até à Ascensão inclusive [299-312], da maneira que abaixo se segue [226, 34]; no restante, siga-se e tenha-se, em toda a semana da Ressurreição, a mesma forma e maneira de proceder que se observou em toda a semana da Paixão. De sorte que, por esta primeira contemplação da Ressurreição, se regule quanto aos preâmbulos, conforme a matéria proposta; e quanto aos cinco pontos, sejam os mesmos; e as adições, que estão abaixo, sejam as mesmas [229]. E assim, em tudo o que resta [227], pode regular-se pela maneira de fazer da semana da Paixão, por exemplo, nas repetições, aplicações dos cinco sentidos, encurtar ou alargar os mistérios, etc. [204,2; 205; 208-209].
2ª Nota. Geralmente, nesta quarta semana, é mais conveniente que nas outras três passadas, fazer quatro exercícios e não cinco. O primeiro, logo ao levantar, pela manhã; o segundo, à hora da Missa, ou antes, do almoço, em lugar da primeira repetição; o terceiro, à hora de Vésperas, em lugar da segunda repetição; o quarto antes do jantar, aplicando os cinco sentidos sobre os três exercícios do mesmo dia, notando e fazendo pausa nas partes mais importantes e onde haja sentido maiores moções e gostos espirituais.
3ª Nota. Ainda que em todas as contemplações se deram pontos em número determinado, por exemplo, três ou cinco, etc., a pessoa que contempla pode tomar mais ou menos pontos, como melhor achar. Para o que muito aproveita que, antes de entrar na contemplação, preveja e determine, em número certo, os pontos que há de tomar.
4ª Nota. Nesta quarta semana, em todas as dez adições, se mudarão a segunda, a sexta, a sétima e a décima. A segunda será, logo ao despertar, pôr diante de mim a contemplação que tenho de fazer, querendo-me sensibilizar e alegrar por tanto gozo e alegria de Cristo nosso Senhor [221]. A sexta, trazer à memória e pensar em coisas que causem prazer, alegria e gozo espiritual, como, por exemplo, a glória. A sétima, usar de claridade e de temperaturas agradáveis, como, no verão, de frescura, e no inverno, de sol ou de calor, na medida em que a alma pensa ou conjectura que isso a pode ajudar, para se alegrar em seu Criador e Redentor. A décima, em vez da penitência, observe a temperança e a justa medida em tudo, a não ser em preceitos de jejuns ou abstinências que a Igreja mande; porque estes sempre se hão de cumprir, se não houver justo impedimento.
11 - CONTEMPLAÇÃO GLOBAL EM CHAVE DE AMOR
Contemplação para alcançar amor.Nota: primeiro convém atender a duas coisas. A primeira é que o amor se deve pôr mais nas obras que nas palavras.
2ª Nota: é que o amor consiste na comunicação recíproca, a saber, em dar e comunicar a pessoa que ama à pessoa amada o que tem ou do que tem ou pode; e, vice-versa, a pessoa que é amada à pessoa que ama; de maneira que, se um tem ciência, a dê ao que a não tem, e do mesmo modo quanto a honras ou riquezas; e assim em tudo reciprocamente, um ao outro.
ORAÇÃO PREPARATÓRIA: Pedir graça a Deus nosso Senhor para que todas as minhas intenções, ações e operações sejam puramente ordenadas para serviço e louvor de sua divina majestade.
1º PREÂMBULO: Composição, que é aqui ver como estou diante de Deus nosso Senhor, dos anjos, e dos santos a intercederem por mim.
2º PREÂMBULO: Pedir o que quero; será aqui pedir conhecimento interno de tanto bem recebido, para que eu, reconhecendo-o inteiramente, possa, em tudo, amar e servir a sua divina majestade.
1º PONTO: Trazer à memória os benefícios recebidos de criação, redenção e os dons particulares, ponderando, com muito afeto, quanto tem feito Deus nosso Senhor por mim e quanto me tem dado do que tem e, conseqüentemente, o mesmo Senhor deseja dar-se-me, em quanto pode, segundo seu desígnio divino. E, depois disto, refletir em mim mesmo, considerando, com muita razão e justiça, o que eu devo, de minha parte, oferecer e dar a sua divina majestade, a saber, todas as minhas coisas e a mim mesmo com elas, como quem oferece, com muito afeto: Tomai, Senhor, e recebei toda a minha liberdade, a minha memória, o meu entendimento e toda a minha vontade, tudo o que tenho e possuo; Vós mo destes; a Vós, Senhor, o restituo. Tudo é vosso, disponde de tudo, à vossa inteira vontade. Dai-me o vosso amor e graça que me bastam.
2º PONTO: Considerar como Deus habita nas criaturas: nos elementos dando-lhes o ser, nas plantas o vegetar, nos animais o sentir, nos homens o entender; e, assim, em mim dando-me ser, vida, sentidos e fazendo-me entender. E também como faz de mim seu templo, sendo eu criado à semelhança e imagem de sua divina majestade. Refletir igualmente em mim mesmo, pelo modo que está dito no primeiro ponto, ou por outro que julgar melhor. Da mesma maneira se fará sobre cada ponto que segue.
3º PONTO: Considerar como Deus trabalha e opera por mim em todas as coisas criadas sobre a face da terra, isto é, procede à semelhança de quem trabalhasse. Por exemplo, nos céus, nos elementos, nas plantas, nos frutos, nos animais, etc., dando-lhes ser, conservação, vegetação e sensação, etc. Depois, refletir em mim mesmo.
4º PONTO: Atender como todos os bens e dons descem do alto, por exemplo, como o meu limitado poder vem do sumo e infinito poder do alto, e bem assim, a justiça, a bondade, a piedade, a misericórdia, etc., tal como do sol descem os raios, da fonte as águas, etc. Depois, acabar, refletindo em mim mesmo, como está dito. Terminar com um colóquio e um Pai nosso.