GLORIOSAE DOMINAE

Bula Gloriosae Dominae - 1748

A veneração e o culto de Maria, Gloriosa Senhora, Mãe de Deus, está tão recomendada pela vontade expressa de Deus e pelo espírito sempre verdadeiro da Igreja, e tão justo e proveitoso é este culto tributado pelos fiéis à Virgem Santíssima, que nossas exortações apostólicas, encaminhadas a inflamar os corações dos cristãos em religioso afeto até Ela, podem parecer pouco menos que desnecessárias.

Pois assim como Deus Onipotente encheu a esta felicíssima Virgem – escolhida entre milhares e levantada pelo anúncio do Anjo à inefável dignidade de Mãe de Deus – com os dons de sua graça mais abundantemente que a todas as demais criaturas e a adornou com brilhantíssima coroa de glória acima de todas as obras de suas mãos; assim também a Igreja católica, ensinada pelo magistério do Espírito Santo, tem procurado honrá-la com inumeráveis obséquios, como a Mãe de seu Senhor e Redentor, e como a Rainha de céus e terra e se tem interessado por amá-la com afeto e piedade filial, como a Mãe própria amantíssima, recebida como tal dos lábios de seu Esposo moribundo. À sua proteção tem tido sempre por costume acudir, como aporte seguro de salvação, nas públicas calamidades e perturbações, quantas vezes as provocam os poderosos inimigos infernais, e tem proclamado que, especialmente por seu poder, tem sido extinguidas e desfeitas todas as heresias do mundo inteiro.

Porque esta é aquela formosíssima Ester a que amou tanto ao supremo Rei dos Reis que parece a tem feito co-partícipe, não já da metade de seu reino, senão, em certa maneira, de todo seu império e de todo seu poder. Esta é aquela valorosa Judite a que Deus concedeu vitória sobre todos os inimigos da terra. Esta é aquela Advogada nossa ante seu Filho e Filho unigênito de Deus, sempre disposta a falar ante Ele em nosso favor e a quem a Igreja, com o parecer unânime dos Santos Padres, nos exorta a que acudamos com filial confiança em todas nossas necessidades e perigos. Esta é aquela mística Arca da Aliança, na que se executaram os mistérios de nossa Redenção, para que, vendo-a Deus, se lembre desse pacto e não se duvide de suas misericórdias. Ela é como canal celestial do que descendem as correntes das graças divinas aos corações dos mortais. Ela é a porta dourada do céu pela que confiamos entrar algum dia no descanso da eterna bem-aventurança.

Santo Inácio, confessor, que para propagar a maior glória de Deus reforçou a Igreja militante com novas legiões alistadas sobre o estandarte do Santíssimo Nome de Jesus, pensando consigo estas e outras coisas, e prevendo a luta que lhes esperava a ele e a seus soldados na salvação das próprias almas não menos que as de seus próximos, julgou sapientíssimamente que devia buscar uma mui apta defesa na proteção da Bem-aventurada Virgem Maria. Por isto, imediatamente, em quanto saiu da casa paterna, sonhando já então com grandes empresas, e se determinou a empreender esta sagrada milícia, se dirigiu em seguida aos pés da Virgem, e sobre seus auspícios, empreendeu o largo caminho da perfeição. Depois, quando feita a leva de seus companheiros de milícia, estava para lançá-los ao campo de batalha, fez com eles um solene juramento, precisamente na capela da Virgem no Monte dos Mártires de Paris, e ali, sobre esta rocha inabalável, consolidou os primeiros cimentos de seu Instituto.

E o que nele foi habitual, a saber, não propor nem empreender coisa alguma de importância sem antes invocar o nome de Maria, quis que servisse também de ensinamento a todos os seus filhos, e que assim, sobre o patrocínio dela, esperaram a ajuda divina em todas as empresas e trabalhos de sua profissão e que em todos os perigos a que se viram expostos em sua campanhas em prol da religião, ante seus inimigos, acudiram confiados como a refúgio e amparo, a esta Torre de Fortaleza da que pendem mil escudos. E eles, de fato, levando o Nome adorável de Jesus por todas as terras e todos os mares ante reis e nações, não deixaram de anunciar juntamente o dulcíssimo Nome de Maria, e a cada vez que pregavam a luz da fé e a pureza de costumes, propagaram também maravilhosamente em todas as regiões do mundo o culto e o amor à Mãe de Deus.

