CURSO 1 - CAVALEIROS DE MARIA

Para a formação de "chefes" marianos
PE. WALTER MARIAUX S. J.
Diretor do Secretariado Geral das Congregações Marianas em Roma

CONGREGADOS, PARA QUE ESTE CURSO?

Para fazer-vos "Cavaleiros de Maria"! Sabeis, quem é Maria: É aquela cuja imagem os primeiros cristãos gravavam nas paredes das Catacumbas; que países e povos inteiros escolheram como poderosa Padroeira; que toda a Igreja saúda, venera, exalta nos meses de Maio e Outubro; que milhões saúdam diariamente com o Terço; que cada Sacerdote homenageia depois da Santa Missa: "Salve Rainha!" aquela a quem os fieis em todo o mundo acorrem em suas necessidades.

É a esta Rainha que vós vos consagrastes para o serviço perpétuo, escolhendo-a como Senhora, Advogada e Mãe. É a Ela que prometestes lutar sob seus olhos e segundo seu exemplo no grande Exército mariano.

Ora, todo o exército precisa de oficiais, e o valor do exército depende da sua capacidade. Isto vale também para as fileiras da Virgem Santíssima.

Sabeis que os oficiais superiores, os Sacerdotes, são poucos e sobrecarregados. Por isso a Virgem Celeste procura oficiais leigos que ajudem aos Sacerdotes; que saibam tomar alguma responsabilidade no Exército mariano.

E estes queremos formar nos "Cursos" especializados oferecidos aqui!
Queremos ter:

Cavaleiros da Virgem Santíssima que amem a Maria e que a saúdem cada dia e saibam entusiasmar também os outros neste amor.

Cavaleiros de Maria que imitem as virtudes de Maria, especialmente a pureza, obediência e humildade, e que se esforcem por assinalar-se nelas.

Cavaleiros de Maria que combatam sem tréguas contra os inimigos de Cristo e de Maria, contra o demônio e o espírito mundano.

Cavaleiros de Maria que, sob a bandeira da Rainha Celeste, lutem pelo Reino de Jesus Cristo.

Queremos formar Cavaleiros de Maria que se sintam responsáveis no Exército mariano e ajudem ao Pe. Diretor no andamento da Congregação; que com palavras, com o exemplo e com o trabalho incentivem os outros a realizar os sublimes ideais da Congregação Mariana.

Chamamos estes Cavaleiros de Maria com a palavra comum de "chefes".

"Chefes" naturalmente não no sentido político ou cultural, mas no terreno RELIGIOSO , — "chefes" na Congregação Mariana. "Chefes" chamamos todos os congregados capazes e dispostos a tomar qualquer responsabilidade diante da Congregação Mariana, como membros da Diretoria, Presidentes das Seções, de grupos, de círculos de estudo etc.

Sabeis que a escolha destes "oficiais" é um direito do Pe. Diretor e dos congregados, porque segundo as Regras Comuns (Nº 20) eles são ou nomeados pelo Pe. Diretor ou eleitos pelos membros da Congregação.

Este direito permanece absolutamente intacto. A formação que entendemos dar aos futuros chefes por meio de Cursos especializados, não tem outro fim senão o de FACILITAR ESTA ESCOLHA, fornecendo uma boa preparação aos congregados mais ativos e dignos, e criando assim um grupo de marianos que sejam ESPECIALMENTE APTOS para serem escolhidos como oficiais.

NÃO É UMA COISA NOVA que se introduz nas Congregações Marianas, exigindo os mesmos Estatutos um grupo de leigos que sejam aptos para ajudar ao Pe. Diretor no governo da C. M. (RC 18) e para dirigir — sob a suprema responsabilidade do Sacerdote — as seções, as academias, os círculos de estudo, etc. Ora, um tal ofício supõe, pelo menos hoje em dia, uma formação sólida e especializada, e isto tanto mais urgentemente aqui no Brasil, onde o número dos Padres é muito reduzido e a maioria dos Revmos. Vigários é extremamente sobrecarregada de trabalho.

Por esta razão temos a esperança que serão NUMEROSOS os congregados que aceitem o convite para se formarem duma maneira especial nestes cursos de chefes.


ÉS CHAMADO!

Dirigimos um apelo ao teu idealismo. É verdade que és leigo e não ouviste um chamado divino ao sacerdócio. Mas, sabes que há também um sacerdócio leigo. E a Igreja necessita hoje de leigos que colaborem na grande missão de recristianizar o mundo.

A tornar-te um apóstolo leigo, um chefe católico, eis a que te chamamos. Na Congregação Mariana encontrarás a base e o campo apropriado desta atividade. Milhares de chefes católicos já saíram das Congregações.

Ainda ultimamente o Senhor Reverdy, membro da Junta Nacional da Ação Católica Francesa, num artigo publicado em "La Croix", escreveu: "Pode-se verificar que na França as Congregações Marianas foram em verdade as iniciadoras do grande movimento social católico que se desenvolveu desde o tempo de Leão XIII... A Congregação Mariana pode reivindicar para si a paternidade de todas as criações atuais da Caridade em França.."

Na Irlanda um congregado, modesto empregado de correio, fundou a "Legion of Mary", organização difundida hoje em muitos países.

E foi com a ajuda dos congregados marianos que, no ano de 1833, um estudante de Paris, Frederico Ozanam, pôs os alicerces da grande obra das Conferências Vicentinas difundidas hoje em todo o mundo.

Em todos os países saíram das Congregações Marianas inumeráveis "leaders" do catolicismo na vida pública, homens que criaram obras magníficas no campo da imprensa, da vida social, da caridade, etc.

Hoje a Igreja está procurando estas almas de escol e generosas especialmente aqui na tua pátria, o Brasil. E esperamos que tu serás um dos que aceitam o convite.

Que coisa queres, afinal de contas, na tua vida? Já pensaste nisto alguma vez? Certamente queres obter uma boa posição econômica e social. Mas sabes que as possibilidades econômicas são limitadas. Tua vida vai decorrer provavelmente como milhares de outras, com as mesmas esperanças, preocupações e desilusões. Mas, mesmo uma tal vida que, vista de fora, parece medíocre e terra a terra, pode ter um valor infinito. Operário diante dos homens, podes ser oficial diante de Deus, oficial no exército de Cristo. Também a vida de S. Luiz e de S. João Berchmans foram vidas ordinárias como as de milhares de outros; e no entanto, como eles foram chefes dinâmicos de milhões de moços!

Dá a tua vida um objetivo sublime. Apelo para o teu idealismo. "Não expulses do teu peito o herói!" Porque um herói está escondido no peito de cada moço! Também no teu!...

O homem só vive uma vez!

Lembro-me dum condiscípulo da minha juventude que passeando encontrei um dia num lugar muito solitário da floresta, absorto como parecia em reflexões. Que fazes aqui, perguntei, e ele respondeu com olhos ardentes: Meditei numa coisa. Em que coisa? Que vivemos uma vez só. Fiquei impressionado; meu amigo descobrira uma verdade que todos sabemos, mas que facilmente perdemos de vista. Ele de fato tomou a sério a sua vida e tornou-se cientista de grande fama.

Também tu vives uma vez só. Não esbanjes o teu tempo. Aproveita cada dia para preparar-te ao ideal sublime de chefe católico. O moço geralmente não sabe estimar o valor do tempo. Acha coisa natural acordar cada dia de novo com os membros sãos. Na realidade, todo dia novo é um presente de Deus.

Alguns anos atrás, na Europa, dois sacerdotes amigos atravessaram a fronteira da pátria; um acompanhava o outro que, solto de um campo de concentração, viajava para uma Missão longínqua. Ao ver-se livre, o missionário lançou-se ao pescoço do amigo exclamando: Que felicidade estar são e livre! Não sabes que coisa quer dizer ter passado naquele inferno onde se perde toda a esperança de gozar mais um dia de homem livre! Quantas vezes pensei e rezei a Deus: Oxalá pudesse passar um dia só em liberdade, dispondo das minhas ações! Como queria utilizar este tempo!

Aquele missionário conhecia o valor do tempo, de que podemos dispor. E nós, quantos dias passamos sem proveito! Os inimigos do nosso Rei Jesus Cristo são ativos, incansáveis. E nós, os amigos, deixaremos acaso passar o tempo sem fazer nada!

Não; entreguemo-nos cada dia ao serviço do nosso ideal: tomar-nos chefes católicos, arautos do Rei divino. Devemos crescer cada dia mais no zelo e na capacidade. Como à palmeira da tua pátria se acrescenta cada ano um trecho a mais de caule, ganhando assim um palmo em altura, assim também deves crescer cada ano na altura do espírito religioso e na generosidade do teu caráter, caminhando para o Ideal.

És congregado mariano, consagrado a Maria para toda a vida. És convidado a tomar-te verdadeiro cavaleiro da Virgem. Dos cavaleiros da Idade Média ouviste por certo que lutaram para a extensão do Reino de Cristo e a propagação da Fé católica e que compreenderam esta sua grande missão como serviço prestado a Maria, à Rainha celeste. Que depositaram os seus votos nas mãos de Maria par que Ela os oferecesse a Deus. Que receberam suas espadas do altar da Virgem Santíssima, como das mãos da própria Virgem. Que construíram como símbolo da sua devoção filial o "Castelo de Maria", fortaleza altiva e poderosa na Prússia oriental. "Cavaleiro da ordem de Santa Maria", chamavam-se eles, e, ainda que a sua organização tenha desaparecido no curso da história, o ideal do serviço cavalheiresco à Virgem Santíssima entusiasma sempre de novo milhares de moços católicos.

Hoje também trata-se da extensão do Reino de Cristo, da influência de Cristo na vida particular e na vida pública. Sê meu cavaleiro, assim te chama a Rainha celeste, e luta pelo Reino do meu Filho. Podes acaso ver sem santa indignação, como os inimigos de Cristo dominam a vida das famílias e até a vida particular? Podes ver sem comoção, como dois mil anos depois da morte redentora do Salvador, milhares não conhecem o seu Evangelho e outros milhares que o conhecem vivem como os pagãos antes da sua chegada? Cristo, o Rei divino, precisa de lutadores decididos, abnegados, generosos. A Igreja precisa em todos os países de apóstolos do Evangelho.

No Norte da Espanha ergue-se uma serrania chamada pela forma caraterística dos seus picos rochosos "Montserrat" (monte serrado). Um pouco antes do cume acha-se um mosteiro, em cuja igreja se venera desde os tempos mais antigos uma imagem de Nossa Senhora com o Menino Jesus.

Numa noite do ano 1522 entra um fidalgo na igreja, põe-se diante da imagem e fica ali apoiado na sua espada para montar guarda de honra a Maria Santíssima. Caem as sombras da noite, a igreja torna-se escura, só a lampada do Tabernáculo chameja e o cavaleiro permanece de pé quase imóvel com os olhos postos na imagem sagrada.

É Inácio de Loiola. A graça de Deus tocou seu coração. Nesta noite realiza a ruptura definitiva com o mundo e o seu passado, lançando os alicerces duma vida nova. Não quer mais servir ao amor terreno, a ideais passageiros, a um reino profano. A partir desta noite, toda a sua vida será uma guarda de honra, um serviço voluntário prestado à sua Rainha celeste. Sob os olhos Dela combaterá pelos interesses do seu Divino Filho.

E cumpre a palavra. No dia seguinte dá suas roupas de homem rico a um pobre mendigo e retira-se depois à solidão de Manresa. Prepara-se com penitências e orações para uma vida de zelo e de apostolado. Mais tarde funda juntamente com alguns companheiros a "Companhia de Jesus". E, como sabemos, é esta a ordem religiosa, cujos filhos um dia reuniram os alunos do Colégio Romano ante a imagem de Maria, lançando os fundamentos das Congregações Marianas, daquela organização que agrupa centenas de milhares de fieis como cavaleiros da Virgem Imaculada.

Pensa, caro congregado, diante do quadro da Tua Rainha, se não és também chamado ao serviço Dela e se não queres aceitar o nosso convite para formar-te como chefe na Congregação, em outras palavras, como verdadeiro Cavaleiro de Maria.


O MÉTODO DESTA FORMAÇÃO

Serão criados dois graus de Chefes nas CC. MM. Neste Opúsculo só falamos do primeiro grau.

A formação compreende três elementos:
• O Curso
• A preparação ao Exame final
• O próprio Exame

O Exame se efetuará no minimo três meses após o Curso. Aos que passarem no Exame, será conferido um Diploma.



REQUISITOS PARA O PRIMEIRO GRAU DE CHEFES

I. Condições prévias:

1. Conduta exemplar na C. M.
2. Disposição constante de colaborar com a C. M.
3. Procedimento irrepreensível na Paróquia, na Família e na Vida profissional.

II. Conhecimentos teóricos:

1. Porque formação especial dos "chefes"?
2. Que significa ser "chefe" na C. M.? Relações do chefe com Jesus Cristo.
3. A fisionomia do chefe da C. M.
4. O valor da devoção mariana para o chefe.

