A IMPORTÂNCIA DO INSTRUTOR NA CONGREGAÇÃO

Em tempos de técnicas de coaching, programação neurolinguística aplicada a grupos, gestão empresarial e empreendedorismo, o termo 'instrutor' pode parecer um pouco desatualizado.

É certo que a figura de um instrutor, em qualquer situação em que se aplique, determina o ofício daquele que instrui, ou seja, transmite a alguém o rudimento técnico de determinada prática.

Esta função perpassa diferentes áreas do conhecimento humano e atualmente seu uso parece estar mais restrito a transmissão de conhecimentos pouco variáveis, esforços limitados e repetitivos, conjunto limitado de práticas que deve ser executada com uma acurácia cada vez mais precisa.

Se, em geral, o termo tem um sentido estrito, na Congregação, que ainda o utiliza cotidianamente, define um dos cargos mais amplos e versáteis, e ainda da mais alta relevância para que uma Congregação possa, por seu próprio empenho e levando em conta as competências individuais, diversificar a gama de trabalhos desenvolvidos pelo grupo.

O bom instrutor, em uma Congregação, diziam os antigos estudiosos sobre o assunto e reforçam os novos, muitas vezes ainda é mais determinante para o sucesso de uma Congregação do que um bom presidente, uma vez que o presidente qualificado é aquele que, conhecendo as qualidades dos membros da Congregação, tem a sensibilidade para direcionar suas forças para determinado ofício desenvolvido em uma Seção ou cargo.

Já o instrutor é aquele responsável por fazer cada congregado tomar consciência dos objetivos da Congregação e 'recheá-lo' de um conteúdo precioso, não apenas ao feitio de acúmulo de informações, mas de modo que se provoque, em cada membro sob sua responsabilidade, uma verdadeira metanoia, ou seja, uma mudança absoluta de rumo, fazendo com que passe de um nível de católico mediano para um outro muito mais elevado, e adote como estilo de vida o Magis, aquele que implica um lançar-se ao trabalho apostólico, movido pelo desejo de servir, não sem antes muni-lo do conhecimento rudimentar da espiritualidade e das técnicas de apostolado em consonância com a identidade própria da Congregação.

Desta forma, enquanto o presidente é aquele que vê as qualidades de cada um, o instrutor é aquele que conduz cada um nas sendas da perfeição, fazendo com que adquiram qualidades, que façam um discernimento vocacional sólido, que aprendam novas competências, que sejam de fato congregados exercendo um verdadeiro magistério, que não se transmite apenas por meio da oratória, mas que segue o princípio de ensinar pelo exemplo.

Dito isto, já é possível compreender que o instrutor deve ser alguém selecionado entre os demais, pois o dever de seu ofício é essencial na vida de uma Congregação. Adiante veremos um pouco sobre o perfil esperado para diferentes cargos de instrução dentro de uma Congregação Mariana.

O PERFIL DOS INSTRUTORES
É difícil lançar o olhar sobre um grupo e dali eleger alguém para desenvolver esta função. Isto porque 'pinçar' um entre os demais é uma maneira artificial de escolha. Em primeiro lugar, se faz necessário afirmar que o instrutor não é fabricado naquilo que tange sua essência, que é o ato de ensinar. Precisamos enxergar esta essência como uma vocação. As principais características de um instrutor são notáveis e não vulgares, daí que nem todos podem ser instrutores de forma plena se não aliarem o conhecimento no fazer com um desejo e uma aptidão pré-existentes. Isto não elimina o fato de que, em muitos lugares, o cargo acaba precisando ser ocupado por alguém mais bem disposto, contudo sem este verdadeiro desejo e alguma aptidão, que pode ser adquirida com a experiência.

O que faz com que categorizemos os requisitos de um instrutor como necessários e desejáveis.

CARACTERÍSTICAS NECESSÁRIAS DO INSTRUTOR

• O Brilho nos olhos - Antes de tudo, aquele que tomará à frente um grupo e o instruirá, precisa não só conhecer a Congregação, mas nutrir por ela um verdadeiro amor. Este amor se nota nos olhos de um instrutor quando ele fala: uma mistura de fogo e água.

Fogo que arde no fundo dos olhos, como os do apaixonado quando desata a falar sobre o objeto da paixão, como a do olhar daquele que quando muito procura encontra algo, como o que conta sobre a mais emocionante aventura de sua vida. Afinal, tudo isso deve ser o que sente o instrutor por sua Congregação. Desta paixão decorre o desejo de fazê-la grande e amada por todos; deste encontro com o que deseja, fazer também dos mais aqueles que procuram encontrá-la; implantar também no coração do outro a busca incessante pela aventura heroica na busca da santidade e o sacrifício apostólico. Sem esta chama, ele pode até conhecer a regra ponto a ponto, não inflamará os demais.