Uma obra vemos instituída com acerto e sabedoria e por eles (os jesuítas) constantemente realizada; pois ao dizer-se, entre outros ministérios próprios de seu Instituto e utilíssimos à Igreja de Deus, a cultivar e instruir por todas as partes a juventude em virtude e letras, cuidam ao mesmo tempo de agregar essa juventude a piedosas Associações ou Congregações da Santíssima Virgem, Mãe de Deus, e consagrando-a de um modo especial a seu culto e serviço, guiados pela que é Mãe do amor formoso e do conhecimento e do temor de Deus, a ensinam a esforçar-se por alcançar o cume da perfeição cristã, para lograr o verdadeiro fim de sua eterna salvação.

É incrível o imenso proveito que estas piedosas e louváveis Congregações Marianas, dotadas de santas e saudáveis Regras em harmonia com a diferente condição social dos congregados e cultivadas com solicitude e prudente zelo por seus respectivos Diretores, tem produzido em pessoas de todas as classes da Sociedade. Uns, de fato, mantendo-se firmes no caminho da inocência e piedade, que sobre o amparo da Santíssima Virgem haviam empreendido com resolução desde seus ternos anos, mereceram conservar perpetuamente, com notável exemplo e com o fruto da perseverança final, aquele abnegado estado de vida que é a razão observar o homem cristão e servo da Virgem. Outros, vencendo o atrativo dos vícios em que estavam miseravelmente aprisionados, e apartando-se do caminho da iniquidade que haviam iniciado, guardaram depois conduta ajustada, virtuosa e santa, com o auxílio da misericordiosíssima Mãe de Deus, a cujo serviço se tinham consagrado nestas Congregações, e fortalecidos continuamente com as práticas piedosas das mesmas Congregações, perseveraram até o fim felicíssimamente. Outros também, por mercê de sua afetuosa e precoce devoção à Mãe de Deus, se elevaram até os graus mais sublimes do amor divino; e abandonando com fortaleza e magnânimo coração os vão e passageiros bens e deleites deste mundo se retiraram ao mais santo e seguro estado de vida regular, donde, cravados pelos votos religiosas na Cruz de Cristo, se entregaram totalmente a sua própria perfeição e a trabalhar na salvação dos próximos.

Por todo o qual, se vê claramente com quão prudente e saudável acordo Nossos Predecessores os Romanos Pontífices outorgaram seu favor a estas Congregações, já desde o princípio delas, e para fomentá-las e propagá-las, cumularam-se muitos e singulares privilégios e graças a seus Diretores e aos mesmos congregados… Nós mesmos, finalmente, que durante nossa juventude nos contávamos entre os congregados da Congregação da Assunção, ereta na Casa Professa da Companhia de Jesus em Roma, e que com grande susto e consolo espiritual frequentávamos os piedosos exercícios da dita Congregação, julgamos pertencer a Nosso ofício pastoral fomentar e procurar generosamente com Nossa autoridade Apostólica tais Associações de sólida piedade, pelas que se fomenta a cristã virtude e se ajuda à salvação de tantos, como o dizemos pelo Nosso Breve de 14 de abril último, aprovado e confirmando todas as concessões e graças de Nossos Predecessores, e inclusive ampliando-as e estendendo-as.

Estende as Indulgências concedidas à Primária
E agora, para demonstrar mais e mais Nosso afeto, assim a estas piedosas Congregações, em que com proveitosos e louváveis exercícios de piedade se tributa a devida honra a Deus e à Santíssima Virgem, como também a nosso querido filho Francisco Retz, Prepósito Geral da Companhia de Jesus, e aos demais religiosos da mesma Companhia, cujos diligentes e constantes trabalhos para propagar por todo o mundo a integridade e a santidade da fé e unidade católicas, a doutrina e piedade cristãs, juntamente com o Nome Divino e o da Santíssima Virgem Maria, estimamos de grande modo, e aos que professamos singular e paternal afeto pela grande devoção que tem e não cessam de manifestar a Nos e à Santa Sé, queremos confirmar com nossa foro de autoridade Apostólica e também ampliar as concessões e graças precedentes.