III. Obrigações especiais:

1. Comunhão ao menos semanal.
2. Formação do caráter sob a direção espiritual dum Padre.
3. Leitura dum livro sério de formação duas vezes por semana.
4. Rezar diariamente o Terço.

IV. Capacidades técnicas e de organização:

1. Saber bem o Catecismo.
2. Saber explicar aos congregados, em forma de conversa, a matéria do 1º, 2º e 3º Opúsculos de formação.
3. Conhecer o modo de ajudar a Santa Missa e saber ensiná-lo aos outros.
4. Conhecer o uso do "Missal".
5. Saber ensinar o comportamento na igreja (água benta, genuflexão, etc.).
6. Saber ensinar a rezar em comum.
7. Saber rezar em público sem fórmula fixa as orações ordinárias (da manhã, da noite, depois da S. Comunhão).
8. Saber falar 5 minutos com uma preparação de alguns minutos.
9. Saber ler e contar historietas de um modo atraente.


EXPLICAÇÕES DAS CONDIÇÕES PRÉVIAS

1. Conduta exemplar na C. M.
Isto é evidente, pois aqueles, que como futuros chefes querem formar um grupo de elite na C. M., devem ser, eles mesmos, bons congregados. Praticamente podem ser admitidos a estes Cursos especiais só congregados que frequentem as reuniões, que se justificam no caso de serem impedidos, que tomam parte anualmente nos retiros fechados, etc.

2. Disposição constante de colaborar com a C. M.
Uma vez que a alma de cada ofício é precisamente a atitude pronta a serviço dos irmãos, a C. M. deve admitir como futuros chefes somente aqueles que já demonstraram esta vontade de ajudar ao Pe. Diretor e aos membros da Diretoria
numa ocasião ou outra.

3. Procedimento irrepreensível na Paróquia, na Família e na Vida profissional
Os chefes da C. M. devem gozar duma certa reputação pessoal perante os congregados e os demais católicos. Por conseguinte admitimos a esta formação especial só os congregados que sejam irrepreensíveis não só no cumprimento dos seus deveres religiosos, mas também na sua vida familiar, tratando, como filhos, os seus pais com grande respeito e obediência. Na vida profissional entre os companheiros devem eles dar o bom exemplo de verdadeiros cristãos, de moços de caráter e bons camaradas.


EXPLICAÇÕES DOS CONHECIMENTOS TEÓRICOS

Os futuros chefes devem conhecer a grande responsabilidade, o fim e os deveres relativos ao seu ofício. Recomendamos por isso que estudem bem os temas que se seguem:

1. Por quê formação especial dos chefes?
2. Que significa ser "chefe" na Congregação Mariana?
3. A fisionomia do chefe na Congregação.
4. O valor da devoção mariana para o chefe.



1. POR QUÊ FORMAÇÃO DOS CHEFES?

Já expusemos que entendemos pela palavra "chefe" todos os congregados capazes e dispostos a tomar alguma responsabilidade diante da C. M. e a ajudar ao Pe. Diretor no governo da mesma. Encaremos agora os motivos que nos impelem a dar uma formação especializada a este grupo escolhido dos nossos congregados. Estes motivos encontramo-los na mesma C. M., nas circunstâncias dos tempos atuais, na Igreja e, finalmente, na Pátria.

I. AS RAZÕES DA PARTE DA C. M.

1. Cada organização depende no seu desenvolvimento dos seus chefes

Eis um fato observado igualmente em toda a história como nos tempos presentes: só uma minoria ativa e bem organizada sacode a massa; a formação de pequenos grupos escolhidos é o meio mais eficaz para influenciar as multidões e para infundir nelas as próprias idéias, os mesmos objetivos e o mesmo entusiasmo.

Muito bem diz o famoso Cardeal Newman: “A graça atua e aperfeiçoa sempre a sua obra por meio do auxílio dum reduzido número de homens. É dos profundos conhecimentos deles, é das suas firmes e claras consciências, é da sua devoção absoluta, é do sangue dos mártires e das orações dos santos, dos heroísmos e das energias concentradas numa palavra ou numa instituição, que o Céu se serve como de instrumento." (Present position of Catholics).

Não foi, aliás, o mesmo Salvador quem segundo este princípio escolheu, formou e instruiu um pequenino grupo de discípulos, que deviam tornar-se as colunas de Sua Igreja? E não é este ainda o método usado pela Santa Igreja na formação dos Clérigos?

As melhores tropas, as mais bem armadas, de nada valem sem bons oficiais. E quem são estes "oficiais" no exército mariano, senão os chefes leigos ao lado dos Sacerdotes?

O movimento mariano podia nascer aqui no Brasil e tomar esta prodigiosa extensão admirada por todos, sem chefes especialmente formados; — mas poderá ele continuar a se desenvolver nas mesmas condições ? — É uma lei da vida orgânica que o organismo, crescendo, deve formar e fortalecer cada vez mais o esqueleto. Ora, o esqueleto do movimento mariano são os chefes leigos.

A experiência quotidiana nos diz: os bons chefes são elementos decisivos para o florescimento de uma Congregação. Quantas vezes um novo Presidente levanta o nível inteiro da Congregação ou o abaixa! Este problema é, no Brasil, duma importância capital por causa do número reduzido dos Sacerdotes, do acúmulo de trabalho dos Padres, abrindo uma lacuna imensa que deve ser preenchida pelos católicos leigos.

2. A mesma estrutura da C. M. exige a formação dos chefes

Os estatutos da C. M. falam de "um corpo de congregados" que devem "ajudar ao Padre Diretor no governo e administração da Congregação" eles "constituem o Conselho de governo" (regra 18). "Assim como precedem aos outros na dignidade, assim devem eles excedê-los tanto mais na prática das virtudes e na reta observância das regras, quanto mais elevado for o cargo que tiverem” (regra 48). E a regra 49 os exorta a que “procurem cumprir com suma diligência os deveres do seu cargo para se tomarem fiéis auxiliares da autoridade do Pe. Diretor". O Presidente é chamado “o braço direito do Pe. Diretor” (regra 53). São os mesmos leigos que têm que dirigir as seções, as academias, os círculos de estudo, as seções de apostolado.

Pode acaso um congregado qualquer cumprir estas tarefas? Certamente não. Pois, elas supõem vários conhecimentos e não poucas qualidades pessoais, numa palavra: uma formação sólida e especializada. Podemos observar que especialmente nos últimos anos a importância do papel dos chefes leigos nas CC. MM. é muito frisada por escritores e diretores competentes nesta matéria.

Por exemplo diz o Pe. Bangha, primeiro Diretor do Secretariado Geral das CC. MM. em Roma, num discurso que fez na Suíça em 1935: “ O Conselho deve guiar no verdadeiro sentido da palavra, e por isso tem que formar congregados que sejam capazes de guiar, de ajudar ativamente ao Pe. Diretor, de preocupar-se junto com ele com o progresso da C. M., de propor idéias e sugestões, de refletir sobre os meios mais aptos para a realização do duplo fim da Congregação, para eliminar ou prever as dificuldades, capazes, enfim, de atrair e interessar novos membros, instruindo-os segundo as exigências da vida mariana."

O Pe. Garagnani, Diretor da Prima Primária de Roma» responde assim à objeção de que as CC. MM. não promovem suficientemente o espírito de responsabilidade e de iniciativa: "Na C. M. a paternal autoridade do Diretor pode muito bem unir-se, seja no Conselho, seja na ação, com certa liberdade dos congregados. O Diretor não deve fazer tudo sozinho, mas preocupe-se que os congregados desenvolvam a sua atividade, fecundada pela própria iniciativa, sobretudo mediante seções."

Confirma isto o que narra o Pe. Ruiz Amado na biografia do célebre Diretor de Barcelona, Pe. Fiter S. J., sobre a maneira que este usou para formar os oficiais da sua C. M.: "O objetivo duma boa formação é ensinar ao jovem o uso da sua liberdade, preparando-o assim para o dia em que deverá decidir por si mesmo sobre o seu destino..." O Pe. Fiter conseguiu isto na sua C. M. com bom êxito. Os seus moços não eram somente acostumados a obedecer, mas também a mandar, especialmente num certo âmbito, como presidentes, secretários, chefes das seções, etc.."

Citemos também um trecho do "Manuel des Directeurs" do Pe. Villaret, antigo Diretor do Secretariado Geral das CC. MM. em Roma: "As palavras da regra 18 indicam claramente que os membros da Congregação tomam realmente parte no seu governo, e indicam também que eles não são somente executores, mas colaboradores, e que o seu papel não se limita à estreita esfera das coisas materiais e externas, — por mais importantes que sejam para o bem comum, — mas que este se estende a toda a vida e a toda a marcha da Congregação na consecução do seu duplo fim, numa palavra, ao governo mesmo da Congregação.”

Afinal é interessante lembrar uma resolução que formularam os PP. Diretores das CC. MM. de toda a Espanha, reunidos num Congresso em julho de 1940: "Dá excelentes resultados formar a todo o custo um grupo de congregados desinteressados e inteiramente entregues à Congregação e às suas obras, congregados que sejam como o braço direito do Pe. Diretor, nos quais pode este confiar completamente, estes são os que, tomando como próprias todas as coisas da Congregação, fazendo seus todos os planos do Diretor, arrastarão aos outros congregados e darão impulso a eficácia a quanto se empreenda para a maior glória de Deus..."

Oxalá tivéssemos em cada Congregação um grupo assim de "chefes"  exemplares, responsáveis e capazes! Como consegui-lo? É evidente que não caem do Céu, não crescem espontaneamente por si mesmos; mas é preciso formá-los!

3. O fim apostólico da C. M. requer chefes formados

 A segunda parte da primeira Regra diz que os congregados devem ser “bons cristãos que  sinceramente se esforcem por salvar e santificar os outros e a defender a Igreja de Jesus Cristo dos ataques da impiedade.” Os sublimes fins do apostolado católico constituem, pois, uma parte integrante desta organização. E nos estatutos da Ação Católica Brasileira foi expressamente estabelecido que as Congregações Marianas fazem coletivamente parte do movimento do apostolado leigo oficial da Ação Católica, havendo a obrigação de encaminhar além disto individualmente os congregados a inscrever-se nas fileiras da Ação Católica.

Ora, a contribuição das CC. MM. à Ação Católica será tanto mais eficaz e frutuosa, quanto melhor forem formados estes moços para agir com responsabilidade e iniciativa, em outras palavras, quanto mais se mostrarem verdadeiros "chefes” católicos.

Lembrem os também as magníficas palavras do Santo Padre Pio XII na sua Carta Apostólica dirigida ao Pe. Geral da Companhia de Jesus a 6 de Julho de 1940: “ Para a formação da mocidade concorrem poderosamente essas escolas de piedade e de apostolado cristão, as Congregações Marianas, com as quais a Igreja de Cristo pode sempre contar, como com tropas auxiliares, arregimentadas em batalhões pacíficos sob o estandarte da Virgem Maria.” — Não é preciso provar que tropas arregimentadas em batalhões são ineficazes e sem valor, se não forem conduzidas por chefes capazes e bem formados.

Todos estão certamente de acordo sobre o princípio geral de que a massa dos jovens só pode ser conquistada para a vida cristã mediante uma “elite”. Mas, sejamos francos: A Congregação Mariana atual representa porventura esta elite? Quero dizer: uma elite no sentido de que seus membros todos, sem exceção, sejam apóstolos fervorosos e capazes de conquistar os seus companheiros? Quem ousaria afirmar tal coisa? Sem dúvida, os jovens que ingressam na Congregação Mariana se distinguem pela vontade de serem católicos exemplares e neste sentido a Congregação Mariana é uma organização de elite. Mas, ela mesma necessita de um escolhido grupo de chefes bem formados para atuar e influir na paróquia e no meio como o fermento na massa.

II. AS RAZÕES DOS TEMPOS ATUAIS

1. As exigências dos tempos atuais requerem ainda mais homens especializados

A luta das idéias, mais extensa, mais viva e urgente, mais subtil e, portanto, mais perigosa, está muito mais generalizada hoje em dia. Quantas vezes nos tempos que correm, o jovem católico se vê obrigado a defender a Igreja, a refutar os argumentos dos adversários, a explicar a doutrina de Cristo a seus colegas e companheiros.

As idéias que se divulgam fora da Igreja, os princípios que governam e dominam quase toda a vida social (ciências, artes, literatura, educação, imprensa, ginástica, esportes, vida recreativa, teatros, cinemas, carnaval, etc., etc.), os grandes setores da vida familiar e individual, são acatólicos, laicizados e até mesmo anticatólicos. — Qual o católico, moço ou não, que consegue resistir a esta infecção causada por idéias e por costumes pagãos?