Água porque ao falar do que ama, o instrutor não teme derramar lágrimas de alegria, por durão que seja recobre a superfície dos olhos com uma lamina d'água que os enche de brilho. Ora, o instrutor, quando fala da Congregação, não fala de outra coisa senão daquilo em que projeta sua alma, onde coloca suas esperanças. Da Congregação fala como da casa onde viveu a infância e dos melhores momentos da vida. De Maria fala como da mãe que está no Céu.

Este brilho nos olhos em verdade deveria ser o teste final para qualquer um que desejasse ingressar na Congregação. Sem ele, não vale a pena. Deste modo, não deveria ser tão difícil encontrar esse primeiro e necessário critério em nossas fileiras.

• Conhecimento sobre a Congregação - Ninguém ama aquilo que não conhece. Quando pensamos amar algo que conhecemos superficialmente, somos apenas frívolos. O conhecimento das coisas da Congregação devem ser como o saciar de uma sede. Para ser instrutor, deve-se ser aquele que busca o saber porque isto vem da vontade sincera e não porque alguém está mandando estudar. E a busca pelo conhecimento da Congregação deve ser impulsionada pelo amor a ela. Porque a amo, quero conhecê-la ainda mais; porque a conheço cada vez melhor, passo a amá-la com ainda mais intensidade. Este conhecimento deve ser prévio? Não. O instrutor pode aprender algo minutos antes de instruir o grupo. É válido desde que seja transmitido sem ruídos, sem personalismo e, sobretudo, sem erros. Sem esquecer-se de que esse aprendizado deve ser impulsionado pelo amor, como dissemos acima. Com um bom método de estudo isso se torna possível. O instrutor está sempre aprendendo coisas novas e retendo conhecimentos aprendidos anteriormente e dele lançará mãos durante suas instruções, fará como aquele pai de família que tira de sua bolsa coisas antigas e novas.

O brilho nos olhos e o conhecimento, então, constituem a essência do ofício de instrutor. As outras qualidades são provenientes disto. Abaixo listamos outras características necessárias que encontram sua raiz nas duas essenciais:

• Busca pela santidade - O instrutor deve ser alguém perfeito? Não, mas deve ser alguém que notadamente busca a perfeição desejada pela Regra de Vida e consegue cumprir de modo exemplar tudo o que nela está contido no que tange a seção que trata da espiritualidade e a santificação. Afinal, a palavra comove, mas o exemplo arrasta. Assim, o instrutor deve, antes de outras coisas, ser um bom católico, ter uma verdadeira piedade, ser assíduo aos sacramentos e conformar sua vida ao apelo de Nosso Senhor: sede perfeitos como vosso Pai do Céu é perfeito.

• Cumprimento da Regra de Vida - Um instrutor é aquele que tem uma anuência total e submissão à Regra de Vida. Alguém que conforma perfeitamente aquilo que crê e pratica com aquilo que consta na Regra de Vida. E para segui-la sempre mais perfeitamente, ele revisita cada ponto periodicamente, examina sua consciência cotidianamente para perceber se a está cumprindo e nunca se opõe ao que nela está contido. Trocando em miúdos, o instrutor é uma 'Regra de Vida Ambulante'.

• Sensibilidade pastoral - O instrutor deve ser mestre no trato com as pessoas. Vez ou outra ele deve ser firme para saber se impor diante da Congregação, administrar situações, responder perguntas difíceis, nunca deixar pontas soltas, sempre sanar dúvidas. Mas deve, ao mesmo tempo, ser dócil como um perfeito imitador de Nossa Senhora, ser humilde diante das contrariedades, não deixar com que a importância do cargo que ocupa 'suba à cabeça', fazer-se dos mais o exemplo a ser imitado. Nossa Regra fala sobre a formação espiritual e humana. E como a formação é assunto do instrutor, ele deve, por palavras e por atos, ser uma referência do que o perfeito cumprimento da Regra é capaz de fazer com alguém. Também cabe ao instrutor ser sensível às diversas necessidades formativas do grupo como um todo e de cada indivíduo em particular.

CARACTERÍSTICAS DESEJÁVEIS

• Facilidade para se comunicar e ensinar - Um diferencial que pode ser natural ou aprendido é ter facilidade na comunicação. Isto pode ser um dom ou pode ser adquirido por meio de cursos de oratória ou pela própria prática. Mas é importante que o instrutor não seja 'travado'. Ele deve saber construir o pensamento de modo transmitir seu raciocínio com início, meio e fim, ater-se ao tema proposto da fala, saber como cativar os ouvintes. Afinal de contas, por mais que o público tenha um interesse em aprender, usar ferramentas didáticas auxilia muito no processo de aprendizado e na absorção do conteúdo.

• Ser um congregado experiente - Ser experiente não é ser metido a sabe-tudo e nem ser sempre o dono da razão. A experiência traz exemplos práticos do que se explica, ela confere um colorido ao discurso e a certeza do ouvinte de que isto é possível e não apenas uma 'balela'. O instrutor não fica nunca falando de si mesmo ou contando vantagem, mas sabe usar sua experiência para tornar ainda mais tangíveis as diversas realidades que explica em suas instruções.