Decreta que as Congregações tenham um título primário mariano para lucrá-las
Assim como a Congregação Primária progride pelo caminho da piedade com o título e sobre a proteção da gloriosíssima Mãe de Deus, assim também as demais Congregações que participam ou desejam participar das graças espirituais concedidas à Primária, a fim de que, sob o patrocínio e os auspícios da tão excelsa Virgem aproveitem em seus similares exercícios de piedade, e que nisto de conheça sua união à Congregação Primária, como membros a sua cabeça, julgamos na verdade digno e conveniente decreto estabelecer que, se houvesse alguma Congregação deste gênero nas igrejas, Casas, Colégios e Residências da companhia de Jesus que não tenha título da Bem-aventurada Virgem Maria, senão de algum outro santo, ou de outro gênero, haverá de eleger por Padroeira a Santíssima Virgem Maria com o título de algum Mistério ou festa sua, em união do Padroeiro ou título que antes houver escolhido ou em diante escolher.

Assim poderá a dita Congregação no futuro usar e desfrutar das Indulgências e graças que tem sido concedidas pela Sé Apostólica à dita Congregação Primária a que deseja agregar-se ou está já agregada.

Da assiduidade e da obediência
Porque advertimos e exortamos no Senhor a todos e cada um dos congregados e empregados das Congregações que tratem de acrescentar, com novos méritos de uma total submissão e obediência, aquela tão recomendada, e para seu bem espiritual, tão proveitosa assiduidade e assistência que esperamos haverão de observar a estes piedosos atos de piedade da Congregação. E assim não somente não recusem obedecer com pronta e animada vontade aos mandamentos e conselhos do dito Prepósito Geral e dos particulares diretores designados por ele em todas as coisas que pertencem ao estado e governo das mesmas Congregações, senão que procurem guardar uniformidade nesse particular e cada um anime ao mesmo aos demais.

E assim o dia para ganhar a Indulgência Plenária seja, enquanto seja possível, o mesmo que proponha em cada Congregação seu próprio Diretor.

Da recepção frequente dos Sacramentos
E sendo coisa bastante clara pelo dito anteriormente e por outras inumeráveis manifestações de Nossa vontade, e de Nossos Predecessores, como de coração desejamos que todos os fiéis cristãos e em particular os membros destas Congregações se preocupem em receber frequentemente os Santos Sacramentos da Eucaristia e da Penitência segundo o espírito da Igreja, e colham deles frutos verdadeiros e abundantes.

Da prática da Confissão geral
Desejamos inculcar uma e outra vez aos mesmos congregados um costume utilíssimo e aprovado, a saber: que, assim como se lhes aconselha e muito acertadamente que se prepararem a ingressar na Congregação fazendo um a Confissão geral de toda a vida passada, assim também tratem de assegurar mais e mais sua reconciliação com Deus, a emenda da própria vida e o constante crescimento em todas as virtudes, recordando novamente com dor de coração, uma ou duas vezes ao ano, as culpas cometidas desde a última Confissão Geral ou desde o uso da razão, segundo a orientação de um prudente Diretor; detestando-as novamente com espírito sincero de arrependimento e com firme propósito de emenda e confessando-as a um ministro legítimo da Igreja; para que, renovados assim de tempo em tempo no fundo de sua alma, confirmados e robustecidos continuamente com novas graças e auxílios do céu, levem uma vida digna de seu nome de cristãos e própria de um congregado que se tem consagrado à Virgem; e fortalecidos com a frequente participação dos Divinos Sacramentos, se disponham a abraçar no céu os prêmios que lhes estão prometidos.

Conclusão
Por último, a todos e cada um dos congregados lhes desejamos recomendada com muito encarecimento a fraterna caridade, para que a guardem e exercitem continuamente, não somente com os demais congregados, senão também com todos os fiéis cristãos e, praticando assim sem cessar obras de piedade e misericórdia, ponha sua atenção nos preceitos em que se firma toda a Lei e os Profetas, nunca cessem de alegrar e ajudar a Igreja de Deus.

27 de setembro de 1748

Papa Bento XIV