E acrescentemos — com relação ao Brasil — o alarmante perigo da propaganda sectária do Protestantismo e Espiritismo, a contínua infiltração de princípios neo-pagãos, (divinização da força física, da Pátria, Nação, etc.). Quem vencerá estes males, quem triunfará deste gravíssimos perigos ? Só o católico bem formado e bem instruído! — Ai de nós, ai do Catolicismo no Brasil, se a grande organização das Congregações Marianas, — que reúne sob a bandeira católica, milhares e milhares de jovens de quase todas as paróquias, — ai de nós se esta organização não compreender a importância e urgência de uma esmerada formação dos seus membros!

Ora, este trabalho de formação não será possível sem o auxílio concreto e sistemático dos nossos chefes leigos. Basta mencionar o número reduzido dos Sacerdotes, recordar o acúmulo de ocupações dos Padres, para se perceber a lacuna imensa que deve necessariamente ser preenchida pelos católicos leigos.

Conta-se que, conversando com alguns cardeais, perguntou certa vez Pio X: "Qual é, hoje em dia, a coisa mais necessária para salvar a sociedade humana?" As respostas foram várias: “É preciso erigir escolas católicas; devemos educar uma geração de sacerdotes perfeitos... — “Não, replicou o Papa, o de que precisamos, em primeiro lugar, é, em cada paróquia, um grupo de leigos profundamente cristãos, formados, zelosos e verdadeiros apóstolos.”

Não sabemos se esta conversa é histórica ou não. É, em todo caso, instrutiva. Porque, se essa diretriz do Papa tinha o seu valor há 30 anos atrás, quanto mais hoje, quando as mesmas bases da vida social e da simples dignidade humana estão seriamente ameaçadas!

Ora, são precisamente estes apóstolos leigos bem instruídos e ativos que queremos formar nas fileiras dos nossos chefes marianos.

2. O exemplo dos adversários

É muito instrutivo observar o cuidado com que os adversários da Igreja escolhem seus futuros dirigentes, levando-os a instruir-se e formar-se em institutos especializados durante anos e anos; imbuindo-os da teoria e da prática de um sistema anti-cristão, alimentando a ambição dos jovens com contínuas provas e repetidos exames; influenciando suas inteligências e vontades, — o homem todo — proporcionando-lhes instrutores os mais competentes para tais fins e abundância de todos os meios convenientes a tal formação.

Um exemplo: a formação dos chefes no Comunismo. No ano de 1937 publicou o "Osservatore Romano" um resumo sobre este tema de que citamos o que segue:

"Já de algum tempo para cá, existem na Rússia cursos especiais e sistemáticos para agitadores comunistas estrangeiros, nos quais estes são cuidadosamente preparados para desempenhar as funções de chefes do partido comunista. Estes cursos são divididos em três grupos distintos, segundo o tipo de agitador que deve ser formado.

Os Cursos do PRIMEIRO GRUPO duram de 7 meses a um ano, e se organizam ordinariamente em Moscou, Kiew, Karkow e Minsk. São frequentados por inscritos nas seções estrangeiras do partido, os quais se tenham distinguido por zelo e capacidade na organização e propaganda e que sejam recomendados pelas juntas regionais... Todos são obrigados a morar durante o curso nos quartéis preparados para este fim, e não podem ter contato senão com os professores... Acabados os cursos teóricos, sempre entremeados de lições
praticas, os estudantes são reenviados às Juntas regionais com o titulo de "revolucionários diplomados".

Instituto tipo do SEGUNDO GRUPO é a "Universidade comunista para as minorias nacionais do Ocidente", que funciona em Moscou. Esta possui diversas seções nacionais e os instrutores são escolhidos de preferência entre comunistas de diversos países. Pertencem a este segundo tipo muitas "universidades noturnas", também estas muito frequentadas. Os melhores alunos dos cursos são chamados a um maior aperfeiçoamento práticos e destinados, por isso, a dirigir círculos políticos na República Soviética e, depois de certo tempo, são devolvidos aos seus países de origem para ali organizarem e guiarem a propaganda da ideia comunista.

O TERCEIRO GRUPO de cursos para a preparação revolucionária tem por expoente a famosa "Escola de Lênin" em Moscou, a respeito da qual se guarda o mais absoluto segredo. A maioria dos estudantes desta escola principal, definida como o cérebro da organização e propaganda bolchevista, compõe-se de comunistas estrangeiros, enviados à Rússia, para aprender nesta escola em teoria e na prática todos os assuntos delicados e difíceis de futuros chefes das organizações do partido... O ensino é feito com grande cuidado e com métodos apropriados, compreendendo, entre outras coisas, as seguintes matérias que formam a base para a ação comunista: teoria da direção do partido, os deveres dum deputado comunista no seio dum parlamento europeu, a tática de ação para a decomposição ou a espionagem entre os elementos das forças armadas dum país, a espionagem na indústria e no campo da economia, a arte da guerra civil, da guerrilha, dos atentados terroristas...
É certo que com a ajuda e por meio destes elementos "diplomados", o Komintern conduz, — em nome da Rússia Soviética — a ação destruidora e tenaz do movimento comunista em todos os países"

Que espetáculo trágico! Tantas pessoas, tanto tempo, organização, dinheiro, etc.. dedicados ao mal, à luta contra Cristo! Tanto esforço para, em última análise, uma coisa perdida! Pois, a heresia, o erro, nunca são construtivos, não são capazes de criar valores positivos, que façam  o homem melhor e mais feliz.

O outro lado, porém, onde nós combatemos é vitorioso; e isto por principio! Cristo e a igreja podem ser atormentados só temporariamente;
sempre pertence a eles o triunfo final.

Por isso não nos atemorizam os empreendimentos dos adversários do Cristianismo. Nosso Rei Jesus Cristo é sempre o mais forte.

Porém, uma coisa, cumpre dizê-lo, procura Jesus Cristo: colaboradores que se entreguem à sua causa sem reservas, que manifestem o mesmo zelo em favor da Igreja que os inimigos contra ela, que apliquem a mesma tenacidade ao bem como aqueles ao mal, que se sublimem ao mesmo espirito de sacrifício espalhar o Evangelho da Verdade como aqueles o do erro.

Não devemos deixar vencer-nos pelos inimigos! Como os comunistas erigiram numa cidade da Rússia um monumento a Judas, o traidor, assim nós levantaremos nos nossos corações monumentos a Cristo-Rei; como eles preparam os propagandistas do Ateísmo nas suas universidades e escolas, assim nós formamos fileiras de apóstolos da Verdade, oficiais e "chefes" do exército de Cristo nas nossas Congregações Marianas.

III. As razões da parte da Igreja

1 . A Igreja tem o direito de guiar os jovens, para a salvação e perfeição

Porque a Igreja é Cristo; ora, Ele os remiu com o próprio sangue, e por todos morreu. A Igreja tem o dever e a vontade de fazer deles bons cristãos, pois que todos são batizados, tornando-se assim membros dela.

Quem fará este trabalho? Os Sacerdotes só não bastam. A Igreja conta conosco, com os chefes leigos.

2 . Especialmente hoje, a Igreja conta com as Congregações de nosso Brasil

Porque na Europa se perdeu muito terreno. Para compensar tantas e tão dolorosas perdas, a Providência Divina abre aqui uma porta. Também de nós dependerá que a Igreja não se desiluda nas suas esperanças...

São centenas e centenas cada ano. Que querem? A que aspiram? Certamente nem todos são santos, mas estão bem dispostos; para que? Para serem conduzidos a uma vida verdadeiramente cristã.

Que coisa lhes deve dar a Congregação? — A Congregação deve dar-lhes ricos meios para a salvação da alma, para aperfeiçoá-los, para tomá-los homens felizes e exemplares. E quantos acharam, deveras, na Congregação este auxílio! Quão
numerosos são os que, aplicando os meios espirituais da C. M., se tornaram cristãos exemplares, homens felizes e santos!

E que multidão de jovens magnificamente dispostos ha no Brasil, que exclamam: Eis-nos! Formai-nos! Instruí-nos!

Estejamos, portanto, prontos para ensinar-lhes como vencer as tentações, como viver na graça santificante, como amar a Jesus e a Maria e como progredir nas virtudes cristãs! — Quão triste seria se a Congregação Mariana não conseguisse amoldar estes jovens, para utilizar esta magnífica disposição, que se encontra na juventude deste país. — Mas, de quem depende isto?

Certamente não só do Sacerdote. Está sobrecarregado.

3. De vós depende este resultado

Uma C. M., na qual um grupo de chefes auxilia o Diretor, torna a C. M. ativa, ocupa-se das reuniões, instrui os candidatos e os congregados, — fará a coisa mais importante, que há no mundo! Depende de vós!

DO VOSSO EXEMPLO, que tanta influência exerce nos companheiros! Quantos vencem o respeito humano, si acham quem corajosamente lhes dê o exemplo!

DA VOSSA PALAVRA! Quantos virão às reuniões, se forem convidados com gentileza e trazidos por seus amigos. Quantos perigos se evitam, se um bom amigo congregado adverte um jovem e o acompanha à Confissão e à Santa Comunhão.

DO VOSSO ZELO. Como será robustecida nos jovens a luz da Fé, quantos motivos fortíssimos de praticar virtudes, encontrarão eles na doutrina cristã, se vós vos adestrardes a ensinar-lhes esta doutrina, se tornardes interessantes e atraentes estas instruções.

IV. As razões com respeito à Pátria

Amamos nossa pátria. Amamo-la em Deus. Mais alto que a pátria está o próprio Deus, o bem infinito. Porque Ele nos deu esta pátria, porque Ele quer este amor, por isso, amamo-la.

1. Queremos uma pátria obediente a Deus

Que sirva a Deus: que professe a religião de Cristo. Queremos o Brasil católico, apostólico, romano.

Estamos convencidos de que só um Brasil assim será duradouro, feliz e forte. A obediência a Deus, a obediência à sua revelação, a seu Filho Jesus Cristo, é o único fundamento estável dos Estados. Por amor à nossa Pátria lutemos para que a virtude cristã se desenvolva em todas as classes; que os funcionários de Estado sejam homens conscienciosos e desinteressados; os educadores da juventude homens que respeitem a alma imortal da criança, que sejam capazes de educar filhos de Deus; os juízes, íntegros; os pais, cheios de espírito de sacrifício; a juventude amante da pureza de coração, disciplinada mais interior do que exteriormente, etc ... Em uma palavra : Procuremos, que floresça a virtude cristã em todas as classes do nosso povo.

2. De quem depende isto?

Por ventura não depende também de vós? Vós sois chamados a colaborar neste magnífico empreendimento, tão decisivo para o futuro da Pátria. Nossa juventude é o povo de amanhã que ora também formamos nas CC. MM. Que honra, mas também que responsabilidade em contribuir para o triunfo de uma coisa tão nobre! Seja embora pequeno e modesto o nosso posto, sabemos no entanto que o valor do "front"depende da fidelidade de cada soldado! Formemo-nos neste espírito, contribuindo assim para a formação católica de um Brasil católico.


2. QUE SIGNIFICA SER "CHEFE" NA C. M.?

O chefe absoluto é Jesus

1 . Esclareçamos um pouco o significado da palavra "chefe" 

É o que está à frente, que dirige outro, o induz a fazer alguma coisa, que manda, dá ordens... É ainda aquele que mostra o caminho que precede outros, que os dirige, conhecendo melhor do que eles a estrada. Daí o poder alguém ser "chefe” em duplo sentido: investido de uma autoridade interior ou exterior; ou no sentido de um comandante ou no sentido de um guia, de uma personalidade eminente por seu saber, por suas qualidades etc.

Exemplo: Um grupo de soldados comandados por um oficial extraviou-se no caminho; o oficial dirige-se a um camponês, no qual confia porque afirma conhecer a estrada e querer conduzi-los. O oficial dá ordens. Todos seguem o camponês como guia. — Eis os dois significados de "chefes": o oficial com sua autoridade exterior e o camponês com seu saber prático chefiando o grupo.

Há, pois, em todos os campos da cultura humana social, uma dupla hierarquia, a da autoridade exterior, e a da capacidade interior; a do poder de mando, e a da influência.

Qual será o caso ideal? Será naturalmente aquele no qual estas duas hierarquias coincidem; no qual a mesma pessoa reúna em si os dois significados da palavra "chefe"; no qual aquele que possui a autoridade exterior, seja também o mais idôneo, o mais capaz e o mais digno de todos.

É uma questão de vida ou de morte para cada comunidade de evitar que se afastem estas duas hierarquias; de investir pelo menos nos postos mais importantes com a autoridade exterior àqueles que são os mais capazes e os mais dignos. Embora vigore em cada comunidade esta tendência, devemos admitir, que isto geralmente se consegue só aproximativamente. Em muitos casos são uns que mandam e outros que gozam da maior estima pessoal.