OS TIPOS DE INSTRUTORES
Em uma Congregação bem estruturada, raramente se encontrará apenas um instrutor. Isto se dá pela necessidade de criar níveis de formação dentro da Congregação de forma que a instrução será mais bem direcionada de acordo com o estágio em que cada membro se encontra. Em algumas Congregações acontece mais de uma formação simultaneamente, em outras há diferentes dias para cada tipo de formação. Este 'jogo' é definido de acordo com as possibilidades e preferências de cada Congregação em particular. Basicamente, deveríamos dividir os instrutores em, pelo menos, dois grupos: instrutores de novos membros e instrutores gerais:

• O instrutor de novos membros é aquele responsável pela instrução básica daqueles que manifestam o desejo de ingressar no quadro de membros da Congregação. Este tipo de instrutor é tradicionalmente chamado de Mestre de noviços ou instrutor de noviços. Embora não utilizemos mais o termo 'noviço', é comum até hoje encontrarmos Congregações que de forma oficial ou informal chamam o instrutor de novos membros de mestre de noviços. Ele tem por ofício transmitir de forma integral o conteúdo da Regra, de modo que nenhum membro da Congregação Mariana desconheça um ponto se quer daquilo que a rege. E porque este ofício tem uma seara de assuntos mais limitada, o cargo exige um aprofundamento ainda maior nos temas abordados. A Coordenação Regional das Congregações Marianas do Estado de São Paulo, por meio de sua diretoria de formação, estabelece uma ementa mínima de 11 formações para todos os ingressantes, de modo que se garanta que todo o que for admitido ao aspirantado tenha frequentado todas as instruções ou a maior parte delas com o compromisso de reposição das faltantes no menor período de tempo possível. Estas formações podem ser encontradas no aplicativo manualdacm.com. [AQUI]

• O instrutor geral é encarregado de trazer temas diversificados para as formações cotidianas da Congregação. Elas serão sempre escolhidas com base naquele que é o objetivo da Congregação, ou seja, formar para a santificação pessoal, para a santificação do próximo e para que melhor seja vivida a consagração a Nossa Senhora. Daí decorrem diversos assuntos pertinentes. Quanto mais um assunto se afastar do propósito da Congregação, menos próprio ele é para ser abordado nas instruções. Deste modo, encontra lugar nas exposições temas como: a espiritualidade própria da Congregação Mariana - que encontra suas raízes na espiritualidade inaciana, Catecismo, Técnicas de Apostolado, História da Igreja, Mariologia, Liturgia, Teologia, Dogmática, Doutrina, Soterologia, Hagiologia, História da Congregação Mariana, Documentos Magisteriais, Documentos da Congregação Mariana, Artes liberais, filosofia, Liderança, etc. Como se pode ver, o leque de possibilidades de um instrutor é bastante amplo. Nunca se perca de vista, em qualquer instrução, sobre qualquer assunto, de que ela deve ter relevância para os fins da Congregação. Os temas também sempre devem ser vistos à luz da atualidade, para não criar um distanciamento entre a teoria e a prática, o ideal e o real. No manualdacm.com é possível encontrar alguns exemplos de instruções. [AQUI]

ACADEMIAS
Uma maneira de tornar ainda mais fecunda a instrução e incentivar outros membros a tomarem parte no ofício, é a criação de Academias como Seções da Congregação, nas quais se torna possível que um número maior de congregados desenvolvam a prática expositiva. Consiste em organizar palestras, práticas e debates sob a orientação de um instrutor, em que, à maneira de revezamento, um ou mais congregados conduzam, de cada vez, temas para um grupo (para uma banca avaliadora, ou para toda a Congregação, ou para um público mais amplo) que por vezes pode interagir com o expositor durante ou ao final das colocações, com perguntas, complementos, fazendo, desta forma, com que a Congregação tenha um lugar para ser laboratório de estudos. Este costume existe desde as origens da Congregação Mariana e é uma das práticas mais salutares no âmbito instrutivo, propiciando tanto ao que expõem quanto aos ouvintes uma aquisição de conhecimentos que dificilmente se encontraria em outros ambientes.

Muito mais poderia ser dito sobre o belo ofício de instrução na Congregação Mariana e certamente será feito em tempo oportuno. 'De Mariam nunquam satis': de tudo o que concerne a Maria nunca se dirá o bastante. Sendo tal ofício um desejo do Coração de Maria em suas Congregações, dificilmente se dirá tudo. Ou 'De instrutionem nunquam satis'.

Bruno Arena
Diretor de Formação da Coordenação Regional das Congregações Marianas do Estado de são Paulo. Artigo escrito a pedido do diretor de Consultoria e Projetos da Confederação Nacional das Congregações Marianas do Brasil, Reinaldo Alves Santos.