2. Agora olhemos para Jesus Cristo

Podemos-Lhe chamar "chefe" ? — Certamente! Mais ainda: file é o caso ideal de que falamos. Pois Ele é chefe no duplo sentido: investido com autoridade exterior, com o direito de mandar e, ao mesmo tempo, é o melhor, o mais capaz, o mais digno de todos: "Chefe"em todos os sentidos.

Há mais: Jesus Cristo não só reúne na sua pessoa os dois significados da palavra "chefe", mas n’Ele estes dois significados são realizados no supremo grau que se pode imaginar. Jesus Cristo é o Chefe absoluto! Não ha pessoa que possua maior autoridade exterior. A razão está clara: Ele é verdadeiro Deus. Tem, portanto, o supremo direito sobre todas as criaturas. O Apocalipse chama-o "Rei dos Reis (Apoc. 1,5 e 19,16) c a Igreja instituiu no ano 1925 uma festa especial para celebrar a sua Realeza eterna. Jesus Cristo pôde dizer de si mesmo: "Todo o poder me foi dado no Céu e na Terra".

Jesus Cristo é, ao mesmo tempo o mais digno de todos os homens; pois Ele supera todos com a sua sabedoria e santidade. Ele é simplesmente o homem ideal!! Ele mesmo exige que todos os seus irmãos se tornem semelhantes a Ele, que o sigam e o imitem. "Aprendei de mim, pois sou manso e humilde de coração". "Eu vos dou o exemplo para que vós procedais como Eu procedi". E o Apóstolo das gentes exprime a mesma ideia, escrevendo aos Romanos que Deus "nos predestinou para nos fazer conformes à imagem do seu Filho ...” (Rom. 8,29).

Daí ser Ele o ideal absoluto dos homens que todos devem seguir tornando-se semelhantes a Ele. Daí ser Ele "chefe" no sentido absoluto! Jesus Cristo comunica-nos seu cargo de "chefe".

É Cristo verdadeiramente o único "chefe"? Não há também homens que participam deste cargo? Certamente: A hierarquia da Santa Igreja tem a missão de dirigir os homens. Mas o Papa, os Bispos, os Párocos etc., não são dirigentes independentes dele. Comunica-lhes Jesus Cristo o grande ofício de Guia e de Rei. Dirigem eles e guiam em Seu nome! Com Sua autoridade!

E os leigos? Quer Jesus que estes colaborem com a Hierarquia na salvação dos homens? Quem nos lembrou este dever? Foi especialmente o Papa Pio XI com seu apelo à Ação Católica. Todos devem julgar-se responsáveis pelos seus irmãos. Ninguém poderá pois afirmar: não me cabe a mim ser guia e chefe dos outros. Todos os cristãos são chamados a esta missão que devem cumprir ao menos com a oração e o bom exemplo.
Mais: todo o cristão recebe para esta empresa uma espécie de consagração.

Quando? Quando recebe o Sacramento do Santo Crisma. Esta é a consagração do leigo para o apostolado. Ela contém não somente o "mandato", o dever, mas também a capacidade sobrenatural, conferindo-lhe as graças sacramentais necessárias a este dever.

Que quer, pois, de nós Jesus Cristo? Que suscitemos em nós o senso da responsabilidade; que tomemos a sério nossa vocação de ser guias, chefes, dirigentes, no sentido profundo da palavra, — participando do grande ofício do mesmo Jesus.


O NOSSO OFÍCIO DE CHEFE

Nosso ofício de chefe está, portanto, intimamente ligado a Jesus Cristo. Quer consideremos a ideia fundamental, quer o fim ou os meios deste ofício, sempre encontraremos Jesus Cristo como elemento essencial.

1 . A ideia fundamental do ofício de "chefe" é: Cristo!

Somos como que embaixadores de Cristo.

Que é o embaixador em si mesmo? Nada. Simples representante. Se faz uma visita, se fala, se recebe honras, se é ofendido, — é sempre o próprio Rei que visita, que fala, que é honrado ou ofendido. O embaixador, como pessoa particular pouco significa, quase a ninguém interessa. — Jesus Cristo tem seus embaixadores no mundo.

Em 1º lugar e por excelência os Bispos e Sacerdotes consagrados. Depois, colaborando com eles, nós, em medida mais restrita, porém no verdadeiro sentido.

ISTO EXIGE DE NÓS:

SANTIDADE. É coisa santa ser arauto do Santo dos Santos. A pessoa que leva a palavra sagrada do Salvador, que explica a doutrina santa, que conduz à fonte de santidade, aos Sacramentos, deve ser santa ou ao menos tender para a santidade.

HUMILDADE. Nossa pessoa particular não conta. Como no ofício de embaixador, não se considera a nossa pessoa. Vale tão somente o Rei que representamos, a quem conduzimos e a quem servimos. Acreditais Jazer um favor a Cristo quando o servis? Não necessita de vós. Poderia escolher tantos outros! Não somos dignos desta santa vocação. Ele nos chamou, ainda que indignos. Por conseguinte: Sejamos humildes!

APLICAÇÃO SÉRIA. Tão nobre vocação não deve ficar à mercê do capricho de um eleito. Não se deve brincar com graças de tal valor. Tomemos a sério as lições de formação, as advertências, os exercícios práticos, embora insignificantes na aparência, pois servem a um fim importantíssimo! Todo o nosso interesse, todos os nossos pensamentos, todo o entusiasmo da nossa alma — eis o que devemos dar a Cristo.

2. O objetivo deste ofício é: Cristo!

Chefes, Dirigentes, para dirigir! — Para onde? Para quem? Para um ideal mundano, profano? Para ideais estabelecidos pelos homens? Pela moda? Acaso para o ideal do homem "dinâmico"? Não, o único objetivo para o qual queremos conduzir os homens, é Jesus Cristo. Quem conduz a fins opostos a Cristo não é um condutor, mas um sedutor. Todas as estradas pelas quais conduzimos, devem terminar em Cristo!

Para Cristo, quer dizer: que Ele se torne o verdadeiro e supremo Chefe das almas; que se torne o seu Amigo, o seu Rei e Senhor.

Para Cristo quer dizer: que os homens se prendam a Cristo objetivamente nos santos Sacramentos. Que se tornem cheios de sua graça.

Se conseguimos que um companheiro se aproxime frequentemente da Mesa Eucarística, conseguimos o principal: ele encontrou Jesus Cristo. Para Cristo quer dizer: que sejam postos em contato com Ele também subjetivamente, que Jesus viva nos seus pensamentos, no seu coração. Que conheçam a Jesus, sua doutrina maravilhosa; que sejam entusiastas de Jesus e O amem com toda a sua alma. Que O sirvam, observando os seus mandamentos.

Eis o objetivo do nosso ofício de chefes, eis o objetivo que encontramos na Paróquia e no meio da própria Congregação Mariana.

Sigamos como exemplo São João Batista.
Não quer ser senão aquele que prepara o caminha para Cristo. Não se julga digno de desatar as "correias das sandálias". Mostra Jesus "Eis o Cordeiro de Deus!" Conduz os seus discípulos a Jesus... Procura diminuir-se, esconde-se diante de Jesus: "É preciso que Ele cresça e eu diminua"...
Todos estes traços confirmam quanto foi dito acima.

3. Os meios deste ofício devem ser relacionados com Cristo

O meio principal de nosso apostolado é nossa própria pessoa.
Nós mesmos devemos estar cheios de Jesus.

Pois, como pode alguém dar aquilo que não tem? Cheios de Cristo quer dizer: recebê-lo frequentemente na S. Comunhão. O chefe deve ser ainda neste ponto um guia, um exemplo segundo o qual os outros possam orientar-se. Por isso deve comungar mais frequentemente que os demais. (V. os requisitos para o Exame, p. 18. n.° 111,1).

Cheios de Cristo quer dizer: conhecer bem a pessoa de Cristo. Por isso exijamos dos nossos chefes que conheçam a S. Escritura, que formem uma ideia grande da personalidade de Cristo (Disto tratará o 3.° Opusculo de formação para os congregados). Exijamos que leiam regularmente um livro de formação religiosa. (V. os requisitos para o Exame, p. 18, n.0 III,3).

Cheios de Cristo quer dizer: penetrar na doutrina de Cristo, porque os nossos chefes devem ser capazes de explicar a outros a matéria religiosa contida nos "Opúsculos de formação". (Requisitos para o Exame, p. 18, nº IV,2).

Cada um deve ser um "Christophorus", isto é, uma pessoa que leva Cristo em si. Assim, já o grande mártir S. Inácio de Antioquia, enquanto era transportado pelos soldados romanos para Roma, onde, no Coliseu, foi dilacerado pelos dentes das feras, escreveu na mesma viagem umas belíssimas cartas, nas quais admoesta os cristãos a não se esquecerem jamais de que são (desde o Batismo) Cristóforos — aqueles que levam a Cristo. Que título magnífico! Próprio dos chefes, encarregados que são de levar Cristo aos outros. Portadores de Cristo na alma, isto é, na graça santificante; no coração, isto é no seu amor, nos pensamentos e interesses, no modo todo de viver. — Todos conhecem a lenda de S. Cristóvão, que sem saber transportou o Menino Jesus através de um rio. Os meios que aplicamos devem relacionar-se com Cristo.

A oração

É certamente o primeiro meio que deve utilizar um "chefe". Rezar pelos congregados, especialmente por aqueles que estão sob sua responsabilidade, para que eles conheçam Jesus mais intimamente e cresçam no seu amor: prece cristocêntrica!

Orar para que sejam frutuosas as suas instruções e Jesus abençoe as suas  palavras. Rogar a Maria que implore abundantes graças para os jovens, dispondo-lhes os corações para o bem etc...

Um chefe que não reza pelos seus moços, não é verdadeiro chefe.

O exemplo

Que é o bom exemplo? Não é somente uma ação singular. E* a pregação que faz a pessoa inteira. Em nosso ser Cristo deve tornar-se quase visível. Não totalmente, não em toda a sua grandiosidade e santidade, compreende-se. Somos homens fracos e limitados. Mas deve ser visível em nós alguma coisa da humildade, pureza, piedade, bondade, do amor a Deus e aos homens, das virtudes que Jesus praticou no máximo grau.

Contemplando-se, observando-se (e como se observam mutuamente os jovens!), vendo sua piedade, devoção a Maria, sua paciência e bondade, seu amor à pureza, seu desinteresse, espírito de sacrifício, etc. — vendo estas virtudes, devem vê-las irradiando-se da imagem de Jesus.

Um exemplo: Um Missionário viaja rumo a uma tribo indígena pouco conhecida. Na fronteira da região em que procura entrar, vêm-lhe ao encontro alguns índios, pedindo-lhe que pare e volte para traz. Apresenta-se um guerreiro com um arco, aponta e abate uma ave no voo. Voltando-se para o Missionário, diz: Viste? O nosso Cacique sabe abater assim as aves voando, e sabe ainda muito mais... Um segundo índio apresenta-se e lança o seu machado que à longa distância corta uma árvore, ficando o Missionário espantado de tanta habilidade e força. — Viste? diz o guerreiro: Assim o nosso Cacique sabe ferir seus inimigos, e ... mais ainda ... Um terceiro índio mostra sua capacidade na luta corporal contra outro: com duas ou três manobras põe por terra um inimigo maior e mais musculoso do que ele. Acrescenta também ele: Viste? Assim o nosso Chefe sabe lançar por terra a quem quiser... e sabe-o melhor e mais rapidamente do que eu. Um quarto salta sobre um cavalo e,  correndo em terrível galope, atira flechas sobre certo objeto, sem jamais errar o alvo.

Segue-se um quinto e um sexto, e outros, mostrando todos capacidades portentosas, e explicando ao Missionário: Quanto sabe cada um de nós é uma parcela do que sabe o nosso Chefe. Cada um de nós conhece uma coisa, mas ele as conhece todas juntas e melhor do que nós. Viste uma imagem do nosso Chefe em nós.

Cristo, o Rei supremo, envia seus mensageiros. Entre eles estamos nós. Somos enviados  para falar dele, para manifestar algo das suas grandiosas faculdades e virtudes. Muito mais difíceis e importantes são as qualidades das quais devemos falar ao mundo — a pureza, a bondade, o zelo das almas, a piedade, o sincero amor desinteressado, a obediência, o espírito de sacrifício ... É Ele nosso Mestre. Alguma coisa de suas magníficas qualidades espirituais deve tornar-se visível em nós.

A palavra

Ainda na palavra do chefe deve viver Jesus. Supérfluo é dizer que jamais sua palavra deve servir ao mal, ao pecado, a conversas baixas, a calúnias, à ira e coisas semelhantes. Não, servirá só a Cristo e à sua causa. O Dirigente convidará, encorajará, exortará sempre a todos para que trilhem os caminhos que conduzem a Cristo, com sua palavra explicará a doutrina de Jesus.


3. A FISIONOMIA DO CHEFE NA C. M.

Consideramos a importância do cargo de chefe, especialmente hoje em dia. Vimos também sua essência inteira perguntando: que é ser chefe? E tiramos as consequências. Consideremos agora mais de perto o ofício do chefe. Que tipo de chefe é o que nós queremos formar, qual é a sua fisionomia?

TRÊS QUADROS OBSERVADOS NA VIDA DA C. M.

Primeiro quadro
Recebo um dia uma carta em que o Presidente duma Congregação pede minha visita. Apenas chegado àquela cidade, começam os "chefes" que me acompanham, a queixar-se do seu Padre Diretor. "É muito difícil trabalhar com ele, dizem; tem idéias muito atrasadas. Ultimamente proibiu uma reunião recreativa que estava já toda preparada, sob o pretexto de não lhe termos mostrado antes o programa. Ele quer saber tudo, intrometendo-se até no governo externo da Congregação. É tão rígido que não quer admitir, nem sequer no grupo do teatro, nem nas seções esportivas, congregados que uma vez ou outra faltaram às Comunhões gerais. Declarou uma vez inválida uma decisão da Diretoria ainda que tivesse sido votada por unanimidade... Que fazer? Observa-se em tudo a falta de confiança em nós. Não somos mais crianças; nós todos fomos eleitos legitimamente pelos congregados e podemos, portanto, exigir que também o Pe. Diretor respeite a nossa autoridade. De outra forma, todos os membros da Diretoria estão decididos a demitir-se na primeira ocasião/' Assim falam estes "chefes", e quando dito algumas regras do "Manual" que insistem na obediência dos chefes ao Pe. Diretor, acham esta concepção muito "antiquada".

Segundo quadro
Fui certa vez visitar uma C. M. Estava para começar a Missa oficial da Congregação. O Diretor estava à porta da Sacristia chamando por sinais alguém para ajudar no altar. Após alguma hesitação um rapaz chega à sacristia e sai pouco depois, começando a ajudar. Eu procurava a Congregação, mas só depois de algum tempo consegui distinguir pequenos grupos de jovens, dos quais poucos traziam a "fita"; todos dispersos entre o povo e a maioria nos bancos do fundo. Nenhum canto, nenhuma prece... tudo silencioso.
Só a porta da Igreja batia com ruído sempre renovado: muitos chegaram tarde. No momento da Comunhão havia alguns jovens entre muitas senhoras à mesa eucarística. Após a S. Missa o Diretor expõe o Santíssimo, ajoelha-se sobre os degraus do altar e entoa um canto. Organista, evidentemente, não há. O povo canta muito lentamente.
Entrementes, o coroinha fora preparar o incenso. Volta finalmente e enquanto o sacerdote incensa o Santíssimo, reina silêncio. Depois o Diretor recita uma prece, entoa o Tantum ergo e dá a bênção.
Vai em seguida fazer a reunião num salão vizinho. Um ar que sufoca; abrem-se as janelas; enfileiram-se as cadeiras. Afinal podemos começar. Na mesa da presidência 3 ou 4 jovens de fita põem-se à direita e à esquerda do Diretor.
Este reza uma oração e dá a palavra ao sr. Secretário, que lê a ata da última sessão. Depois, o Pe. Diretor faz uma alocução. São comunicadas algumas notícias... No fim, o Diretor propõe que se cante um hino; mas os congregados não conseguem pôr-se de acordo sobre o cântico a eleger, porque não há nenhum conhecido por todos...
Onde se acham os chefes? Quase o único que fala e organiza é o Pe. Diretor. Parece que nesta C. M. não existe uma Diretoria; os seus membros são quase invisíveis; pelo menos são absolutamente passivos.

Terceiro quadro
Outro dia chego de trem a uma cidade para visitar a C. M. Na estação estão três congregados que me acompanham à Igreja. O Diretor da C. M. está à porta da sacristia. "Acompanharam-no, Sr. Padre?", pergunta. "Sim ...". "Tinha dado seu bilhete ao Presidente. Bem-vindo". Vai ao altar. Um quadro contrário do precedente. Havia tudo: sacristão, ajudantes, organista. Os congregados nos bancos da frente, todos com a fita; um rezava; todos respondiam em coro. Os cantos executados com entusiasmo. Longas fileiras diante da S. Mesa, recolhidos recebiam a S. Comunhão. Não faltava nada. Uma edificação, uma pregação para a paróquia toda. — Em seguida o Diretor pergunta ao Presidente: "Está tudo preparado para a reunião?". "Sim, mas peço que V. Revma. nos espere com o Padre para os acompanharmos"... Vamos para a sala da C. M., diante da porta duas fileiras de jovens que cumprimentam; um pequerrucho recita alguns versos. Entramos todos. A imagem de Nossa Senhora no meio de bandeiras e flores. Na mesa da presidência o Diretor conversa comigo, sem se preocupar muito do programa. O Secretário lê a estatística dos membros e das obras da C. M. Depois se levantam, um após outro, três congregados, — são os chefes das diversas Seções e nos dão breve relação. Igualmente o instrutor dos aspirantes e o Chefe dos moços casados brevemente prestam contas dos seus ofícios. Pergunto ao Diretor sobre o programa, este diz: "Deixei tudo isto ao Presidente; não sei exatamente como se desenrolará o programa". Segue-se uma pequena representação religiosa no teatrinho. À minha pergunta sobre a peça, o Diretor responde rindo: "Também não vi a peça; um dos chefes encarrega-se disto". No fim perguntei: "Quem escolheu os cantos e as orações durante a Missa"? "Os chefes", diz o Padre Diretor. "Oh! se tivesse que pensar em tudo isso, a C. M. seria para mim um peso; estou já tão ocupado"! "E na verdade que é a C. M."? O Diretor reflete: "é a sementeira do apostolado leigo..."
E os chefes? — "Estes formam o meu Estado Maior no apostolado com a juventude. Em cada reunião da Diretoria falamos do calendário do mês e distribuímos o trabalho". E as seções de apostolado? — "Cada Chefe de Seção estuda no princípio de cada ano um programa para a atividade da sua Seção e propõe-no à Diretoria. Depois de ser aprovado, não me ocupo mais dele; o Chefe de Seção realiza-lo-á por sua própria iniciativa, e no fim do ano ler-se-á um relatório, expondo os resultados e também as dificuldades. Os chefes nada fazem de importante sem primeiro falar com a Diretoria ou comigo em particular; durante o ano porém, eles mesmos respondem pela execução. Eu apoio muito a sua autoridade e exijo que os congregados lhes obedeçam, como exijo que os chefes me obedeçam a mim". Parece-me supérfluo perguntar, qual destes quadros nos revela a verdadeira fisionomia da Congregação Mariana.

O PAPEL DOS CHEFES

Repara-se imediatamente que no primeiro quadro os "chefes" não têm nenhuma ideia da estrutura da C. M., nem das regras, nem do ideal mariano que deveriam realizar. Para eles a Congregação Mariana é uma especie de clube em que recreação, esporte e teatro ocupam o primeiro lugar; acham que o Pe. Diretor, é um homem "atrasado", porque, com todo o direito, se opõe a essa orientação errada. Reclamam uma autoridade independente da do Pe. Diretor, negando a este o direito de "intrometer-se" no governo externo.

Provam que nunca leram as regras que tão claramente falam da subordinação dos chefes ao Padre em tudo. O melhor que podem fazer será pedir a sua demissão, e quanto antes! — Eles apresentam aquela caricatura de "chefes" leigos que sucumbem aos perigos típicos da sua posição: Independentes, obstinados, teimosos, superficiais, sem espirito interior, e muito cheios de si mesmos.

No segundo quadro os chefes parecem carregados de defeitos quase contrários: Não têm nenhuma iniciativa, nem verdadeiro interesse pela Congregação. Em lugar de auxiliar ao Pe. Diretor permanecem passivos, obrigando o Sacerdote a fazer tudo sozinho, até as coisas mais simples e exteriores. Este tipo também não conhece as regras que exigem oficiais ativos, interessados, zelosos.

Muito diferente é o terceiro quadro. Eis o tipo genuíno de chefes! Porque é que esta Congregação pode apresentar uma sementeira de apostolado leigo e o Estado Maior das obras entre os jovens? Porque ali se encontram verdadeiros "chefes". E quais são os traços característicos do chefe? Resumimo-los em três atitudes as quais, como veremos em breve, constituem um ideal não muito fácil de realizar.

A . Têm verdadeira autoridade e responsabilidade — mas também são obedientes

1. Têm verdadeira autoridade e responsabilidade

a) Parecerá isto contrário à caraterística das Congregações Marianas; diz-se muitas vezes:
"Nas CC. MM. só o Diretor está revestido duma verdadeira autoridade; vós, os leigos, não tendes mais a fazer do que ouvi-lo e obedecer-lhe" .— Será isto verdade? — Não. Que dizem as regras? Falam claramente de "Oficiais", distinguindo maiores e menores. Falam de seções que são dirigidas pelos próprios leigos. Dizem claramente que os oficiais maiores "constituem o Conselho de governo" da C. M., que eles devem "ajudar ao Pe. Diretor no governo e na administração da Congregação", (.regra ltf), que tomam parte nas reuniões do Conselho "com voto deliberativo" (regra 56), que o Presidente é "como o braço direito do Pe. Diretor" (regra 53) etc.

As regras reconhecem, portanto, a existência de verdadeiros chefes revestidos de autoridade e responsabilidade.

b) Praticamente, como se mostra isto? 
Enumeremos alguns exemplos:
Os chefes podem organizar pessoalmente os programas das reuniões, ocupar-se do controle das obrigações disciplinares dos congregados, visitar e exortar os faltosos; são ordinariamente eles que organizam os programas do trabalho para os diversos grupos e seções; depois de aprovados realizam-nos com verdadeira autoridade e iniciativa, procuram eles mesmos vencer as dificuldades que ocorrem... Em resumo: Sentem-se responsáveis pelo andamento geral da Congregação Mariana.

Numa cidade européia um chefe dizia na reunião da Diretoria: “Peço que me confieis todos os ajudantes de Missa desta Paróquia”. Entregaram-lhos e fez uma obra tão impressionante com estes meninos, que de outras paróquias vinham pessoas para se edificar com o espetáculo de piedade e de ordem apresentado por estes coroinhas.

Acontece, às vezes, que o Pe. Diretor não pode comparecer às reuniões da C. M. Neste caso, os chefes devem ser capazes de tomar a direção da reunião, conforme a maneira de agir do Pe. Diretor. Em tais ocasiões é que se vê se a C. M. dispõe no seu Conselho de chefes que consideram a obra da C. M. como sua e possuem autoridade suficiente para substituir o Pe. Diretor num caso excepcional.

2. Por outra parte devem ser obedientes — (Regras 22, 49, 50)

A regra o diz claramente. Têm uma verdadeira autoridade mas participada da autoridade do Diretor. Antes de executar qualquer obra, devem propor sinceramente os seus planos ao Diretor ou privadamente ou no Conselho. Durante a execução devem observar com toda lealdade as diretrizes dadas pelo Diretor ou pela Diretoria. Depois da execução devem apresentar um relatório sincero e completo do trabalho feito.

Precisamos de chefes que queiram obedecer. Que não sigam sua própria cabeça. Se qualquer proposta, ainda que ótima segundo a sua maneira de ver, não fôr aprovada, devem renunciar a ela; devem saber esperar outra ocasião mais propícia e conveniente, sem se tornarem importunos.

B. Chefes ativos e, apesar disso, homens de intensa vida interior

1. Chefes ativos

Devem ser verdadeiros o^ciais, e num oficio, trabalha-se. Titulares que têm somente o título de “chefes”, não correspondem ao conceito das nossas regras. Homens de iniciativa própria, e com a consciência da responsabilidade! Homens que sabem propor, que refletem nos meios para obter o resultado disto ou daquilo. Que se interessam pelas reuniões, pelas festas, pelas obras de apostolado, etc., na Paróquia ou no meio em que vivem. Não podem descansar nem dar por completa a sua obra de apostolado, enquanto não conquistarem os últimos dos seus companheiros para uma vida católica fervorosa.

Os congregados mexicanos deram magnífico exemplo neste sentido. Nos anos passados, diversos Estados do México permitiram oficialmente apenas a um Sacerdote residir no território do Estado. Por conseguinte, muitas Congregações durante anos passaram quase sem ver um Padre. Sabemos, porém, por meio de relatórios enviados a Roma, que em muitos casos os chefes leigos, em lugar de renunciar a toda atividade da C. M., tomavam-se por isto mesmo mais ativos, substituindo o Padre, na medida do possível, de maneira que as atividades da C. M. não foram interrompidas. Na cidade de Chihuahua, por exemplo, as seções de caridade, o ensino religioso aos operários, as academias, os círculos de estudo, funcionaram como antes com a mesma pontualidade e regularidade e cada domingo os membros da seção catequética ensinavam mais de 500 crianças em 5 lugares diversos.

Que bênção do Céu é ter chefes ativos, zelosos, trabalhadores, que não desanimam diante das dificuldades!

2. Mas homens de vida interior

Seria fechar os olhos a realidade não ver um grande perigo no apostolado moderno, concebendo-o num sentido de demasiada exteriorização, como trabalho puramente técnico e de organização. Todo Sacerdote com um pouco de experiencia reconhece este perigo. Muito facilmente os apóstolos leigos esquecem que o apostolado cristão não é essencialmente outra coisa, do que a irradiação duma personalidade profundamente cristã.

Este perigo é hoje mais atual do que nunca, visto que os objetivos no campo do apostolado são nos nossos tempos imensos, variados e difíceis, e os próprios leigos vivem sobrecarregados de trabalho, proveniente da deficiência de sacerdotes. E, em resumo, não é mais que a realização daquelas palavras do Cardeal Marmaggi: “Os leigos devem levar em si mesmos o Deus que desejam comunicar aos outros''.

Um sacerdote que foi ajudar um Vigário na transformação de um club recreativo em uma obra de apostolado, disse ao Vigário, que desejava distribuir logo vários cargos de responsabilidade: “Não, ainda é cedo; esperemos, que estas moços façam o retiro fechado três anos a fio, que frequentem a Comunhão assiduamente e tomem convicções profundas e práticas da vida cristã”.

A atividade do congregado deve jorrar naturalmente da sua intensa vida espiritual. Retiros fechados, comunhão frequente e mesmo quotidiana, direção espiritual, exercícios de piedade constantes e bem feitos, exames de consciência sinceros, etc.-, são os melhores meios para a formação do apóstolo.

C. Homens capazes e, apesar disso, modestos e humildes

1. Homens capazes

Os chefes devem ser homens que gozam da estima geral, também na sua vida privada e profissional. Por motivos religiosos um congregado que é comerciante deve ser um bom comerciante; si é medico deve ser bom médico, si é empregado bom empregado etc. O congregado tem que se interessar pela sua profissão, mostrar-se zeloso no fazer os exames necessários, ser estimado pelos seus superiores. Suponhamos que se faça um inquérito entre os seus colegas no escritório, trabalho, na universidade, na oficina, no laboratório etc., sobre o que pensam de você, — que dirão? Pelo menos deveriam dizer que você, no lugar do trabalho, está sério, assíduo, bom companheiro, etc.

Os chefes devem mostrar aptidão para dirigir as obras da C. M. Naturalmente não basta a boa vontade para saber dirigir grupos e seções, para organizar festas religiosas, para conquistar novos colegas para a C. M. Por isso os chefes devem formar-se sistematicamente, estudar a bibliografia conveniente, procurar aproveitar das experiências de outras CC. e de outras organizações; devem conhecer bem a doutrina da Igreja, saber responder às objeções contra a Fé. Devem querer aperfeiçoar-se e tomar a sério o seu ofício no qual se querem tornar competentes.

Em Barcelona a C. M. da Imaculada e de S. Luiz mantém 7 Centros escolares, apresentando cada um, um vasto sistema de ensino primário e catequético. Em cada Centro trabalham mais de 30 congregados que todo o domingo ensinam a centenas e centenas de crianças.

São os mesmos marianos encarregados da direção e administração destes “ Centros” que têm cada um seu “ Diretor”, — um verdadeiro Diretor escolar — com Secretaria, com um corpo de professores, que em parte devem ser pagos, com vigilantes, etc.. É uma obra que testemunha não somente o magnífico espirito de sacrifício dos congregados, mas também uma capacidade extraordinária de dirigir e organizar com autoridade e iniciativa. Naturalmente trabalham estes chefes sempre em dependência da Congregação Mariana e do seu Diretor.

2. Ao mesmo tempo: homens modestos e humildes 

Encontrei chefes muito capazes, que se julgavam absolutamente necessários. Eles se faziam rogar muitas vezes antes de aceitar um trabalho; faziam sentir que tudo dependia deles. E quantas vezes ouvi a queixa, de que os nossos apóstolos leigos mostram demais a tendência de pôr-se em evidência, de fazer furor com os próprios discursos, de procurar aplausos etc. Sempre observei que os fiéis e também os não-católicos percebem logo o sentido de semelhantes atitudes. E muitas vezes encontra-se por esta razão uma certa aversão, uma latente oposição ao apostolado leigo.

Tive uma vez uma palestra com universitários católicos, moços piedosos e falamos sobre o apostolado. Estranhei que todos, uns quinze, mostrassem aversão ao apostolado leigo. E a razão? “Não queremos ser objeto de ingênuas tentativas de conversão por parte desses vaidosos apóstolos leigos”. Esta sentença revela aquilo que falta muitas vezes aos leigos, que trabalham no terreno do apostolado: aquele tato, aquela delicadeza, simplicidade, humildade, espirito de sacrifício, que foram as atitudes essenciais de Jesus Cristo em nome do qual eles se apresentam.

Ordinariamente o Diretor encontra com facilidade um congregado que está pronto a fazer um discurso em público, mas quantas vezes deve ele andar à procura de quem o ajude no trabalho duro e quase invisível da preparação duma função religiosa e coisas parecidas. E, em realidade, um apostolado sólido não é realizável sem um trabalho quotidiano e minucioso. Tal trabalho com o tempo torna-se sempre coisa aborrecida.

Pois é necessário renunciar a tempo livre, a recreações, a divertimentos; é precisa fazer visitas desagradáveis e que muitas vezes parecem inúteis. É preciso tolerar desprezo e irrisões, sem porém perder o otimismo. Tudo isso supõe uma virtude sólida, supõe humildade e desinteresse.

Insistimos neste ponto. O perigo de se procurar a si próprio, de satisfazer a própria vaidade, surge quase espontaneamente, sobretudo nos principiantes. Lembro-me que, depois de ter dado um curso para apóstolos leigos e ter feito apelo aos jovens a que mostrassem ao seu Vigário, com um aperto de mão a sua prontidão em ajudá-lo na Paróquia, já o primeiro que se apresentou, dizia solenemente: “Prometo estar à disposição do apostolado leigo na paróquia”, acrescentando espontaneamente: “Como chefe”! Compreendi que aquela mesma noite devia fazer mais uma instrução sobre o essencial do apostolado que consiste não no comandar os seus companheiros, mas em servi-los.

Quem conhece um pouco o caráter especial da C. M., deverá conceder que toda a sua estrutura e todo o seu espírito visa excitar e incutir nos seus membros esta simplicidade, modéstia e humildade. Basta ler as regras dos oficiais da C. M. onde se fala de obediência, modéstia, submissão e disciplina.

Resumindo, devemos confessar que é um ideal muito sublime que as regras desenham do “chefe” na Congregação Mariana. Não seria provavelmente tão difícil realizar um lado da caraterística que expusemos, isto é, formar homens de responsabilidade, ativos e capazes, ou, por outro lado, homens obedientes, de vida interior, modestos e humildes. Mas, a dificuldade consiste precisamente em coordenar estas  atitudes, em tê-las todas juntas, apresentando assim um tipo religioso, rico, amplo e equilibrado.


4. O VALOR DA DEVOÇÃO MARIANA PARA O CHEFE

Eis o ideal do Cavaleiro de Maria: o verdadeiro cavaleiro é forte, viril, corajoso, capaz e ativo; mas, ao mesmo tempo, deve distinguir-se por uma profunda humildade, reverência, delicadeza. Ideal do moço, do homem católico! Ideal da santidade cristã! Cavaleiros de Maria! É um ideal grandioso, o que encaramos.

Oxalá tivéssemos tais chefes em todas as CC. MM. Mas, como alcançar um ideal tão sublime? Um ideal que evidentemente supera as nossas forças humanas, que é tão contrário às nossas paixões ?

Voltemo-nos para Maria. Ela nos conduz a Jesus Cristo. Queremos ser "Cavaleiros de Maria”. E não é em vão que nos chamamos Congregação Mariana. Não é em vão que concluímos um contrato com Maria na nossa admissão na C. M. E Ela que nos aceitou como seus filhos e cavaleiros, não nos deixará sós neste importantíssimo negócio. Volvamos, portanto, os nossos olhos para Maria, nossa Mãe e Guia.

Maria como Mãe

É dever de mãe alimentar os filhos. Mãe nenhuma pode ver os filhos sofrer fome. E Maria é boa Mãe. Como poderia recusar o alimento espiritual, isto é, a graça, a um filho que a ela recorra ?

Peçamos, pois, a Maria a força sobrenatural, a energia que necessitamos para o nosso apostolado. Peçamos-lhe graças abundantes.

A . Em primeiro lugar para nós mesmos

As virtudes de um apóstolo, zelo, reta intenção, prontidão para o sacrifício, etc. não podemos consegui-las com as nossas próprias forças. Deus chamou-nos ao apostolado, atraindo-nos para a Congregação, e certamente está disposto a dar-nos com abundância as graças necessárias, postas desde já, à nossa disposição. Entretanto, Deus nos dá essas graças por intermédio da Santíssima Virgem. Nas bodas de Caná o Senhor nos revelou como nada pode recusar ao pedido de sua Mãe.
Recorramos, pois, a Ela.

Acaso não foi Ela que educou todos os Santos que adornam os altares da Igreja? Não conhecemos um só Santo que não tenha sido grande devoto da Virgem Celeste. Foram-no muito particularmente os grandes apóstolos e fundadores de ordens religiosas, que propagaram a devoção a Nossa Senhora em todas as classes do povo católico; como S. Domingos com o Terço, S. Francisco de Assis, S. Afonso de Ligório, fundador dos PP. Redentoristas, com a sua imagem de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, S. Joio Bosco, fundador dos PP. Salesianos, com a sua devoção a Maria Auxiliadora e tantos outros.

Há certos perigos aos quais está exposto o apóstolo zeloso, tais como exterioridade, desobediência, orgulho, — perigos inerentes ao encargo de apóstolo leigo. É Maria quem nos ajudará a vencê-los.

Rezemos pois: “ Maria, fazei-me um fervoroso apóstolo, ativo e amante da vida interior. Não permitais que me torne um “aes sonans et cymbalum tinniens”, “um metal que soa ou como o címbalo que tine”, — como diz o Apóstolo (1 Cor. 13,1). Fazei de mim um homem de iniciativa, mas ao mesmo tempo obediente. Dai-me um grande respeito pela dignidade sacerdotal. Dai-me sinceridade, simplicidade na colaboração com os Sacerdotes e a convicção de que obra nenhuma florescerá sem a submissão às diretrizes dos escolhidos por Jesus Cristo para Pastores do seu Corpo Místico. Pedi ao Vosso divino Filho a graça de eu cumprir as obrigações inerentes ao meu cargo, para que me torne capaz e competente nos negócios que me são confiados e, ao mesmo tempo, livre do orgulho, tão oposto ao verdadeiro espírito cristão. Fazei-me amigo da modéstia, da simplicidade e da humildade, de modo que o meu único orgulho seja de servir-vos e ao vosso Filho, meu Rei e Salvador”.

B. Em segundo lugar: Para os outros

O Apóstolo leigo necessita de graças para aqueles sobre os quais quer ter influência. Por mais eloquentes e insistentes que sejam as suas exortações, e numerosos os meios de que lança mão para conduzi-los ao bem, — nenhum esfôrço será profícuo, se a graça de Deus não iluminar as inteligências e mover as vontades dos tíbios. Quantas vezes não o experimenta o Sacerdote» O mesmo se dá com o apóstolo leigo.

Certamente devemos fazer tudo o que está ao nosso alcance, não poupando pena e esforço, visitas e boas leituras, palavras e mais palavras.

Mas sempre lembrando-nos de que só Deus com a sua graça fecunda a obra. E quantas vezes não nos faz esperar longo tempo pelo sucesso, para nos ensinar a nossa total dependência!

Disto, que se segue? Que devemos por meio de orações e sacrifícios impetrar de Deus poderosos auxílios sobrenaturais. Nunca deve o apostolo leigo trabalhar com as almas desamparado da graça divina.

Então, a quem nos dirigiremos, para obtermos as graças do Céu? Naturalmente à nossa Mãe celeste. Sendo Ela Mãe de todos também o é dos filhos desviados que vivem afastados de Deus pelo pecado e pela indiferença. O Senhor no-la deu por Mãe e a Ela deu o que sobretudo é próprio da Mãe: o coração materno.

Pouco antes da guerra de 1914 numa cidade européia ensinava filosofia na Universidade um Professor que, embora batizado como católico, ficara completamente ateu e era conhecido pelas suas invectivas contra a Igreja. Toda vez que, por acaso, aparecia um Padre numa aula dele, era certo ouvir uma observação sarcástica do Professor.

Certo dia, um Padre lhe pediu corajosamente contas destas injurias; nasceu uma longa disputa e o Professor foi-se tomando cada vez mais hesitante. Nos
dias seguintes o Sacerdote pode continuar as conversas, mas não conseguiu convencer-se completamente da validade das suas opiniões. Então o Padre, que era Diretor duma Congregação Mariana, dirigiu-se a seus moços, exclamando: — “ Quem de vós tomará parte numa novena a Maria Santíssima para obter a conversão duma pessoa de grande influência?’' Quase todos prometeram participar. Antes de se passarem os nove dias, tocou o telefone na casa do Padre; era o Professor que lhe pedia uma visita. — “Não sei como explicar, disse, mas não me sinto mais tranquilo. Devo começar uma vida nova.” Confessou-se e tornou-se deveras outro homem. Na aula seguinte fez em publico uma declaração da mudança das suas convicções. E desde aquele tempo tornou-se por muitos anos um dos mais zelosos apóstolos leigos entre os estudantes da Universidade.

Apelemos, pois, para o amor materno de Maria. Lembremos-Lhe: "Está em perigo a salvação eterna de um de vossos filhos! São ineficazes todas as minhas palavras e admoestações, se a graça divina não lhe tocar o coração. Vós podeis proporcionar-lhe esta graça porque sois a poderosa Medianeira de todas as graças, a rica Dispensadora dos tesouros da Redenção e o refúgio seguro dos pecadores. Nunca se ouviu dizer que tivésseis rejeitado uma petição filial... ”

O verdadeiro apóstolo leigo sempre reza desta maneira pelos seus amigos e companheiros, faz pequenos sacrifícios nessa intenção e alia a si, nos seus esforços apostólicos, a Maria, Mãe dos pecadores.

MARIA COMO MODELO

Consideramos Nossa Senhora como a descrevem os Evangelistas. As suas caraterísticas não são porventura os mesmos traços que conhecemos como essenciais aos Cavaleiros, aos chefes? Não é Maria o exemplo perfeito da vida interior, da obediência, da modéstia? A devoção a Nossa Senhora é pois especialmente apta para preservar os chefes dos perigos inerentes ao seu
cargo.

A . A vida interior de Maria contrária à perigosíssima exterioridade

Perigo grande e não raro.

Numa C. M. eu observei como o maestro de música dava péssimo exemplo de vida aos congregados; noutra os mais ativos no esporte eram os mais relaxados nas práticas de piedade. Em outras ainda os do grupo do teatro faltavam quase sempre à Comunhão geral. Encontrei Congregações em que as reuniões eram, ia a dizer, miseráveis, enquanto que as Seções recreativas, como esporte, teatro, etc., eram brilhantes. — Eis o perigo da exterioridade!

Maria é-nos um exemplo de vida interior. A Sagrada Escritura assim diz: “Omnis gloria filiae regis ab intus”. Toda a glória, toda a beleza espiritual da Filha do Rei, de Maria, está no interior, no seu coração. Porque Deus a amou e admirou tanto, a ponto de enviar um anjo a saudá-la? Porque Ela é cheia de graça, “gratia plena”, cheia de vida divina, de santidade, de virtude.

É a riqueza interior que Deus elogia. Maria contemplava Jesus, meditava suas palavras, imitava suas ações e sintonizava-se com os seus sentimentos. Eis a vida interior! Todos os pensamentos de Maria concentravam-se em seu Filho.

Ela é a mais “cristocêntrica” de todos os Santos. Nenhum motivo, nenhuma tendência vivia no seu coração que não fosse sobrenatural.

Aprendamos, pois, com ela a apreciar e praticar a vida interior, a oração  recolhida, a meditação, e a intenção reta que encara todas as coisas sempre sob o ponto de vista sobrenatural.

Assim fazendo o Chefe não se assemelha à bananeira cuja força se esgota numa só produção de frutos, precisando brotar nova planta para produzir outros. É esse o símbolo do chefe pobre de vida espiritual. Esgota-se facilmente na sua atividade quem tem falta de vitalidade interior e de reservas espirituais.

O verdadeiro chefe deve assemelhar-se à laranjeira que produz frutos com tanta vitalidade e em tanta abundância que parece inexaurível.

A alma dum chefe sem vida interior e vazia de graças, é como uma terra sem sementes, estéril. A alma do chefe sem oração, é como uma terra sem sol. Como pode haver fertilidade onde não há o calor do contato com Deus, na oração?

B . A obediência de Maria, contrária à independência

Grande é o perigo da independência; principalmente para o chefe que é absorvido pela sua obra, que, identificando-se com os seus projetos, quer realizá-los com todas as forças da sua alma.

Quem trabalha e se dedica completamente à sua obra, sente a tensão entre a iniciativa e a obediência. E encontram-se chefes que renunciam à virtude da obediência, realizando os seus projetos por sua conta, às escondidas do Diretor, obtendo as vezes a aprovação do Sacerdote por meios ilegais. Ser um chefe muito ativo e, ao mesmo tempo, verdadeiramente obediente, supõe uma sólida virtude.

Eis o que sucede as vezes: O chefe tem um plano que ele mesmo acha magnífico; expõe-no ao Pe. Diretor. Entretanto este é de opinião contrária, apoiando-se na sua experiência. Objetivamente é difícil decidir quem tem razão e, ás vezes, a opinião do chefe pode ser mesmo a mais acertada.

Todavia mesmo neste caso, o Diretor permanece Diretor e último responsável; ele deve exigir obediência. — Quem não percebe que o encargo de chefe requer uma grande e sólida virtude? E como consegui-la? — Meditando no exemplo de Maria.

A obediência é uma das caraterísticas de Maria. Um chefe que ama Nossa Senhora e procura imitá-la, não pode deixar de amar esta virtude basta refletir sobre as duas passagens importantes da vida de Maria, a Anunciação e o Gólgota, quando concebe a Jesus e quando O perde. Nesses dois momentos qual é a atitude profunda de Maria? — a renúncia à vontade própria, e a submissão total à vontade divina. Grande exemplo para o chefe!

No momento da Anunciação, observamos que Maria faz a sua pergunta “ Como pode ser isto?” unicamente porque são aparentemente contraditórias as duas expressões da vontade divina: Virgindade (non cognoscere virum) e maternidade (concipies...) . Mas apenas esclarecida a vontade de Deus de tornar ambas as coisas possíveis simultaneamente por um milagre, não lhe escapa uma observação, uma dúvida sequer, mas diz a palavra magnífica de submissão completa à vontade de Deus: “Ecce ancilla Domini...” “ Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo tua palavra”.

No Gólgota, Deus exige de Maria uma obediência heroica, sobre-humana. A mãe assiste à morte do próprio Filho! Jamais se leu na história da humanidade, que fosse exigida, na execução de um condenado, a presença da mãe inocente. Seria uma extrema crueldade! O mais natural é que, no momento da execução, os amigos da família afastem a mãe do lugar sinistro e a preparem com delicadeza para suportar a dolorosa mensagem.

Aqui não. O próprio Deus exige de Maria o heroísmo de presenciar a morte de seu Filho, a todas as suas dores, de ver todas as suas chagas, até mesmo aquela que lhe abriu o Coração. Isso só se pode exigir de uma alma heroica. E de fato, no Calvário, Maria se torna a Rainha dos Mártires. Que exemplo para um chefe, filho e cavaleiro de Maria! Quando a obediência lhe parecer difícil, quanta força encontrará no exemplo de sua celeste Mãe!

C. A humildade e modéstia de Maria, contra o Perigo do orgulho

É grande, mais uma vez, este perigo.

O chefe é distinguido com título e autoridade; tem direito de dar ordens e de exigir obediência (regra 44); está sempre em evidência e ocupa os primeiros lugares; aparece em público e recebe aplausos. Somos homens. E como tais corremos o risco de nos deixar fascinar pelas honras, pelos primeiros lugares. Podem-se ouvir, às vezes, queixas contra tal atitude de chefes, e por isso há Sacerdotes que se recusam a dar aos leigos autoridade e responsabilidade. Ser capaz e todavia não se mostrar como tal, supõe grande virtude!

Mas será impossível obtê-la do coração dos nossos chefes? Parece-me que não, desde que estes se esforcem por ser verdadeiros “Cavaleiros de Maria”, e que haja um cultivo sincero da modéstia e da humildade, aprendida no semblante de Maria Santíssima.

Que modelo de modéstia e de humildade é, de fato, a Santíssima Virgem! Ela é eleita para uma dignidade singular, incomparável. Como são ridículas essas fumaças de grandeza, de capacidade, de honras etc. que encontramos no mundo, diante da dignidade da Mãe de Deus! E Maria tem consciência dessa riqueza: “Eis que já desde agora todas as gerações me chamarão bem-aventurada...”

Maria sabe que está acima de todos os homens.
E a reação? “ (Deus) pôs os olhos na baixeza da sua serva. . . Depôs do trono os poderosos e elevou os humildes..." (Luc. 1,48 ss.).

Lição de humildade para os homens capazes e elevados, eis o Magnificat! E é esta a atitude de Maria durante toda a vida. Está sempre em último lugar e é apenas mencionada na Sagrada Escritura! A mais santa mulher é a mais oculta, a mais modesta. Eis o exemplo de Maria! É essa a melhor escola para os nossos chefes.

Um Dirigente que pensa em Nossa Senhora e seriamente se esforça por imitar o exemplo da Virgem humilde, não pode permanecer orgulhoso, cheio de si, ávido de honras e gratidão; não se pode vangloriar de suas pequenas qualidades, tendo diante dos olhos o exemplo daquela que, possuindo uma dignidade quase infinita, como diz Santo Tomás, é a criatura mais humilde e a mais modesta. Imitando as virtudes de Maria, os nossos chefes realizarão o tipo de homem capaz e simples, que é simpático e apreciado de todos.

O chefe do pessoal de uma importante firma industrial, acertava sempre na escolha de empregados, dentre os muitos que se apresentavam; nunca se saiu mal. Certa vez, perguntando-lhe o Diretor, qual era a sua orientação que tio bons resultados dava, respondeu: “Escolho de preferência os mais modestos.

Já observastes um jogo de futebol ou de tênis?
Os piores jogadores são sempre os mais bem vestidos, os possuidores das raquetes mais caras. Os bons jogadores dispensam tudo isso. Quem não dá tão grande valor à sua pessoa, e me responde com calma, modéstia e firmeza às minhas perguntas sem falar da sua pessoa — é sempre o mais capaz".

A razão é óbvia. Um tal homem não precisa jactar-se, exagerar as suas qualidades, valer-se de meios externos para lhe aumentar a importância, — as qualidades se recomendam por si mesmas.

Na França viveu no fim do século passado um dos mais conhecidos industriais da época, Léon Harmei, que, com energia e excepcional generosidade, pôs em pratica os princípios da doutrina social da Igreja. Foi um homem amado e venerado pelo escol da sua pátria. Num tempo de capitalismo extremado foi exemplo fulgurante para os seus coevos.

O traço mais característico deste apóstolo leigo exemplar foi a sua grande humildade e modéstia. Nas demonstrações da vida católica ou em relatórios sobre suas beneméritas realizações sempre teve o maior cuidado de evitar que aparecesse o seu nome. Os biógrafos relatam que foi habilíssimo em procurar meios de ficar nos bastidores e pôr outros em cena. De modo que em muitas obras boas que iniciou, o publico jamais suspeitou que era ele o autor.

Cavaleiros de Maria! Duas palavras sublimes e de sentido profundo. A primeira nos chama e incentiva às altitudes da grandeza humana, religiosa, cristã. Ser “ Cavaleiro", ser forte, capaz, corajoso e, ao mesmo tempo, respeitoso, nobre, modesto e humilde, — a que ideal maior poderíamos  encaminhar o moço católico? — Mas a beleza longínqua e demais sublime deste ideal torna-se vizinha, quase tangível, se consideramos a segunda palavra: "de Maria". Sim, guiados pela mão materna de Maria, animados e ajudados pelos auxílios sobrenaturais da "Medianeira” poderosa, empenhamos todas as nossas forças, todo nosso idealismo juvenil para realizar este objetivo e tomar-nos, cada vez mais, Cavaleiros de Maria.


EXPLICAÇÕES DAS OBRIGAÇÕES ESPECIAIS

Estas se impõem como consequências das considerações teóricas citadas. Aliás, há muitíssimos simples congregados que as realizam espontaneamente durante anos e anos; de maneira que não é demais exigir estas práticas também dos futuros chefes. (V. os requisitos para o Exame).

1. Saber bem o Catecismo

A Regra Comum 33 diz que o congregado tem que ser “acima de tudo um cristão exemplar, conformando perfeitamente a sua Fé e os seus costumes com o que ensina a S. Igreja Católica”.

Ora, é precisamente o catecismo que contêm o que ensina a S. Igreja. O Catecismo é para a vida cristã o que a tabuada ou o saber ler e escrever para a vida cultural. — Repete-o, pois, talvez junto com um companheiro.

2. Saber explicar, em forma de conversa, a matéria do 1º, 2º e 3º "Opúsculo de formação"

Eis algumas sugestões práticas:

Ler antes de tudo o capítulo correspondente com atenção até compreender perfeitamente o seu conteúdo. Não é preciso saber a matéria de cor; podes explicá-la com o livro na mão. Como a matéria está já apresentada em grande parte em forma de perguntas e respostas, não parece difícil ensiná-la.

Fazer muitas perguntas e dirigi-las sempre a outros. Naturalmente não se trata de suscitar discussões sobre as verdades reveladas, mas as perguntas se formulam por razões de método, para interessar a todos e para obrigá-los a estar atentos a todo momento. Por isso, o ponto de partida será ordinariamente coisa conhecida, e pouco a pouco os moços encontrarão a resposta a perguntas mais difíceis.

Procurar citar exemplos, comparações, pequenos traços pessoais dos teus arredores ou da vida do povo.

Falar sempre duma maneira viva, de modo que os discípulos sigam com interesse as tuas aulas.

Fazer repetir muitas vezes os assuntos já tratados e explicar uma verdade em conexão com a outra.

Será bom cantar um cântico correspondente ao assunto da aula, ler uma poesia etc., por ex.: em homenagem a Maria Santíssima, explicando os Capítulos 2 e 3 do primeiro “Opúsculo”.

3. Conhecer o modo de ajudar à Missa e saber ensiná-lo aos outros

Que honra é o serviço do altar, próprio dos Anjos do Céu! O Rei de Saxônia, homem muito piedoso e congregado mariano, ajudou muitas vezes ao Sacerdote, ajoelhando-se no chão da sua igreja áulica de Dresden. Sendo um grande privilégio o serviço do altar, é preciso não deixá-lo exclusivamente aos meninos; recomenda-se muito o uso difundido em várias Congregações, de ajudarem em dias de festa os membros da Diretoria. É preciso ajudar bem, com toda a atenção e sem falhas.

Para ensinar o serviço do altar é preciso conhecer os defeitos ordinários que os coroinhas cometem. Por exemplo: Comer as sílabas, porte negligente do corpo, olhar para as naves da igreja, deitar mal o vinho e a água no cálice (Lavabo e Ablutio), em vez de o fazer lenta e uniformemente. Informar-se também sobre a maneira da preparação para o serviço do altar. Há paróquias em que os coroinhas se preparam na sacristia, recitando devotamente no genuflexório algumas orações, e fazem o mesmo depois da Missa, para agradecer a Nosso Senhor o beneficio recebido

É muito para recomendar este costume: deve-se insistir em que na Sacristia a preparação para a S. Missa não se faça com risos e tagarelices. Durante as cerimônias o espirito dos moços esteja bem ocupado com atos de oração, que os olhos estejam voltados para o Santíssimo ou para a Cruz, etc.

4. Conhecer o uso do Missal

A Santa Missa, sendo a renovação do Sacrifício do nosso Rei sobre Gólgota, é o Centro de toda a vida católica. (V. “Na Família de Deus”, p. 165 ss). É portanto muito desejável que os congregados não só conheçam o profundo sentido deste mistério, mas entendam também as belíssimas orações e saibam avaliá-las, acompanhando o Sacerdote com o Missal. Muitas Congregações iniciam os seus membros no uso do Missal; naturalmente devem ser os chefes os primeiros a se familiarizarem com o uso deste livro.

Aprende-se facilmente o uso do Missal com a prática, e desistimos aqui de explicações teóricas. Basta saber que cada futuro chefe deve ser capaz de marcar as orações duma Missa ordinária, ou dum Santo ou dum Domingo. — Lembramos a este propósito que o Concilio Plenário Brasileiro celebrado em 1939 baixou alguns decretos com respeito à reza em comum durante a Missa: A Comunidade dos fieis não deve responder ao mesmo tempo e todos juntos ao Sacerdote celebrante.

Proíbe-se que reze em voz alta a “Secreta”, o "Canon” e as palavras da Consagração. (Dec. 199)  Parece supérfluo frisar que as Congregações Marianas obedecerão escrupulosamente a estes decretos.

5. Saber ensinar o comportamento na igreja (água benta, genuflexão, etc)

Observastes alguma vez, como os moços se comportam ordinariamente na igreja? Enumeremos os atos principais dum bom comportamento na igreja: Um devoto sinal da Cruz ao benzer-se com água benta, pedindo o auxilio divino para afastar os maus espíritos que nos tentam; genuflexão com o joelho direito até ao chão, ficando ereta a parte superior do corpo. Não ocupar os bancos posteriores, mas ir para os da frente sem respeito humano; a primeira ocupação na igreja deve ser um ato de Fé e de adoração do nosso Rei ali presente.

Em que parte da S. Missa podem os fiéis sentar-se? (Desde Ofertório até Sanctus, e depois da S. Comunhão até à bênção final). — Que se pode rezar durante a Elevação? (“Meu Senhor e meu Deus”). — Como rezaremos no momento da S. Comunhão? (“Senhor, eu não sou digno... ”)

6. Saber ensinar a rezar em comum

Recordemos que toda oração em comum é uma profissão de Fé. Que toda a paróquia deve edificar-se também com a beleza da oração. A Igreja quer que no culto público atendamos à beleza da forma exterior. Que contraste de orações mal recitadas com os belos paramentos, com a beleza das fórmulas litúrgicas, etc.
Defeitos muitas vezes observados: o entoador está nos primeiros bancos de modo que não se ouve o que recita; deve ao invés estar nas últimas fileiras. Muitas vezes o entoador começa demasiadamente baixo, recita muito rapidamente, etc. Os outros devem continuar no mesmo tom, fazer as pausas bem juntos, não murmurar, mas recitar em voz alta. O entoador dá também o sinal para sentar-se, levantar-se, ficar de pé, ajoelhar, etc.

7. Saber rezar em público, sem fórmula fixa, as orações ordinárias de manhã, de noite e a ação de graças depois da S. Comunhão

Compreende-se que o uso dum livro de piedade é, sem mais, recomendável. Entretanto, como está explicado no 2º “Opúsculo de formação”, é utilíssimo exercitar-se em rezar também livremente, sem livros e sem fórmulas prefixadas.

Uma das finalidades da formação religiosa na Congregação Mariana é precisamente tornar os moços capazes de vencer o mecanismo na oração, fazer-lhes compreender a beleza de uma oração espontânea. Evidentemente os chefes devem estar prontos e aptos a ensinar isto aos outros congregados.

Enumeremos os atos essencialmente requeridos para a respetiva oração.

• Para a oração de manhã: Agradecimento para o novo dia, oferecimento do dia e petição de novas graças para realizar os propósitos.

• A oração da noite contém também três atos: Agradecimento pelos benefícios do dia; exame de consciência; contrição (perfeita) acompanhada do propósito de emenda.

• Para a ação de graças depois da S. Comunhão: Saudação e homenagem a Jesus, agradecimento pela sua vinda a nós e por todas as graças d'Ele recebidas e, afinal, orações para se obterem copiosas graças para o futuro.

Uma instrução minuciosa destas orações se encontra no 2.° “Opúsculo de formação" dos congregados. Não basta saber  recitar estas preces no Exame dos chefes, mas é preciso demonstrar que os pensamentos destas orações sejam verdadeiramente próprios, sentidos e vividos; por isso será necessário repeti-los muitas vezes numa forma sempre nova.

8. Saber falar 5 minutos com uma preparação de alguns minutos

Exigimos isto no Exame não para tornar o nosso futuro chefe imediatamente um grande orador — coisa impossível —, mas para induzi-lo a vencer a timidez e o respeito humano. É claro que um chefe mariano deve ter uma certa facilidade em expor as suas idéias. A oratória é um dos meios principais do apostolado, e a S. Igreja mostra a sua estima para com este meio, obrigando cada aspirante ao  Sacerdócio de fazer especiais Cursos de Eloquência sacra, chamada Homilética. Ora, os nossos congregados e sobretudo os chefes leigos que querem ajudar aos Padres no apostolado, têm muitas vezes ocasião de entusiasmar e instruir os fieis com um discurso.
Aliás, uma certa eloquência contribui muito ao aperfeiçoamento das aulas do catecismo e do ensino religioso em geral. — Para o exercício prático recomendamos escolher no princípio temas simples, como por ex.: dar um relatório sobre uma cerimônia religiosa, ou contar fatos edificantes da vida de congregados exemplares, utilizando por ex. o livro “ Arautos do Divino Rei".

9. Saber ler e contar historietas de um modo atraente 

A razão porque um chefe deve ser capaz de ler e contar em forma atraente historietas, é  óbvia. Trata-se de tornar interessantes as reuniões, aulas de catecismo, instruções religiosas, etc. Cada chefe deve aprender a ser senhor da sua voz. Por isso escolha trechos de historietas ou poesias que apresentem contrastes: depois de um texto a recitar em voz alta, firme e forte, tome  um outro que exige uma voz baixa, suave. Exagere-se isto no princípio para se convencer das grandes possibilidades de expressão da própria voz. Encontra-se rica matéria para tais exercícios do livro citado: “Arautos do Divino Rei”. Estudar bem os “ Opúsculos de formação”, de modo que a matéria seja absolutamente clara. Procurar ocasiões de praticar a  explicação. Frequentar as aulas dos aspirantes e observar como o Instrutor explica a matéria. Observar também os chefes, encarregados do ensino do catecismo e aprender o método. Quanto às orações, é preciso estudá-las, recitá-las frequentemente. Não é somente no 'Exame que as orações devem ser bem
recitadas, mas elas devem ser uma parte integrante da nossa vida religiosa.
Quanto à habilidade expressiva, na arte oratória, recomendamos que os futuros chefes façam juntos seus ensaios.


PREPARAÇÃO PARA O EXAME

O mais importante é a atitude interior do futuro chefe. Somos auxiliares de Jesus. Jesus não precisa de nós. Mas Ele se digna utilizar-se da nossa colaboração.
Por isso devemos ser humildes. É já uma prova de indignidade alguém julgar-se digno de tal cargo. E por esse motivo ninguém pode exigir que um ofício lhe seja conferido. Quando muito, pode oferecer-se e nada mais. Depende do Diretor Sacerdote, a eleição de um chefe. Nem devemos ficar invejosos ou ofender-nos, se um outro é eleito de preferência a nós.

A melhor preparação será meditar e re-meditar aquilo que expusemos acima sobre o ideal do '"Cavaleiro de Maria”, sobre a sua fisionomia e o valor da devoção mariana para a sua formação.

Exercitemo-nos nestas virtudes, principalmente na atitude de servir. Ofereçamos pequenos serviços que tão numerosos se apresentam em cada C. M. Os futuros chefes devem conquistar a confiança do Pe. Diretor e a estima dos companheiros, mostrando-se exemplares na obediência, no zelo apostólico e em toda a sua conduta.

Façamos todo o possível para que a nossa Congregação possua a maior graça que Nosso Senhor nos pode conceder: chefes, que sejam verdadeiros Cavaleiros de Maria!


APÊNDICE

REQUISITOS PARA O SEGUNDO GRAU
I. Condições prévias.
1. Conduta exemplar na C. M.
2. Vida irrepreensível como cristão na família e na vida profissional.
3. Possuir o primeiro grau de chefe e ter desempenhado um cargo na C. M. com bom exito.
II. Conhecimentos teóricos.
1. A estrutura caraterística da C. M., especialmente a posição do Sacerdote e do chefe leigo.
2. As regras da C. M. e o Manual do congregado.
3. O traço caraterístico mariano no semblante do chefe: Vontade de servir.
4. As virtudes necessárias sobretudo hoje em dia: coragem, fortaleza, vontade de conquistar.
III. Obrigações especiais.
1. Comunhão ao menos semanal.
2. Formação do caráter sob a direção de um Padre.
3. Reza diária do Terço.
4. Meditação quotidiana.
IV. Capacidades técnicas e de organização.
1. Conhecer todas as reuniões e iniciativas da C.M. e ser capaz de dirigi-las.
2. Conhecer as obrigações e objetivos de cada oficio na C.M.
3. Conhecer o papel da C.M. na paróquia e no meio profissional.
4. Saber ensinar a matéria dos “Opúsculos de formação”.
5. Conhecer os principais métodos de apostolado.
6. Saber fazer discursos e conferências sobre temas religiosos.


ÍNDICE

Prefácio
És chamado
O método desta formação
Requisitos para o l.° grau de chefes
Explicações das Condições prévias
Explicações dos Conhecimentos teóricos
1 - Porque formação de chefes?
2 - Que significa ser “chefe” na C.M.?
3 - A fisionomia do chefe na C. M.
4 - O valor da devoção mariana para o chefe
Explicações das Obrigações especiais
Explicações das Capacidades técnicas
Preparação para o Exame
Apêndice
Requisitos para o 2.° grau de chefes